Índios na Região do Vale do Itajaí-Mirim – Final
O índio era o dono da terra quando os colonizadores europeus chegaram por aqui. Acredita-que a vinda do índio ao Brasil date de mais de 10.000 anos e, neste período, conviveu, conheceu, explorou e se utilizou dos produtos do meio, descobrindo as riquezas da fauna e da flora. Soube transformar em boas as más qualidades de certas plantas. Revelou as propriedades terapêuticas de muitos vegetais, introduziu muito do seu cotidiano e deixou grande contribuição ao folclore brasileiro.
Contribuição do Índio ao Folclore Brasileiro
Maria de Lourdes Borges Ribeiro (1979), ao escrever sobre a contribuição do índio ao folclore brasileiro, relaciona itens que representam alguns dos pontos que remetem à contribuição indígena ao nosso folclore. Vejamos alguns:
Alimentação – mandioca (carimã, tapioca, farinha de mandioca); milho (canjica, pamonha, curau); insetos (dentre os quais a tanajura ou içá); quelônios, mariscos, crustáceos, peixes, aves, caças, palmito, mel, castanhas, pimentas, guaraná, amendoim, frutas nativas e seus sucos, moqueca, processo de moquear, etc.
Instrumentos Musicais – vários tipos de flautas, maracás, chocalhos, guizos, zunidores, trocano, tambores, buzinas, trombetas, bastões de ritmo, etc.
Religião – influência dos astros sobre os viventes e os vegetais, espíritos benfazejos e maus, gênios das águas, poderes ligados à natureza e aos fenômenos meteorológicos, pajelança, etc.
Armas de Guerra – tacape, espadas de pau, arco e flecha, borduna – a ponta de flecha era embebida em curare, substância preparada com várias espécies vegetais, com efeito paralisante ou mortal, sobre o homem e o animal. E hoje é usado na anestesia.
Artes Plásticas e Artesanatos – utensílios e objetos domésticos de cerâmica, fibras e madeira; trançados de fios e fibras; cestaria; tecelagem de algodão e de fibras em tear rudimentar; rede de algodão e de fibras; pentes de osso e de chifre; plumária (leques, mantos e adornos: pulseiras, testeiras, braçadeiras, perneiras, colares, tangas, cocares, etc.); enfeites com penas, conchas, sementes, dentes e unhas de animais, fibras. etc.; máscaras de pele de animais, casca de árvore, sementes e fibras; processos de tinturaria com corantes vegetais; armadilhas e processos de caça e pesca, tipiti, aproveitamento de peles e couros, etc.; o emprego da borracha para diversos fins, etc.
Mitologia – caapora, anhangá, saci, jurupari, cobra-grande, iara, rei-da-mata, boitatá, curupira, etc.
Transporte – vários tipos de canoa e a rede;
Danças – guerreiras, imitativas, representativas da vida tribal e outras inspiradoras das que são encontradas em vários estados brasileiros: tapuiadas, caiapós, caboclinhos, etc. O cururu e o cateretê são formas com raízes indígenas e foram largamente utilizadas na catequese, pelos jesuítas.
Medicina – a teológica, exercida através do pajé, e a natural, com o emprego de elementos vegetais e animais.
Habitação – feitura de casas com armação de cipós, ripas ou troncos, entretecida com folhas de palmeira, utilizadas na cobertura, juntamente com o sapé.
Para saber um pouco mais
Esta publicação fecha uma série de artigos de minha autoria publicados ao longo do mês de janeiro nesta coluna. Neles escrevi sobre os índios Xokleng/Laklãnõ na nossa região, e sobre sua relação com os imigrantes europeus que colonizaram os Vales do Itajaí.
Sem entrar na questão de juízo de valor, pois toda história tem dois lados, a versão do vencedor e a versão do vencido, compartilhei com o leitor alguns fragmentos da história que nos permitem conhecer um pouco sobre os índios Xokleng/Laklãnõ. Se você não leu as colunas anteriores, recomendo que as leia e saiba mais. É uma história que vale a pena conhecer.
Fonte: RIBEIRO. Maria de Lourdes Borges. Contribuição do Índio ao Folclore Brasileiro. Boletim da Comissão Catarinense de Folclore. Nº 32. Ano 1979.