Herança alemã
Casa enxaimel de 1935 é um dos poucos exemplares do estilo em Brusque
Escondida no fim da SP-006 – uma rua estreita e cercada de muito verde – está uma das poucas casas sobreviventes do estilo enxaimel no bairro São Pedro.
A casa, localizada em um grande terreno, pertence à família Fischer. Foi construída para ser o lar do casal Vicente Fischer e Magdalena Pettermann Fischer, em 1935, após se casarem em 27 de abril daquele ano.
Descendente de alemães, Vicente foi tecelão da Buettner; Magdalena, dona de casa. Da união dos dois nasceram cinco filhos: três meninos e duas meninas. A mais nova, Esmeralda Fischer Hörner, 63 anos, é quem mantém a pequena e encantadora casa preservada entre a arquitetura moderna que a rodeia.
“Nesta casa nasceram cinco filhos. Todos ali dentro, ninguém no hospital. Tivemos uma infância simples, mas nunca nos faltou nada. Sempre quando olho pra lá, me vem boas lembranças daquela época”, conta Esmeralda, que mora ao lado da casa em estilo germânico.
O casal Fischer viveu feliz na casa por 57 anos. Em 1992, Magdalena faleceu com 81 anos, e em 1995, Vicente, com 82 anos, deixou a casinha enxaimel vazia. “Eu casei e fui morar em uma casa ao lado. Fiquei cuidando deles até falecerem. Quando meu pai morreu, meus irmãos acharam por bem que eu herdasse a casa, já que eu cuidei deles por tanto tempo”, diz.
A DECISÃO DE PRESERVAR
Alguns anos após a morte dos pais, Esmeralda decidiu desmanchar a casa em que vivia e construir outra maior, no terreno ao lado. A demolição da casa enxaimel também estava nos planos.
“Tinha mais cinco casas iguais a ela aqui perto. Todas pertencentes aos cinco irmãos do meu pai. Então pensamos em demolir para limpar o terreno”, afirma.
O que fez Esmeralda mudar de ideia foi um pedido do filho, Douglas, então com 20 anos. “Naquela época ele me questionou: ‘vocês têm mesmo necessidade, vão arrancar a casa do meu avô?’ Eu respondi que sim, mas ele disse que não, falou que nós iríamos restaurar a casa”, lembra.
Esmeralda atendeu o desejo do filho. A casa permanece embelezando o terreno no fim daquela rua e, em 2010, passou por uma grande reforma. “O forro que era de madeira foi substituído por PVC. Ela foi reformada, mas sua estrutura continua a mesma. A única
diferença é que da segunda janela para trás foi construído mais um quarto”, diz.
Foram gastos quase R$ 60 mil na restauração. O filho, que foi fundamental para a manutenção da casa, foi quem bancou a reforma. “As telhas foram todas substituídas. Veio um pessoal de Pomerode tirar a medida e fazer as telhas iguais às originais. E assim ela permanece até hoje. A única que sobreviveu, devido ao cuidado e à restauração”.
Douglas morou na casa que ajudou a preservar por cinco anos, até janeiro de 2013. Com a saída, ela ficou fechada até abril deste ano. “Antes de o meu filho morar lá, aluguei para uma família de Ponta Grossa, no Paraná, que ficou ali por oito anos. Neste ano, uma família do Rio de Janeiro passou a morar na casa. Essa também é uma forma que encontrei de preservá-la”.
EXEMPLAR FIEL
A casa do bairro São Pedro segue os padrões do enxaimel existente na Alemanha. Ela foi toda moldada na madeira e, só depois, foram acrescentados os tijolos. “Naquela época não tinha cimento, apenas barro e areia. A casa é toda encaixada, não tem pregos, por isso é chamada enxaimel”, explica Esmeralda.
Originalmente, a casa possuía um sótão, onde eram os quartos dos meninos. Em 1981 ela passou pela primeira reforma e, então, o espaço deixou de existir. “Meu pai achou melhor tirar o sótão e colocar um forro”, lembra.
A sala é o maior cômodo. Os outros foram projetados com pouco espaço. “Os quartos são minúsculos porque antigamente tínhamos somente um roupeiro de duas portas e uma cama, não tinha nada disso que temos hoje”.
COBIÇADA
Mesmo escondida, a casinha enxaimel chama a atenção de quem passa pelo local. “Tem a placa indicando a Vila Germânica na rua São Pedro, mas a minha é o único exemplar que resta. Quando as pessoas passam pela rua principal, na maioria das vezes, não conseguem perceber a casa. Só quando se está de carona, prestando muito a atenção, é possível ver”.
Constantemente, Esmeralda é questionada sobre a origem da casa e já recebeu propostas de compra. “Quem passa por aqui fica encantado. Muitos até perguntam se não está à venda. Já vieram pessoas que compram casas para tirar do lugar e montar em sítios, fizeram propostas, mas não penso em vender ou demolir, nem meu filho”.
É ali, naquela pequena rua, distante poucos quilômetros do Centro, que permanece conservado um exemplo da colonização de Brusque, tornando ainda mais perceptível a forte influência alemã exercida, principalmente, nesta região da cidade.
Passados alguns anos, Esmeralda se orgulha por ter feito a vontade do filho e conservado a casinha que faz parte não só de sua história, mas também da história de muitos brusquenses. Se depender dela, a octogenária casa enxaimel continuará embelezando aquele pedacinho do bairro São Pedro por muitos e muitos anos.
“Eu agradeço todos os dias meu filho por ele ter essa noção de preservar. Ele fez a gente ver que isso é algo muito importante”.