Infância eterna
Não são poucos os pais, com filhos na casa dos vinte ou trinta anos, perplexos com a incrível imaturidade que assola parte considerável das novas gerações. Em geral, são pais que passaram muitas dificuldades na infância e juventude e, a muito custo, conseguiram dar uma vida confortável aos filhos. Tentaram evitar que os filhos passassem pelos mesmos problemas que eles, que tivessem mais tempo para estudar e se preparar para um futuro mais garantido.
Mas o conforto e as facilidades oferecidas não costumam ser reconhecidos como preciosas oportunidades. Para boa parte desta garotada, que não conheceu as situações difíceis do passado, o conforto e as facilidades que encontram não passam de mera obrigação dos pais. Ademais, parece que a ausência de privações e de obrigações acaba gerando uma tendência para a diversão excessiva, que tem se tornado um verdadeiro câncer para a juventude. Uma de suas manifestações mais perversas é a ingratidão aos pais, um dos piores pecados que se pode cometer.
Nós percebemos os reflexos disso em todas as instâncias da vida. Crianças e jovens, cuja única obrigação na vida é fazer os deveres escolares, poucas vezes demonstram preocupação e interesse por essa simples atividade. Nas salas de aula, um mínimo de comprometimento com a formação intelectual e respeito pelos professores é coisa que se precisa conquistar a duras penas. No trabalho, as pessoas não querem ser mandadas, se aborrecem e desistem dos trabalhos mais difíceis, ou simplesmente fazem as atividades com desleixo e desconsideração para com a empresa que lhes dá oportunidade de ganhar a vida honestamente.
Quando a idade adulta chega, pelo menos a cronológica, trabalho, estudos, família parecem ser um fardo insuportável para quem se acostumou a ganhar as coisas de mão beijada, que negligenciou as oportunidades que teve. A língua estrangeira que poderia estar dominada, as inúmeras leituras que não foram feitas, apesar do tempo de sobra: tais facilidades, uma vez aproveitadas, fariam agora dessa criança fora de época uma pessoa mais preparada para ser útil a si mesma e à sociedade.
Muitos continuam sendo sustentados pelos pais, rasgando o dinheiro que não lhes custou suor com a péssima vontade que demonstram nos cursos universitários, ou perdidos em relações afetivas construídas sobre a diversão e a irresponsabilidade.
Sei que há jovens maravilhosos por aí, mas convém abrirmos os olhos, para descobrirmos onde erramos com essas gerações. Essas falhas precisam ser corrigidas logo, ou o futuro nos reservará muito amargor. Parece haver uma contradição insanável entre moleza e caráter bem formado.