História do Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, de Azambuja, completa 90 anos

Local reúne maior coleção de arte sacra do estado

História do Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, de Azambuja, completa 90 anos

Local reúne maior coleção de arte sacra do estado

Em março de 1933 começou a história, pelo que se sabe, do primeiro museu de Brusque. O Museu Arquidiocesano Dom Joaquim, de Azambuja, surgiu como importante centro histórico, tanto para a Arquidiocese de Florianópolis, como para a região do Vale do Itajaí e para todo o estado de Santa Catarina.

Quando surgiu, o museu foi criado para auxiliar na formação do clero. O padre Eder Claudio Celva, estudioso do assunto, destaca que quando foi adquirido o acervo inicial do museu, o seminário estava se estruturando em todas as dimensões da formação sacerdotal. O Museu foi suporte para a formação histórica, cultural, artística e científica. Naquele mesmo ano, em 1933, foi aberto também um curso superior de Filosofia em Azambuja.

“Os seminários deveriam ser aparelhados ao máximo para que os seminaristas tivessem uma formação abrangente, alcançando as várias áreas das ciências. Ainda, por coincidência, o seminário seria inspecionado naquele ano pelo visitador apostólico. O objetivo era conferir se as exigências da Santa Sé estavam todas sendo cumpridas e se estava garantida a boa formação dos seminaristas. Era ver se o seminário tinha condições para funcionar e formar bem o clero. Na visita eram recomendadas as mudanças que se fizessem necessárias para se atingirem os objetivos propostos”, relata.

O acervo inicial

Após a morte do itajaiense João Marques Brandão, a família decidiu negociar seu acervo particular. Desta forma, ofereceu ao Museu Arquidiocesano em troca do custeio dos estudos de um dos filhos, Alcino Marques Brandão.

A negociação foi feita com algumas condições: dar ao museu o nome do falecido, celebrar missa em sua homenagem, pagar à Mitra Arquidiocesana a pensão do Seminário Maior e custear os estudos de Alcino. No caso de ele deixar o seminário, porém, haveria um valor a se pagar mensalmente, correspondente ao tempo que passaria até concluir os cursos.

“O contrato foi firmado pelo reitor, Padre Jaime de Barros Câmara, que conhecia o acervo desde quando seminarista, pois, passando por Itajaí, não deixava de visitá-lo, quando ainda pertencia a Joca Brandão. Considerando as cláusulas, o valor era considerável, pois não só implicava a gratuidade dos estudos e pensionato no seminário beneficiado pela coleção, mas incluía integralidade de pensão em transferência para outro seminário, até Alcino ordenar-se padre. Caso isso não se verificasse, haveria um ressarcimento mensal à família Brandão”, conta padre Eder. “O fato de o seminário assumir esses custos demonstra o quanto personalidades do clero, em todos os tempos, valorizaram as questões históricas e culturais”, completa.

O museu foi conhecido como Joca Brandão até 1943, quando passou a ser denominado Museu Episcopal.

Importância da cultura e da memória

Os principais estimuladores do museu foram os padres João Reitz e Bernardo Peters. Eles foram até Itajaí buscar o acervo para o museu no dia 17 de março de 1933. “Eles se formaram em Roma, sabiam da importância dos museus eclesiásticos para a formação sacerdotal e, por isso, foram incansáveis na organização do museu trazido de Itajaí e na orientação dos estudantes de Filosofia”.

Para os padres João e Bernardo era essencial que os jovens valorizassem a cultura da memória e da história do cristianismo “O museu eclesiástico, além de ser um “lugar eclesial” é, também um “lugar territorial”, porque a fé se incultura em cada um dos ambientes”.

Museu Arquidiocesano em 1952 Acervo Particular | Foto: Érico Zendron

Papel essencial do padre Raulino Reitz

Padre Raulino Reitz foi importante para enriquecer o museu com achados, aquisições e intercâmbios. Padre Eder destaca que ele foi providencial “para que a instituição cultural pudesse crescer e ser valorizada”. Em 1947, por exemplo, ele realizou uma doação de coleções de mineralogia e etnologia.

“Se antes o museu tinha em seu acervo peças variadas de todos os gêneros, foi por esse trabalho do padre Raulino que o museu acrescentou ao seu acervo peças de cunho religioso, litúrgico e sacro. O museu diocesano passou a cumprir a peculiar tarefa de ser o depositário, de forma organizada, de bens culturais e de nossa igreja particular. Ele conseguiu formar um dos mais ricos acervos de arte sacra popular do Sul do Brasil”.

Além disso, ao desocupar o prédio antigo do seminário para o atual, em 1959, o padre Reitz providenciou que o antigo prédio do seminário fosse destinado integralmente para museu.

“Dom Joaquim, que era um homem de cultura histórica, dispôs que o prédio do antigo seminário tivesse essa nobre e por vezes incompreendida finalidade. Fez ainda mais: enviou circular a todos os vigários, para que recolhessem e remetessem ou entregassem ao museu objetos considerados valiosos, em desuso nas suas igrejas”.

Padre José Artulino Besen, no catálogo “Museu Arquidiocesano Dom Joaquim – 50 anos”, publicado em 2010, conta que a receptividade do pedido de Dom Joaquim foi grande na arquidiocese. “Salvou-se a história religiosa dos imigrantes alemães e italianos. Imagens, oratórios, altares, que poderiam ter desaparecido foram salvos pela coragem do padre Raulino”.

Já em 1960, ano do centenário de Brusque, foi incluída na programação de aniversário a inauguração do museu no prédio atual, em 3 de agosto.

“Esteve presente o então governador do estado, Heriberto Hülse, que descerrou a placa comemorativa, enquanto era entoado o hino do centenário de Brusque, tendo a fita inaugural sido cortada por Dom Joaquim Domingues de Oliveira, que abençoou as dependências do atual prédio, iniciando-se, em seguida, a visitação dos presentes ao museu”. Apenas no primeiro ano de funcionamento, 15.711 pessoas passaram pelo museu.

Abertura do museu para o público foi realizada no ano do centenário de Brusque | Foto: Acervo Museu Casa de Brusque

Dias atuais

O museu, além de um extenso acervo de arte sacra, também retrata a história de Santa Catarina, com utensílios domésticos, ferramentas de marcenaria, cozinha dos imigrantes, máquinas da antiga indústria da tecelagem, objetos da cultura indígena, armas antigas, animais taxidermizados, entre outros.

O museu de Azambuja é eclesiástico (Arquidiocese de Florianópolis), geralmente administrado pelo reitor do Seminário ou pelo pároco do Santuário. O acervo conta com imagens devocionais de santos, esculturas em diversos estilos, como barroco, rococó e neoclássico, relicários, candelabros, casulas, cetros, além de pinturas, como a grande tela de Rucentini, adquirida em Roma, em 1927, e doada ao museu pelo Arcebispo Dom Joaquim.

Ainda a velha tela de Nossa Senhora, venerada em Azambuja pelos imigrantes italianos, e também telas de H.Graf, pintadas quando internado no hospício que funcionou em Azambuja de 1902 a 1941.

Pintor retratando cardeal, obra de Rucentini, adquirida em Roma em 1927 e doada ao museu pelo arcebispo Dom Joaquim | Foto: Bruno da Silva/O Município

Atualmente, o museu é da igreja católica, ligado ao educandário Nossa Senhora de Lourdes, funcionando como uma espécie de filial de acordo com o estatuto do seminário, mas tem vida própria.

Diretor do museu, o padre José Henrique Gazaniga conta que o museu passa por dificuldades para angariar recursos e divulgar um pouco mais a riqueza que contém. A grande maioria dos visitantes são estudantes das escolas da região, que contam com uma visita guiada e uma aula com um professor no museu e têm isenção para as entradas.

“Mantemos ele com recursos da Fundação Cultural para manutenção. A visitação não cobre praticamente nada das despesas. Não abrimos sábado e domingo, quando há mais turistas, porque não temos como manter funcionários. Dependemos do convênio, que não cobre todas as nossas despesas. Estamos inclusive pedindo um reajuste. Enfrentamos dificuldades logísticas e de manutenção por questões financeiros”, conta.

Administração do museu busca meios de aumentar investimentos | Foto: Bruno da Silva/O Município

Neste ano, a Fundação Cultural contratou um museólogo, que está fazendo um plano para o Museu Arquidiocesano. “Estamos com esperanças de que vá melhorar. Precisamos de um plano museológico para concorrer em editais de governos estadual e federal para angariar recursos”.

O museu funciona atualmente de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h e 13h30 às 18h. A entrada custa R$ 10 e a meia, R$ 5.


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