Incêndio no Spitzkopf: reserva natural de Blumenau ardeu por cinco dias

Fogo de 1995 destruiu o dobro da área atingida nesta semana no Centro, e numa região ambientalmente mais sensível

Incêndio no Spitzkopf: reserva natural de Blumenau ardeu por cinco dias

Fogo de 1995 destruiu o dobro da área atingida nesta semana no Centro, e numa região ambientalmente mais sensível

Eram dias secos de outono. Tão secos que uma provável imprudência humana foi suficiente para destruir quase 50 mil metros quadrados de Mata Atlântica em Blumenau. O dobro da área atingida pela queimada na região central desta segunda-feira, 10.

O combate ao grande incêndio do Morro do Spitzkopf, em junho de 1995, exigiu uma mobilização ainda mais complexa e difícil do que a desta semana. Marcou uma geração de profissionais dos bombeiros, Defesa Civil e moradores da cidade, que percebiam na fumaça espessa o tamanho da tragédia ambiental.

Foram cinco dias de intenso trabalho para apagar o fogo. Já no primeiro, em 5 de junho, os bombeiros acamparam numa área próxima para facilitar o deslocamento a pé. Não havia como levar caminhões de combate a incêndio até o local. Muito menos helicóptero Arcanjo para despejar água do alto. Os quase 50 homens trabalhavam apenas com os abafadores.

Equipes cortaram uma faixa de mata para evitar que o fogo se alastrasse. Árvores foram ao chão para formar uma espécie de barreira – ainda hoje é possível ver o que restou dos cortes. Integrantes do Jeep Clube de Blumenau, Exército e Polícia Militar levavam comida aos que tentavam controlar a situação.

Um deles era o então cabo do Corpo de Bombeiros, José Carlos da Silva, hoje segundo sargento. Vinte e três anos depois, ele recorda com clareza do trabalho incansável e perigoso.

“Quando chegamos, o incêndio tinha tomado conta de tudo. Segundo as informações, tinha um pessoal acampado lá e eles atiraram um foguete. Foi quando pegou fogo”, comenta Silva.

Origem do fogo no Spitzkopf
Há algumas hipóteses sobre como tudo começou, nenhuma comprovada. Todas envolvem ação humana. O fogo começou de baixo para cima, atingindo o cume. A tese do foguete é compartilhada pela maioria dos que estiveram lá. Mas os possíveis causadores jamais foram identificados e punidos.

Para o ambientalista Lauro Bacca, milhões de insetos, mamíferos mais lentos e tantos outros animais morreram junto à vegetação. “Uma perda incalculável”, lamenta. Ele estima que 100 anos (agora 77) serão necessários para que o ambiente afetado volte a ser o que era em 1995.

Em relação ao incêndio desta semana, as perdas foram maiores em volume e também em qualidade. A mata do Spitzkopf era formada, em sua maioria, por árvores típicas da região, numa área montanhosa ambientalmente sensível, hoje parte do Parque Nacional Serra do Itajaí.

Entre o Centro e o Bom Retiro, predominavam pinheiros exóticos e samambaias (o fogo foi controlado antes que atingisse o Parque Municipal São Francisco de Assis).

“Foi muito complicado. Apagava o fogo de um lado, surgia de outro”, lembra o então chefe de mobilização da Defesa Civil, Arlindo Zucco, que também esteve acampado na região.

As entrevistas que Zucco dava às rádios e televisões eram feitas por radiocomunicador. Por coincidência, nesta terça-feira, 11, Zucco recebeu o título de cidadão blumenauense, concedido pela Câmara de Vereadores de Blumenau. Ele é natural de Brusque e foi homenageado pelo trabalho na Defesa Civil.

Como não havia celular, Bacca, que estava em Florianópolis, foi avisado com certo atraso sobre o que estava acontecendo. Apesar disso, conseguiu sobrevoar o lugar com uma aeronave do Aeroclube de Blumenau ainda no dia 5:

Chuva evitou tragédia pior
O fogo foi controlado 120 horas depois, graças à chegada de chuvas. No dia seguinte, equipes subiram até o cume (914 metros) para analisar os estragos. Até hoje quem sobe o Spitzkopf percebe a diferença entre a mata fechada do caminho e os pinheiros e arbustos que existem no cume.

Bacca conta que a tragédia do Spitzkopf despertou uma conversa sobre a importância de inquéritos policiais para identificar os autores de incêndios de graves consequências ambientais. O desta semana, entre o Centro e o Bom Retiro, também tem causas desconhecidas até o momento.

“Sem responsabilizar quem faz isso e, claro, educação comunitária, será difícil acabar com esse problema, ainda mais em épocas como agora, de falta de chuva e ar mais seco”, reclama Bacca.

Três anos após a tragédia, atear fogo em matas virou crime ambiental. A pena, além da multa, vai de seis meses a um ano de detenção quando o crime é cometido sem a intenção. Se for um incêndio provocado, doloso, o autor pode pegar de dois a quatro anos de cadeia.

Lauro Bacca/Arquivo Pessoal

Como evitar queimadas
O fogo no Spitzkopf foi em uma época do ano em que as queimadas não são tão comuns. O aumento no número desse tipo de ocorrência no Vale do Itajaí ocorre normalmente entre novembro e fevereiro, quando o tempo seco, a vegetação desidratada e a umidade relativa do ar mais baixa podem transformar rapidamente uma fagulha em labaredas.

O Capitão Filipe Daminelli, do Corpo de Bombeiros de Blumenau, ressalta que não se deve utilizar o fogo para limpar terrenos, queimar lixo e fazer fogueiras.

“São ocorrências que podem ser evitadas, demandas que sobrecarregam desnecessariamente as equipes de trabalho, bem como prejudicam aqueles que realmente necessitam ser atendidos”, enfatiza.

Os donos de terrenos baldios devem manter o mato sempre cortado. A vegetação alta contribui para a propagação do fogo, já que fica seca com a falta de chuva.

Outros vilões importantes são as pontas de cigarro e lixos como alumínio e vidro. Esses dois materiais quando entram em contato com os raios solares aquecem a ponto de causar um princípio de incêndio.

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