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Histórico: reportagem sobre emancipação de Botuverá é escrita em bergamasco, dialeto em extinção

Texto foi traduzido pelo chefe da Divisão de Cultura de Botuverá, Pedro Bonomini

Em comemoração aos 62 anos de Botuverá, o jornal O Município produziu uma reportagem que conta a história da emancipação político-administrativa da cidade. O texto foi traduzido para o dialeto bergamasco, uma “língua local” em extinção cultivada até os dias atuais no município.

A primeira versão da reportagem está escrita em português. Logo abaixo, consta a versão em bergamasco. Confira:

Por Thiago Facchini

O interesse e o incentivo dos moradores do distrito de Porto Franco, somado ao apoio de um vereador, foram fatores importantes para a criação do município de Botuverá. Em 9 de junho de 1962, há 62 anos, o distrito tornou-se uma cidade, quando Porto Franco foi oficialmente emancipado.

O chefe da Divisão de Cultura de Botuverá, Pedro Bonomini, parente dos intendentes do distrito antes da emancipação, conta que a tentativa de transformar Porto Franco em município começou a partir de uma disputa entre cunhados.

O primeiro intendente, nomeado em 1945, foi Adão Bonomini. Ele permaneceu no cargo até 1952, quando foi substituído pelo cunhado Augusto Angelo Maestri. Pedro afirma que o filho de Adão, Evido Bonomini, ficou descontente com a saída do pai e iniciou um movimento de emancipação.

“Foi feito um abaixo-assinado, em 1961, e enviado para a Câmara de Brusque. No entanto, naquele ano, o projeto de emancipação foi rejeitado”, afirma Pedro. Era necessário que a maioria dos vereadores decidisse emancipar o distrito.

Primeiro coral de Botuverá, formado por imigrantes. Foto: Arquivo histórico

No ano seguinte, um grupo de pessoas alavancou a ideia de Evido. No entanto, elas não tinham proximidade com o filho de Adão Bonomini. Assim, sob novo comando, agora com apoio do padre Francisco Robl, o Chiquinho, iniciou-se mais um movimento que visava a emancipação.

Vereador articula criação de Botuverá

Um dos vereadores de Brusque que mobilizou a criação do município de Botuverá foi Carlos Boos. Havia um interesse político. O parlamentar era ligado a Guabiruba, município que, na época, assim como Botuverá, ainda não havia sido emancipado.

A mobilização para desmembrar os territórios de Guabiruba e Botuverá foi realizada de forma conjunta. Inclusive, Guabiruba foi emancipado em 10 de junho de 1962, um dia depois de Botuverá.

Centro de Botuverá antigamente. Foto: Arquivo da Prefeitura de Botuverá

O livro Eleições em Brusque, escrito por Danilo Moritz, Celso Westrupp e Ciro Francisco Imhof, traz os bastidores da época em que a Câmara de Brusque discutia a possibilidade de desmembrar duas partes do território da cidade para criação de outros dois municípios.

Consta na obra que o processo de emancipação partiu de uma estratégia política. A UDN e o PSD disputavam as eleições à Prefeitura de Brusque nos anos anteriores à emancipação. Os udenistas queriam vencer a disputa eleitoral, mas o cenário era desfavorável. Assim, optaram pela estratégia de lançar Carlos Boos como candidato a prefeito por outro partido.

A intenção de um terceiro candidato na disputa, que não fosse nem da UDN e nem da aliança PTB/PSD, era buscar votos em regiões em que os pessedistas tinham mais apoio. Assim, Carlos Boos concorreu pelo PRP em uma campanha financiada pela UDN. O acordo com o vereador era que, caso os udenistas vencessem, Guabiruba seria emancipada.

A estratégia funcionou. O udenista Cyro Gevaerd foi eleito prefeito de Brusque com 39,67% dos votos. Francisco Dall’Igna, o doutor Chico, teve 36,83%. Carlos Boos terminou com 23,50% dos votos. A resolução para emancipação de Botuverá e Guabiruba viria a ser aprovada em 1962.

Igreja matriz de Botuverá. Foto: Arquivo da Prefeitura de Botuverá

A aprovação foi encaminhada à Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), sob intermediação do deputado Raul Schaefer. Assim, no dia 7 de maio de 1962, foi homologada a criação de Botuverá. Zeno Belli foi nomeado prefeito provisório.

“Ficam criados, de conformidade com a resolução nº 238, de 28 de abril de 1962, da Câmara Municipal de Brusque, os municípios de Guabiruba e Botuverá, desmembrados do município de Brusque”, consta na lei 821.

Resultado apertado

De acordo com informações do arquivo do jornal O Município, votaram favorável à criação das cidades os vereadores Ingo Arlindo Renaux, Godo Stark, Francisco Dall’Igna e Egon Krieger. Foram contrários Orlando Munich, Pedro Morelli, Alexandre Merico, Arsênio Wippel e Arthur Jachovicz.

A votação terminou 5 a 5. A reportagem não conseguiu informações sobre o quinto vereador que votou favorável à emancipação. Em razão do empate, o presidente da Câmara, João Batista Martins, teve a responsabilidade de decidir se Porto Franco viraria uma cidade ou não. O voto de Martins foi favorável.

“A notícia da criação dos municípios de Guabiruba e Botuverá espalhou-se rapidamente na mesma noite, provocando os mais diversos e contraditórios comentários”, consta na edição do jornal O Município seguinte à criação das novas cidades.

Na instalação do município em 9 de junho, o jornal O Município publicou a matéria “Botuverá vive os regozijos de novo município”. A instalação aconteceu às 16h. Em seguida, foi celebrada uma missa de ação de graças. Um jantar ocorreu naquela noite e as autoridades discursaram.

Botuverá atualmente. Foto: Tiago Schumacher/Especial

Para Pedro Bonomini, o mérito pela dedicação na emancipação deve-se a Evido Bonomini e Chiquinho Robl. Ele argumenta que os dois incentivaram as mobilizações que resultaram na criação de Botuverá e, por isso, merecem destaque.

“Acredito que a ‘coroa de louros’ do mérito deveria ser dada, pela ideia, ao Evido Bonomini. Mesmo que a ideia não tenha sido concretizada por ele, foi ele quem teve iniciativa. Depois, quem encampou o movimento foi o padre Chiquinho Robl”, avalia Pedro.

Zeno Belli, prefeito interino do município, deixou o cargo quando ocorreu a primeira eleição da cidade. Sebastião Tomio teve 510 votos e foi eleito prefeito de Botuverá. Érico Maestri e Dionízio Pedrini disputaram a vaga, mas não se elegeram.

Por Thiago Facchini, traduzido para bergamasco por Pedro Bonomini

Al interès e la iöta dei muradur del distrit de Porto Franc, con la iöta d’an vereadur, iè stacc fatur importancc per la criaciù del município de Botuverá. Nel 9 de giögn del 1962, a 62 agn adrè, al distrit al sa turnat na cità, quanda Porto Franc le stacc oficialment emancipat.

Al capo dela Cultura de Botuverá, Pedro Bonomini, parènt dei intendènc del distrit, anprima dela emancipaciù, al cünta che’l moiment per la emancipaciù, al ga cumenciàt con la questiù ‘tra cünhacc.

Al prim intendent nomeàt nel 1945 lè stàcc Adão Bonomini. Lè stàcc sö ‘nfina ‘l 1952 quanda ghè nàcc sö sò cünhàt Augusto Angelo Maestri. Pedro al ga dic che Evido Bonomini, fiöl de Adão, al sa mia confurmàt e agn dòpo al ga ‘nvàt fò ‘n muiment per crià al municipio de Botuverá.

“Al ga facc an ‘baixo-assinado’ nel 1961 e ‘l la mandat a la Camera dei Vereadur de Brusque, però, nela ocasiù, i ga mia aprovat la emancipaciù”. Nel an adré, otre persune, püsé cuntra che a faur del fiöl de Adão, i ga tocàt inancc la sò idea e con la iöta anca dal pret Francisco Robl i ga’nviacc fò amò al muimènt per la emancipaciù.

Npès anprima dela emancipaciù, Botuverá ‘l ga riceìt migrancc talià. Ritrat: Archivio storico

Vereadur ‘l sa ‘mpegna per crià ‘l municipio de Botuverá

Ü dei vereadur de Brusque impegnàt per la criaciù de Botuverá lè stacc Carlos Boos de Guabiruba, anca lü co’l interès politico de emancipà la sò Guabiruba.

L’impègn per al desmembrament de Botuverá e de Guabiruba le ‘stacc facc ansèma. Tanto lè che Botuverá le stacc instalàt nel de 9 de giögn e Guabiruba nel 10 de giögn del 1962, an dé dopo de Botuverá.

Localià de Ribeirão do Ouro a Botuverá, antigament. Ritrat: Archivio storico

Al leber “Eleições em Brusque”, scriit per Danilo Moritz, Celso Westrupp e Ciro Francisco Imhof, al da l”intent del temp che la Camera de Brusque la stüdiàa la possibilità de fa la desmembraciù de do part del sò territore per crià otre du municipio.

Al só leber al diz che’l procès de l’emancipaciù le’stacc an plan politico. La UDN e’l PSD i disputàa le leciù a la Prefeitura de Brusque agn ‘nprima dela emancipaciù. Chèi dela UDN i öria incer le leciù, ma töt dizia che nò. Alura i ga mès Carlos Boos comè candidat a prefeito ne l’otre partit.

La intenciù de mèt an tèrs candidat nela leciù che’l fös gna dela UDN e gna dela alianza PTB/PSD, lira ciapà i letur del PSD nei sò reduto.

Isèta Carlos Boos lè nacc per ‘l PRP, financiàt per ‘l UDN. Al combinàt con lü lira che se i udenista i guadegnesse, Guabiruba la saria emancipada.

Al plan al ga dacc giöst. L’udenista Cyro Gevaerd ‘l ga guadegnàt comè prefeito con 39,67% dei voto. Francisco Dall’Igna al ga facc 36,83% e Carlos Boos 23,50%. La resoluciù per l’emancipaciù de Botuverá e Guabiruba la saria aprovada nel 1962.

Ca dela prima Prefeitura de Botuverá. Ritrat: Archivio dela Prefeitura de Botuverá

La provaciù le stacia mandada a la Assembleia Legislativa da Santa Catarina per meso del deputado Raul Schaefer. Alora nel 7 de magio del 1962 lè stacia homologada la criaciù de Botuverá. Zeno Belli lè stacc nomeàt prefeito provisore.

“Iè stacc criàcc, confurma la resoluciù 238 del 28 de pril del 1962, dela Camera Municipal de Brusque, i município de Botuverá e Guabiruba, desmembracc del municipio de Brusque”, Lè cusè la diz la lege 821.

Apuraciù apertada

Confurma l’informaciù dei archivio del giornal O Município, ghè votat a faùr dela criaciù dele do cità, i vereadur Ingo Arlindo Renaux, Godo Stark, Francisco Dall’Igna e Egon Krieger. Cuntra: Orlando Munich, Pedro Morelli, Alexandre Merico, Arsênio Wippel e Arthur Jachovicz.

La votaciù lè stacia ‘npatada 5 x 5. La redaciù la ga mia truat al nom de lültem vereadur che ga vutar a faùr l’ emancipaciù. Alura al president dela Camera João Batista Martins al ga it la responsabilità de di de se ou de nó per crià al municipio de Botuverá. Al ga dicc de se.

“La nöticia de la criaciù dei du municipio la ga facc prèst a spalhas e chèi d’al cuntra i ga parlàt a le sò oie”, Lè cusè dizia a giornal O Município al de adrè.

Nela instalaciù del municipio nel 9 de giögn, al giornal O Município al ga publicat: “Botuverá fa jùbilo per la sò emancipaciù”. La solenità le stacia facia a le 16 hore e dopo ia ga fac la celebraqiù dela Santa Messa de ringraciament. Sö la séra na buna sena andoè le autorità i ga facc i sò pronunciamenc.

Centro de Botuverá, ancó. Ritrat: Tiago Schumacher

Per Pedro Bonomini, part de mèret dela emancipaciù büsogna dàguela a Evido Bonomini e al pret Francisco Robl. Al prim al ga comenciàt al muiment e l’otre al ga dacc andament com la iöta de otre persune dela comunità. Botuverá al sa emancipàt, a lur al mèret.

“Credo che la corona dei loro del mèret büsögna che la sie data a Evido, perchè le stacc lü che’l la nviada fó. Lü al ga mia ürtàt a fernila ma chei che ga ciapàt la sò idea e i la tocada inanc i ga ürtàt a cùmprela”.

Zeno Belli, prefeito provisore del municipio al ga lassat al cargo quanda ghe nacc sö Sebastião Tomio, elegit con 510 voto. Cuntra lü ga pers Érico Maestri e Dionisio Pedrini.


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