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Hospital Azambuja anuncia restrição a atendimento pelo SUS, se prefeitura não reajustar contrato

Convênio vence no dia 31 de outubro; se a administração municipal não reajustar, serviços no pronto-socorro serão reduzidos

Em coletiva de imprensa realizada na tarde desta quinta-feira, 26, o administrador do Hospital Azambuja, Fabiano Amorim, anunciou que se a Prefeitura de Brusque não negociar um reajuste no pagamento dos serviços prestados pelo hospital via Sistema Único de Saúde (SUS), o contrato que vence na próxima terça-feira, 31, não será renovado.

Caso isso se confirme, a partir desta data o hospital só atenderá urgência e emergência, ou seja, somente os pacientes que chegam ao local de ambulância.

A unidade hospitalar está pedindo um reajuste de 14,8%, que é a correção da inflação desde 2015, ano em que foi repassado o último reajuste para o Azambuja.

A direção do hospital também se mostrou chateada com a postura da prefeitura em convocar coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira, sem ter comunicado o hospital e sem ter aberto negociação sobre o reajuste.

“Diversas vezes ligamos para informar do vencimento do contrato”, diz o administrador do hospital, Fabiano Amorim. Ele afirma que o contrato já foi prorrogado por três vezes com a atual gestão, sem qualquer reajuste, e a promessa de rever a posição, feita pelo governo, não foi cumprida.

Ele diz que, por isso, mais nenhuma prorrogação de contrato será aceita. Segundo o administrador, o hospital até aceita receber um reajuste parcelado, de 4% agora, mais 3% daqui alguns meses, e assim por diante. Porém, nem isso foi proposto pela prefeitura.

Atendimentos e prejuízos do hospital

Neste ano, até setembro, foram 64 mil atendimentos no pronto-socorro do hospital, uma média de 7 mil mensais, um aumento de cerca de 18% em relação ao ano passado.

Atualmente, segundo o administrador, os R$ 514 mil mensais que o hospital recebe da prefeitura para os plantões e sobreaviso dos médicos não são suficientes, já que o hospital gasta, em média, 704 mil. Na prática, diz, a instituição tem que cobrir essa diferença com recursos próprios.

Além disso, afirma, há outros custos que não são cobertos pelos repasses da prefeitura, como medicamentos, laboratório, etc. “O hospital tem um prejuízo de R$ 200 mil só para manter o pronto-socorro aberto”.

Ele cita, ainda, que o valor repassado pela prefeitura é considerado baixo, em comparação aos demais hospitais da região. O Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, por exemplo, custa R$ 5 milhões mensais, segundo Amorim. Desse valor, R$ 4 milhões são bancados por recursos próprios da prefeitura.

Amorim também contesta a informação divulgada pela prefeitura de que a instituição recebe R$ 617 mil de repasses fixos. Segundo ele, este é um recurso do governo federal, carimbado para o hospital por meio de portarias específicas do SUS.

“Se tirar esse dinheiro do Azambuja, não fica no caixa da prefeitura, volta para o governo federal”, afirma. Além, disso, conforme o administrador, há R$ 1,9 milhão em atraso de recursos públicos a serem repassados.

Para ele, o governo não pode dar desculpas para não reajustar o contrato. “A prefeitura tem que buscar, sejam recursos estaduais, federais, tem que fazer a parte dela”.

Problemas nas unidades de saúde

Amorim afirmou, durante a coletiva, que atualmente, a população de Brusque corresponde a 82% do total da área de atuação do hospital, incluindo Guabiruba e Botuverá. No entanto, 91,6% dos atendimentos são de moradores de Brusque.

Para ele, isso é um indicativo de que o trabalho nas unidades de saúde não está sendo bem feito.

O obstetra Getúlio de Almeida, presente à coletiva, criticou a gestão da Secretaria de Saúde. Segundo ele, os plantões estão cada vez mais abarrotados de pacientes, com sobrecarga de serviço aos médicos.

“A unidade básica de saúde não funciona neste município”, afirmou, “não tem um ginecologista e obstetra atendendo na rede pública, ninguém faz pré-natal. Não funciona lá e a bomba vem cair aqui”, disse o médico.

Segundo ele, muitos pacientes acabam por aportar no pronto-socorro por falta de cuidados na saúde básica, como hipertensos, por exemplo, que poderiam ter acompanhamento na unidade de saúde.

O diretor técnico do hospital, Antonio Carlos Pucci de Oliveira, diz que dos 7 mil pacientes que o pronto-socorro recebe em média, cerca de 5 mil foram no posto de saúde antes, e não receberam atendimento. Isso porque lá, ele explica, os prazos são mais longos – uma consulta simples leva, em média, 30 dias.

“A população está desassistida e vem cair na nossa porta”, avalia. “A prefeitura não consegue resolver não é por falta de dinheiro, é por pura incompetência”.

A administração do hospital exemplifica o que classifica como má gestão das unidades de saúde o fato de que, nesta semana, auditores da prefeitura vieram até a instituição conferir reclamações de demora no atendimento.

Naquele dia, eles entrevistaram dois pacientes, e ambos disseram que tinham ido ao posto de saúde e que não foram atendidos, mas encaminhados ao pronto-socorro. Segundo o administrador, diversos procedimentos poderiam ser feitos nas unidades, mas são “empurrados” para o Azambuja.

Ele critica a prática identificada nas unidades de saúde, de fazer o atendimento por distribuição de fichas, as quais, quando acabam, encerram os atendimentos até antes do horário previsto, e os pacientes vão ao Azambuja.

Não à UPA 24 horas

A prefeitura ofereceu ao hospital que este assuma a gestão da UPA 24 horas, a ser aberta pelo município. No entanto, a administração do Azambuja considera isso inviável.

Segundo Fabiano Amorim, a estrutura é insuficiente para atender emergências, pois não possui, por exemplo, raio X. Além disso, afirma, os valores mandados pelo governo federal não são suficientes para manter a estrutura em pleno funcionamento.