História de fundação: Parte II
A escolha da sede da Colônia
O serviço de reconhecimento da futura colônia levou alguns dias. Dr. Cottle optou pela confluência do Ribeirão Águas Claras com o Rio Itajaí Mirim, um local provisório, até novas descobertas. O motivo era o de acesso ao rio. Logo acima situavam-se as primeiras corredeiras do Itajaí Mirim. O local tinha o inconveniente de estar sujeito as enchentes no período das chuvas.
Providências administrativas
Presidente da Província de Santa Catarina, Adolfo de Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda oficiou ao diretor da colônia Itajahy, Maximilian von Schneéburg, em 11 de fevereiro de 1867 e determinou: “fazendo-lhe esta comunicação, tenho por fim recomendar-lhe que preste a esses novos imigrantes todo o auxílio de que carecerem em sua passagem por esta Colônia e que estiverem ao seu alcance. Durante a demora deles ali, deve V. S. por à disposição do Dr. Cottle todas as casas destinadas ao recolhimento de colonos e as que por ventura forem ainda necessárias e se puderem obter, bem como emprestar-lhe 12 espingardas com as competentes munições e para a condução e cargas, os animais pertencentes a essa diretoria. A sua experiência do clima dessa região ter-lhe-á feito mais, as moléstias que mais frequentemente acometem os colonos ali recém-chegados. Dando ao referido Dr. Cottle as necessárias informações a respeito, V. S. lhe fornecerá da botica do estabelecimento quantidade suficiente dos medicamentos apropriados para combater tais enfermidades, remetendo-me deles uma relação.
Aos referidos engenheiros e agrimensor, deverá igualmente prestar as facilidades para o desempenho da comissão de que se acham encarregados. Em uma palavra, cumpre que os novos colonos encontrem ali e por parte dessa diretoria, todo o auxílio de que carecem e que V. S. puder proporcionar-lhes. Do seu zelo, espero que dará fiel cumprimento. A tudo quanto lhe recomendo neste ofício. Deus guarde a V. S.”
Conflitos étnicos
Não bastassem os trabalhos de reconhecimento do território e a construção do barracão coletivo, os conflitos entre os imigrantes de língua alemã e os de língua inglesa se fizeram sentir.
Os imigrantes chegados para povoarem e desenvolverem a Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro, na sua maioria era solteira, com passagem pelos Estados Unidos. Haviam trabalhado lá como agricultores, mecânicos ou construtores das ferrovias para o oeste.
Em 24 de fevereiro de 1867, na taverna de um alemão, alguns irlandeses beberam demais e passaram a discutir entre si e depois com os demais colonos. Vindo a seguir a agressão. O Barão von Schneéburg relata: “sendo pelos irlandeses atacados os colonos alemães e os brasileiros presentes, dando socos e bordoadas e só a muito custo se pode reter os agredidos para evitar que corresse sangue”.
Dr. Cottle ficou sabendo do ocorrido ao retornar dos seus trabalhos de campo e não relutou em buscar culpados. A investigação e a punição encerrou com a expulsão de mais de uma dezena de irlandeses.
Relata o escritor Aloisius Lauth que “a notícia foi parar nos ouvidos do Delegado de Polícia da Vila do Santíssimo Sacramento de Itajaí, que tratou de informar a Presidência da Província”. Dr. Cottle tentou, inicialmente, abafar o caso, mas logo os jornais deram a manchete.
A Presidência desgostou-se da situação e alertou ao Dr. Cottle: “Embora não deixe de aprovar o seu ato e esteja convencido de que o motivo assaz forte o terá arbitrado, devo todavia observar-lhe só em última extremidade convirá expelir os imigrantes, pois, como sabe V. S., o governo tem feito com eles despesas que serão perdidas se não for possível contê-los nos seus estabelecimentos coloniais, para onde são envidados”.
Dr. Cottle deu resposta em ofício de 27 de fevereiro de 1867, convencido dos motivos que o levaram a expulsar alguns irlandeses: “Sua má conduta e péssimos hábitos se tornavam inconvenientes e ao mesmo tempo, perigo para o novo núcleo que se trata de estabelecer”.
“Corrida do Ouro”
Os nossos imigrantes de língua inglesa da Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro foram contemporâneos da “corrida do ouro” na Califórnia, nos Estados Unidos, e em Victoria, na Austrália.
As notícias da exploração do ouro na nossa região são citadas pelo historiador Ayres Gevaerd (in Ouro no vale do Rio Itajaí Mirim, in NVS, nº. 14, abr/mai/jun/ 1980, p. 26-29). Franz Sallenthien (que emigrara da colônia do Dr. Blumenau e se estabelecera em Águas Claras no ano de 1852) fundou, em 28 de março de 1856, uma Sociedade para a exploração do ouro, dirigida por um californiano. A região ficaria conhecida por Ribeirão do Ouro. A extração do ouro era semelhante ao praticado na Califórnia. Com a venda da propriedade a Pedro José Werner, a empresa fracassou.
Antes de Sallenthien, na década de 1840, os irmãos norte-americanos August e Leweson Leslie, após naufragarem na costa catarinense, percorreram o rio acima na procura do ouro, cujo resultado afirmaram ter sido compensador. Após narrar sua história ao jornal Novidades, publicado em Itajaí, de propriedade da família Konder, Leweson Leslie, apelidado de ‘Seu Lessa’, faleceu com idade avançada em 1909, em Ilhota. Como seu irmão August Leslie retornou aos Estados Unidos, suspeita-se que ele possa ter lá difundido a notícia de que haveria ouro em nossa região.
Cottle sucede Schneéburg
Tendo como território a margem esquerda de Brusque e Guabiruba, a partir de 12 de abril de 1867 o dr. Barzillai Cottle passou a administrar também a colônia Itajahy, sucedendo o barão austríaco Maximilian von Schneéburg.
Em ofício dirigido a presidência da província de Santa Catarina, Cottle informou “não falar nem entender a língua alemã”. Era previsível o insucesso de um diretor inglês administrando, além da sua colônia, uma colônia de alemães. E o conflito não tardou a surgir.
Em 11 de julho de 1867, dr. Barzillai requer a construção de uma sub-delegacia de polícia, que serviria a colônia inglesa e a colônia alemã, sendo criada em 19 de agosto do mesmo ano.
Ainda em 1867, padre Alberto Gattone registra o primeiro casamento na Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro: Miguel O’Connel e Sara Genly, naturais da Irlanda. Tiveram como padrinhos Carlos Galangher e Anthony Wooley.
Em 1867 também é registrado o nascimento de Margareth, em 19 de dezembro. Filha de Alexandre e Elisa Norrison, é batizada pelo pastor Anton Sandreczki, em 9 de abril do ano seguinte.
Casamento na Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro
“Georg Franklin August Hutten, filho de James Hutten e Elisabetha Hantz Hutten, nascido a 19 de agosto de 1839 em Harrisburg, Pensilvânia, Estados Unidos, casou-se no dia 29 de dezembro de 1867 com a viúva Susanna Wilson, nascida Dawson, filha de Jorge H. Dawson e Margareta Dawson, nascida a 13 de março de 1835 em Belfast, Irlanda. Residiam na Colônia Príncipe Dom Pedro, em Águas Claras”. Do Livro Tombo da Paróquia Evangélica de Confissão Luterana de Brusque (pesquisa efetuada pelo advogado Nilo Sérgio Krieger).
Paulo Vendelino Kons, 47, é o presidente da Comissão Organizadora da celebração do sesquicentenário de fundação da Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro