Igreja de Guabiruba preserva imagem do Sagrado Coração de Jesus de 1865, esculpida em madeira
Famílias que colonizaram a região da Planície Alta foram as responsáveis pela construção da primeira capela, atual igreja Sagrado Coração de Jesus
Famílias que colonizaram a região da Planície Alta foram as responsáveis pela construção da primeira capela, atual igreja Sagrado Coração de Jesus
Aos 78 anos, o aposentado Jorge Dirschnabel lembra com saudade de sua infância no bairro Planície Alta, local onde nasceu e vive até hoje. Bisneto de imigrantes alemães, ele faz parte de uma das famílias que colonizaram a região da Planície Alta e que foram também os responsáveis pela construção da primeira capela, atual igreja da localidade – a Sagrado Coração de Jesus.
“A família Dirschnabel era toda católica e trouxe consigo da Alemanha um santo esculpido em madeira em 22 de maio de 1865, que está preservado até hoje e deu origem à igreja Sagrado Coração de Jesus”, diz o pesquisador Roque Dirschnabel.
A região, que hoje é conhecida por Planície Alta, foi o local escolhido pelas famílias Dirschnabel, Rudolf, Merkel, Barth, Cuqui, Baumgart, Nicoletti e Bonmaneri, entre 1863 e 1870, segundo o livro Guabiruba de Todos os Tempos, de Saulo Adami e Tina Rosa.
No começo, a região era chamada de Hohebene pelos imigrantes, em sua maioria alemães. “Planície Alta nada mais é do que a tradução de Hohebene para o português. Eles deram esse nome para a localidade devido às características geográficas do lugar”, destaca Dirschnabel.
Tempo difícil
Seu Jorge lembra que durante sua infância e juventude, a vida no bairro era muito difícil. A localidade era basicamente residencial e muito longe de Brusque, a qual Guabiruba pertenceu até 1962.
O meio de transporte durante muitos anos foi a carroça. “A gente ia fazer feira em Brusque de carroça. Em tempo de geada, nós buscávamos o cavalo e seguíamos pra Brusque. Chegando lá, nós nem conseguíamos pegar troco, nada, de tanto que a mão ficava dura”.
O forte sotaque alemão logo denuncia a origem. O aposentado conta que foi aprender as primeiras palavras em português somente com oito anos de idade. “Meus pais só falavam em alemão, então só fui aprender o brasileiro na escola, tinha oito para nove anos”, recorda.As aulas eram realizadas em uma escolinha de madeira, no próprio bairro. Seu Jorge tem boas recordações da época. “A professora morava atrás da escola, num puxadinho, era uma italiana, então ela mandava a gente buscar lenha e graveto no mato, fazia polenta e dava a panela pra gente comer as casquinhas”.
O trabalho na localidade era somente na roça. “Nossa vida era difícil na roça. Não tinha motosserra, roçadeira como hoje, era tudo na força. A plantação era com enxada, foice”.Entre as principais dificuldades de décadas atrás, seu Jorge destaca a precariedade das estradas. “Era tudo mato. Quando chovia, tinha muita lama, nem os cavalos conseguiam passar”.
Uma das histórias marcantes do bairro é a instalação da primeira hidrelétrica da região, construída por João Bauer. “Foi no ribeirão da Planície Alta que foi instalada a primeira hidrelétrica que produziu energia elétrica para Brusque e região. Foi inaugurada em 1913 e é um fato muito importante da Planície Alta”, destaca o pesquisador Roque Dirschnabel.
Hoje, o aposentado se espanta com o crescimento e as mudanças no seu bairro. “Faz uns 50 anos que subiu o primeiro carro aqui pra cima. Hoje, cada casa tem um, dois carros. Tá tudo muito diferente daquela época, mais casas, as pessoas trabalham fora”.
Famílias de várias descendências já vivem no bairro, algo que foi se intensificando com o tempo. “Uma época tinha umas 70, 80 famílias, depois foram saindo, não tinha emprego, e ficou na base de 30 famílias. Hoje tem mais de 100 famílias, os filhos não saem mais porque agora tem emprego. Várias pessoas de outras cidades já moram aqui também”.
O aposentado ama o local onde nasceu e fica feliz por poder presenciar a evolução ao longo dos anos. “Nasci aqui e vou morrer aqui. Gosto muito, nunca pensei em sair. Aqui posso plantar e viver com tranquilidade”.