História em muitas mãos: paróquia São Luís Gonzaga celebra 150 anos em Brusque
Dividida em 12 comunidades, paróquia marca vidas de muitos fiéis ao longo do tempo
Há 150 anos, no dia 31 de julho de 1873, era criada a paróquia São Luís Gonzaga em Brusque, na época ainda colônia de Itajahy. A freguesia foi fundada por meio da lei provincial de número 693.
Nesta segunda-feira, além de comemorar o aniversário da paróquia, é completado o ano jubilar de celebração do sesquicentenário. O pároco atual, Diomar Romaniv, ressalta que todo o momento celebrativo teve o objetivo de resgatar as memórias, as graças e as bênçãos na paróquia.
Ele detalha que, ao pensar o projeto de 150 anos, a organização refletiu que algumas celebrações especiais não seriam o suficiente para contar toda a história da paróquia. Então, foi definido realizar um ano jubilar, iniciado em 31 de julho de 2022.
“Foi um ano de celebração, reflexão, de atividades próprias e iniciativas externas. Isso foi para recordarmos as pessoas, a história e o bem que a igreja fez, isso também no desenvolvimento da cidade”, comenta. “É uma marca religiosa. A fé do povo sempre foi impregnada, é uma tradição que passa de família em família, que vem desde a imigração”, ressalta.
O segundo elemento abordado no ano jubilar, conforme o pároco, foi o sentimento de pertencimento da comunidade. “Sentimos que as pessoas se sentem em casa. Que a paróquia é uma extensão das casas das pessoas, que forma outra grande família: a família cristã, que é o sonho de Jesus. O valor da fraternidade e da convivência é muito forte”, continua.
O pároco explica que a sensação de pertencimento é expresso nas participações das missas e no comprometimento com todas as ações de evangelização. São devotos fiéis que estão presentes todos os domingos ou sábados, inclusive sentados nos mesmos bancos.
“Não é só participar, mas ajudar. Temos um número enorme de pessoas envolvidas, como mais de 300 catequistas e mais de 200 coroinhas na paróquia, além de quase 200 ministros. Só na festa na igreja matriz tivemos mais e 150 pessoas trabalhando, são números bastante expressivos de muito comprometimento”, conta.
Além disso, Diomar destaca nomes marcantes, como os dos padre Flávio Morelli, do bispo emérito Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger e do padre Adilson Colombi, que está há mais tempo servindo a paróquia.
Segundo o pároco, o terceiro elemento é a participação da paróquia na sociedade. “Na formação integral que tivemos, a parceria com o colégio [São Luiz], o convento [Sagrado Coração de Jesus], os hospitais, a Unifebe… tudo isso eram braços da igreja, que depois foi cedendo para outras instituições ou grupos administrarem. Muito do que a cidade hoje é, é graças a formação que as igrejas católica e luterana, que está aí há 160 anos, contribuíram com a sociedade. Ajudaram o povo a se desenvolver”, completa.
Comunidades e novas paróquias
Hoje, a paróquia São Luís Gonzaga envolve, no total, 12 comunidades: a igreja matriz, no Centro; Cristo Rei, no bairro São Luiz; Nossa Senhora Aparecida, no Steffen; Nossa Senhora de Fátima, no Jardim Maluche; Nossa Senhora de Lourdes, no São Pedro; Sagrado Coração de Jesus, no Guarani; Santa Paulina, no Souza Cruz; Santa Rita de Cássia, no Santa Rita; Santo Antônio, no Volta Grande; São Francisco de Assis, na localidade Cerâmica Reis; São João Batista, no Bateas; e São José, no Primeiro de Maio.
Além disso, São Luís Gonzaga é a “paróquia mãe” das outras paróquias de Brusque: Azambuja, no bairro de mesmo nome; Santa Catarina, no Dom Joaquim; São Judas Tadeu, no Águas Claras; e Santa Teresinha. Além delas, já pertenceram à paróquia no passado as atuais paróquias São José, em Botuverá, que resultou na paróquia São Sebastião, em Vidal Ramos; São Virgílio, em Nova Trento; e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Guabiruba. A paróquia São João Batista, no município de mesmo nome, esteve anexa à São Luís Gonzaga de 1899 até 1902.
“A medida em que os bairros de Brusque foram crescendo e os desafios foram aumentando na evangelização, fomos nos desmembrando e criando novas paróquias”, explica o pároco.
Igreja matriz
Antes mesmo da criação da paróquia, em 9 de junho de 1861 a colonia Itajahy recebeu a primeira visita eclesiástica, que veio da paróquia São Pedro Apóstolo, de Gaspar. O padre Francisco Maximiliano Alberto Gattone ficou durante sete dias com os colonos.
Naquele ano, o primeiro templo católico da colônia foi construído, onde hoje é Guabiruba. A estrutura foi denominada Mariahülfskapelle.
Em sequência, uma igreja feita de madeira foi inaugurada, aproximadamente onde se localiza a atual matriz de Brusque, em 1866. A estrutura é considerada a primeira igreja matriz da paróquia São Luís Gonzaga.
Com o tempo, a estrutura se deteriorou e precisou ser interditada. A situação foi relatada no livro Catolicismo em Brusque, de autoria do padre Eloy Dorvalino Koch. “[A igreja] Servia muito bem. Contudo, certo domingo, durante a santa missa, deu-se um “krach” descomunal, a igreja sofreu forte abalo, ameaçando desabar. Causou grande pânico. Os fiéis se precipitaram para fora pelas portas e janelas”, detalha.
Um novo templo precisava ser construído e, em 21 de junho de 1874, foi feita a bênção da pedra fundamental da segunda igreja matriz da paróquia. Em 1877, ela foi inaugurada.
A estrutura, que apresentava um projeto gótico, passou por transformações ao longo dos anos. Até que, na década de 1950, foi decidida pela sua demolição para a construção de um novo templo.
Ainda segundo o padre Eloy, em 23 de abril de 1953, um sábado, foi transferida a imagem do padroeiro São Luis Gonzaga da igreja matriz à antiga Casa São José, que ficava onde hoje é localizada a galeria. “Essa última função religiosa na velha igreja foi emocionante”.
Na celebração, foi cantado o canto sacro “Deus Eterno a Vós louvor”. Ao órgão, estava o padre Eloy. “Ao sair a procissão da igreja, foi entoado um hino a São Luiz. Houve mesmo os que não conseguiram reprimir as lágrimas”. Após isso, a igreja foi demolida.
Templo atual
Em 24 de abril de 1955, foi feita a bênção da pedra fundamental da terceira igreja matriz. Na celebração, estava a brusquense Maria Juçá Bolsoni, hoje com 74. Ela, que tinha apenas 6 anos, participou da missa com os pais Genésio Bolsoni e Albertina Rocha Bolsoni.
Maria detalha que, na fundação da igreja, participaram 23 meninas da sociedade de Brusque, que bateram na pedra fundamental com os martelos de prata e de ouro. “A festa foi muito bonita, toda a população participou. Foram muitos dias de festas inesquecíveis. Isso resultou na construção maravilhosa que é hoje”, conta.
Com projeto realizado pelo arquiteto alemão Gottfried Böhm, a estrutura começou a ser construída. Na época, o contador Antônio Cervi, de 89 anos, foi convidado para ser tesoureiro na comissão construtora da nova igreja, presidida por Guilherme Renaux.
Apesar dos padres estarem presentes na administração, Antônio destaca que o grupo tinha autoridade na parte financeira e na execução do projeto. A ideia era finalizar as obras até o centenário de Brusque, o que não aconteceu.
“Eu lembro que foi feita uma estrutura toda de madeira para colocar os quatro sinos. À meia-noite de 4 de agosto de 1960 tocaram todos os sinos das igrejas, dos católicos e luteranos, e as fábricas buzinaram. Foi algo muito bonito”, recorda.
Um dos maiores pontos turísticos da cidade, a imponente estrutura foi inaugurada em 17 de junho de 1962. Naquele ano, a catedral começou a receber as celebrações. “A primeira vez que entrei aqui fiquei emocionada, pois participei de todo o trabalho de angariar dinheiro, pois ajudávamos com rifas. Foi uma emoção inigualável. A igreja abençoou muito a cidade de Brusque e as pessoas têm muita fé em São Luís Gonzaga”, completa Maria.
Histórias conectadas pelo coração
A história da paróquia São Luís Gonzaga perpassa três séculos. Neste tempo, muitas vidas passaram pelas estruturas da comunidade e muitas histórias foram marcadas pela atuação paroquial.
Para a brusquense Maria Teresinha Ramos Krieger Merico, de 86 anos, essa história começou ainda na infância, quando ela participava das missas com os pais.
Ao longo da juventude, Maria Teresinha foi cruzadinha, filha de Maria, e assumiu outras funções. Segundo ela, aos 17 anos, o padre Luiz Gonzaga Steiner a inseriu nos trabalhos da paróquia.
A conexão de Mirian Dell Agnolo, 61, começou com o batismo, realizado na igreja matriz. “É uma vivência de amor muito grande com a nossa paróquia. Aqui fiz a catequese e a Primeira Comunhão, como também os meus três filhos fizeram”, conta.
Para Mirian, a conexão maior começou com a catequese. Ela já havia sido catequista, aos 17, na comunidade Santa Rita. Após se casar, ela se afastou da catequese, mas não da igreja. Porém, retornou para a catequese e passou a participar muito mais das atividades da paróquia.
Ao relembrar momentos marcantes, Maria Teresinha ressalta que amava participar da Procissão de Encontro, que ocorria anualmente no Domingo de Ramos. Ela explica que, nesta procissão, os homens saíam com a imagem de Jesus Cristo e as mulheres com a de Nossa Senhora, que estão expostas atualmente na igreja. “Era uma procissão muito bonita e comovente”, diz.
De outra geração, Mirian lembra de ter participado da procissão quando tinha uns 7 anos, na década de 1960. A atividade deixou de acontecer nesta época. “Lembro que era uma procissão belíssima. No final, as imagens eram levadas ao recinto da igreja”, complementa.
“O que ela se refere é o porão, a gente não se conformava com isso”, aponta Maria Teresinha. “Mas a igreja ficou pronta e as imagens foram guardadas no porão. Elas subiam para as cerimônias da Semana Santa, depois desciam novamente. Até os coroinhas brincavam de se esconder atrás das imagens, e isso irritava as pessoas mais antigas”, continua, com humor.
Imagens recuperadas
Maria Teresinha recorda que Alaíde Cavalca movimentou a recuperação das imagens, que se deterioravam no porão. “Em 2008, conversamos com o padre Ari Erthal, pároco da época, e falamos que faríamos uma reunião para recuperar as imagens. Ele disse: façam, vão me contando, mas eu não posso assumir dívidas. A igreja não estava numa boa condição financeira”, detalha.
Mirian aponta que, no período, ocorria as movimentações para a reforma litúrgica, feita em 2010, com o projeto do Cláudio Pastro, que fez a ornamentação final.
Após a reunião, as imagens deveriam ser levadas para cima. Maria Teresinha relata que foi realizada uma procissão, numa quarta-feira de cinzas. Também, foi combinado que os santos deveriam ter roupas novas, feitas de veludo alemão.
“Caríssimas, pois este tipo de tecido não existia mais por aqui, pois não era mais importado. Então, se determinou impressão de envelopes de doação, com carimbo da secretaria. As amigas nossas, e as mulheres da paróquia que quisessem, levavam os envelopes para casa. Os maridos, os filhos e vizinhos colocavam o dinheiro e o envelope era entregue na secretaria. Foi tudo muito bem organizado”, conta.
E as soluções surgiram. No caso do veludo do Senhor dos Passos, Maria Teresinha aponta que Gladis Helena Carneiro encontrou a cor apropriada em Salvador (BA). “As voluntárias da Liga Santa Isabel doaram a renda para o manto da Nossa Senhora das Dores. Assim foi, sucessivamente”, continua.
Maria Teresinha ressalta que Madalena Benchaya, da Arte Sacra Paramentos, confeccionou os trajes. “Suas funcionárias fizeram questão de trabalhar fora do horário, como doação”, detalha.
Outra situação foi que o grupo solicitou fazer uma coroa de prata. “E agora, José? Não tínhamos mais dinheiro. Nisso, a imagem estava lá de pé e pronta par ser apresentada ao público, sem coroa. Aí veio correndo um rapaz da Kohler Joalheria dizendo que ela estava pronta. Perguntei da nota e ele me respondeu que na joalheria não costumavam cobrar da Nossa Senhora”, relembra.
Então, chegou um dia que não se tinha mais dinheiro para vestir Jesus. “Foram chegando doações e nós pagamos todas as dívidas”.
Conforme Maria Teresinha, a dificuldade em confeccionar uma coroa de espinho para o Senhor dos Passos foi superada pela nora dela, Mileny Merico, que trouxe uma de Jerusalém.
Movimentos na paróquia
Mirian destaca o movimento do coração dela foi o Apostolado da Oração. Segundo ela, é o movimento mais antigo da paróquia, fundado em 1897.
A devota conta que a ação foi por muito tempo conhecida como “movimentos as velhas”, pois não entravam pessoas jovens. “Eles achavam que o Apostolado da Oração era só para as pessoas idosas que já não tinham o que fazer na vida, que viviam para rezar e participar da igreja. Isso, de uns tempos para cá, mudou bastante e temos muitos jovens participantes e casais.
Conforme Mirian, o auge de celebração foi na comemoração do Centenário, em agosto de 1997, quando 4,5 mil pessoas participaram. “Foi um dia espetacular, poderia dizer. Haviam tendas no lado de fora, pois não cabiam todos na igreja. Com café da manhã e almoço, para todo esse povo. Tudo fluiu de uma forma natural, nos horários, muitos padres participando daquela missa que foi belíssima”, recorda.
Naquele dia, segundo Mirian, foi feita uma encenação da aparição a Nossa Senhora de Fátima aos três pastorinhos com as crianças da catequese. “Foi um momento bem emocionante e muito bonito”, recorda. Ela acredita que este tenha disso o maior evento em número e pessoas na paróquia São Luís Gonzaga.
Aconchego
A vivência na paróquia São Luís Gonzaga aquece os corações de Mirian e Maria Teresinha. “Eu tenho uma sensação muito grande de aconchego com a nossa paróquia. É um sentimento de que a igreja é mãe, não só como uma frase textual, mas como sentimento real. Aqui me sinto em casa, tanto participando das missas quanto de algum movimento”, relata Mirian
“A paróquia é a luz que nos guia, é uma estrela para todos seguirem. Para mim, ela tem uma importância indescritível. Por todas as famílias. A paróquia São Luís Gonzaga sempre foi muito carinhosa, alegre e festiva”, continua Maria Teresinha.
“Essa associação é feita porque nossas histórias têm continuidade na igreja. Nossos pais e mães já atuavam aqui. Então, quando você participa, você acaba envolvendo a família, trazendo filhos ou irmãos, para viver a mesma história que a gente vive e dar continuidade as histórias que eles, nossos pais, iniciaram”, finaliza Mirian.
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