Importações das empresas de Brusque crescem 200% na última década
Cidade passou a trazer produtos de fora em volumes cada vez maiores desde 2008; entenda os motivos
Às vezes, sai mais barato trazer um contêiner da China do que do Oeste de Santa Catarina, diz o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem Brusque e Itajaí (Sifitec), Marcus Schlösser.
A frase vem em resposta a uma pergunta que salta aos olhos, quando se observa os números da balança comercial de Brusque, a qual demonstra crescimento exponencial do volume de produtos importados que chegam ao município.
A falta de competitividade das empresas brasileiras, os altos custos de produção e transporte de mercadorias no país e a concorrência com outros mercados, sobretudo a China, são fatores que, combinados, levaram a cidade à marca de 149 milhões de dólares a mais em importações do que em exportações durante o ano de 2017.
Os números do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) são claros. No ano passado, empresas de Brusque exportaram 61,6 milhões de dólares em produtos. O volume é 5,2% maior do que 2016, e representa o primeiro crescimento das exportações no município desde 2010.
No entanto, o volume de importações cresce em outro patamar. Somente em 2017, mesmo ano em que as exportações cresceram pouco mais de 5%, as importações chegaram a 210,6 milhões de dólares, o que representa 56% a mais do que em 2016.
Ao olhar para trás, os números se tornam ainda mais discrepantes. No ano 2000, dado mais antigo fornecido pelo MDIC, Brusque importou pouco mais de 41 milhões de dólares. Em 2008 o valor já dobrava, chegando a 80 milhões de dólares. Em 2015, chegou ao maior volume importado nos últimos 17 anos: 238 milhões de dólares.
Por outro lado, o volume exportado pelas empresas brusquenses está, em 2017, no mesmo patamar do ano 2000: 61 milhões no ano passado e 56 milhões naquele ano. Em 2008, auge do mercado exportador local, foram 115 milhões de dólares em produtos negociados com o exterior.
Em 2008, a virada na chave
O ano de 2008 foi aquele em que houve a virada na chave, ou seja, quando a cidade definitivamente deixou de ser exportadora para se tornar importadora.
De 2000 até 2008, o saldo sempre havia sido positivo, com o volume de exportações superando em até 59 milhões de dólares o de importações. O que aconteceu para que as coisas mudassem?
Segundo empresas de exportação que atuam há décadas no mercado do comércio exterior em Brusque, uma das prováveis causas foi o fato de que, nessa época, a crise econômica mundial e a ampla concorrência externa prejudicaram a competitividade do produto brusquense.
Porém, antes disso já se notavam, nas estatísticas, sinais de aceleração das importações. A indústria têxtil, um dos carros-chefes da economia local, já começava a perder competitividade em relação ao mercado externo.
“No setor têxtil e vestuário,as importações da Ásia substituíram boa parte do que era produzido nacionalmente”, explica Marcus Schlösser, citado no início desta reportagem, que preside o Sifitec.
Por outro lado, ele explica, as exportações do setor, sobretudo na área de cama, mesa e banho, perderam a competitividade e foram diminuindo gradativamente, devido a problemas na taxa de câmbio.
Para o presidente do sindicato, a queda das exportações têxteis que levou os números brusquenses ladeira abaixo foi amenizada, até certo ponto, pelo setor metalmecânico, cujo volume elevado de exportações compensava o declínio.
Mas a indústria metalmecânica começou a enfrentar os mesmos problemas que o têxtil, e não conseguiu, sozinha, manter a balança comercial positiva após 2008.
Ainda hoje, aliás, os dois setores mantém-se líderes nas estatísticas inversamente proporcionais: no ano passado, materiais têxteis corresponderam a mais de 45% do total importado pelas empresas de Brusque, em valores superiores a US$ 95 milhões.
Em sentido inverso, máquinas, aparelhos e materiais elétricos corresponderam a mais de 83% do total exportado pela indústria brusquense, tendo sido responsável por 51 dos 61 milhões de dólares em volume de exportações.
Saldo negativo tem impacto
na economia da cidade
A realidade de Brusque se assemelha a de outras da região, como a vizinha Itajaí, cidade portuária detentora do maior déficit da balança comercial de 2017, com US$ 1,75 bilhão em importações a mais do que exportações.
Por outro lado, outros municípios do Vale tem mantido um saldo positivo, com exportações maiores do que as importações. É o caso de Gaspar, cujas empresas, no ano passado, exportaram 146 milhões a mais do que importaram, e Blumenau, cujas exportações superaram as importações em US$ 27 milhões.
Também vizinha, São João Batista foi outra cidade a manter sua balança comercial positiva no ano passado, ainda que com um saldo mínimo: US$ 1,8 milhão a mais em exportações do que em importações.
O saldo negativo que Brusque vem mantendo na balança comercial é prejudicial à economia da cidade.
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Brusque, que foi convidada a comentar os dados, vários produtos, principalmente manufaturas, costumam ter valor consideravelmente mais baixos no exterior do que os nacionais.
Na prática, diz a secretaria, por meio de nota, acaba sendo mais benéfica a importação do que a produção local, “pois se reduz o valor dispendido em máquinas e sua manutenção, energia elétrica, funcionários, matéria prima”.
Conforme a pasta, o fato das importações terem aumentado muito durante os últimos anos dentro das indústrias do município, sobretudo pelo fator do custo, também gera impacto negativo. “Ocasiona menos contratações de funcionários, e isso impacta fortemente na economia local”, afirma a secretaria.
Como já dito antes, a proporção de importação vem aumentando durante o passar dos anos dentro das indústrias, pelo fator de custo, tanto com maquinários quanto funcionários.
Porque é difícil uma mudança no cenário
Na última década, as importações arrebataram as empresas de Brusque. Atualmente, é consenso entre os empresários que a busca de matéria prima no exterior sai mais em conta do que procurar no mercado interno.
Uma empresa de exportação ouvida por O Município informou que, atualmente, o preço final de determinadas mercadorias, de qualidade similar à produzida nacionalmente, é mais atrativo para os empresários.
“A alta carga tributária no mercado interno prejudica os fabricantes brasileiros. O frete internacional, apesar de variar bastante, muitas vezes é mais barato que um frete rodoviário nacional. Tudo isso se resume ao Custo Brasil”, disse a empresa, por meio de nota.
A visão é compartilhada por Schlösser, que relata uma série de problemas que os empresários enfrentam, os quais levam, inevitavelmente, à busca de produtos e matéria-prima no exterior.
“É a questão do Custo Brasil. Por falta de investimento as empresas perderam competitividade. Existe a questão tributária, a logística que depende de infraestrutura. O custo da energia elétrica, temos um dos custos mais elevados do mundo, a questão trabalhista”.