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Inovação aberta: como novas soluções tecnológicas são desenvolvidas de forma colaborativa em Brusque

Trabalho feito pelo Centro de Inovação ajuda empresas e profissionais a identificarem oportunidades de melhorar processos

O conceito de inovação muitas vezes não é claro para maioria das pessoas, mas, em Brusque, o Centro de Inovação e Tecnologia (CIT) desenvolve uma abordagem diferente e prática para que, aos poucos, uma cultura seja desenvolvida e os reflexos da inovação sejam claros não só para a cidade, mas para toda a região.

Um dos diferenciais do CIT de Brusque em relação aos vários existentes no estado é sua abrangência regional. Tanto que recebeu um nome próprio: 408lab, com alusão a toda a região.

Várias cidades em Santa Catarina inauguraram CITs nos últimos anos, por meio de um programa estadual para o fomento da inovação, mas o 408lab ainda engloba outras cidades: Botuverá, Canelinha, Guabiruba, Major Gercino, Nova Trento, São João Batista e Tijucas.

“Queríamos criar uma bandeira regional e, a partir disso, surgiu o nome 408lab. Temos a proposta de alavancar a inovação por meio de experiências colaborativas e troca de ideias. Ao longo do tempo, entendemos que a inovação se alinha onde o aprendizado é gerado e explorado economicamente”, resume um dos consultores do CIT de Brusque e Região, Leonardo Anésio da Silva.

Outro diferencial do 408lab é prezar por um olhar prático para a inovação. Nesta linha, a equipe está desenvolvendo relacionamento com as empresas da cidade para a aplicação do conceito de inovação aberta, que consiste na utilização de conhecimentos desenvolvidos por outras empresas e profissionais, assim como na produção de conhecimentos e tecnologias que poderão ser utilizados não somente por quem o desenvolveu, mas por outros membros da cadeia produtiva.

“Pensamos o 408lab como uma startup, a gente vai validando, monta um modelo de negócio e vamos escalando. O principal diferencial que temos é a inovação aberta e como movimentamos a região”.

Segundo Leonardo Anésio, o CIT de Brusque foi pensado para gerar e capturar valor para a comunidade, como uma startup. A partir deste pensamento, desenvolveram um estudo de viabilidade financeira, com planejamento de produtos que vão oferecer, como vão vender e também com metas estabelecidas para que as engrenagens funcionem.

Professores Günther e Leonardo em reunião com o então prefeito de São João Batista, Daniel Netto Cândido, em 2020 | Foto: Divulgação

O 408lab tem a missão de conectar pessoas e ideias para gerar inovação de impacto local. Por meio de aprendizado e experimentação, busca desenvolver novas formas de produzir e vender produtos e serviços e, além de fomentar novos setores na região, potencializar os que já existem.

“Não é algo imediato, é muito mais que isso. Pensamos em transformar não só setores na economia, mas na sociedade. É muito mais que construir um prédio e transformar empresas”, resume o presidente do comitê de implantação do CIT de Brusque, Günther Lother Pertschy.

Os primeiros passos

O ponto de partida para a implantação da rede de CITs em Santa Catarina, que era uma promessa do então candidato e depois governador Raimundo Colombo, foi em maio de 2011, quando uma comitiva catarinense foi até a Catalunha, na Espanha. Dois anos depois, o estado definiu dez polos de inovação. Neste primeiro momento, Brusque ficou de fora.

Ex-reitor do Centro Universitário de Brusque (Unifebe), o professor Günther é um dos responsáveis por trazer o CIT para Brusque. Desde as primeiras notícias sobre a intenção do governo estadual, ele já percebia na cidade o potencial para ser também um polo. Em outubro de 2013, Brusque foi incluída na rede de inovação junto com outras duas cidades.

Centros de Inovação espalhados por Santa Catarina | Arte: 408lab/Divulgação

Em 2014, a Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque (Ampebr) e o governo de Santa Catarina assinaram um acordo para doação de um terreno no Limeira, onde está sendo construído o CIT.

Por causa de problemas burocráticos, a finalização da obra, que estava prevista para junho de 2018, está sendo adiada, mas, mesmo sem um espaço físico consolidado, o 408lab continua as atividades.

“O prédio é algo simbólico. Os trabalhos da nossa equipe acontecem em paralelo e estamos muito adiantados em diversas frentes. Já temos um plano de ocupação e também de negócio prontos, assim como a identidade visual para quando o prédio for entregue. Estamos atuando também com a inovação aberta, que, com certeza, é algo muito emergente e diferenciado em relação aos outros centros de inovação já em atividade”.

Professor Günther (esq.) em vistoria na obra do Centro de Inovação em 2018 | Foto: Divulgação

Pertschy destaca que a proximidade do 408lab com os outros agentes na região facilita a implantação das inovações. O CIT de Brusque e região viabilizou uma equipe de trabalho por de editais, já que não pode contratar enquanto não inaugura o prédio, e apoiou duas edições do Projeto Nascer para pré-incubação de empresas, no qual pessoas com boas ideias recebem todo o suporte para tirar o projeto do papel.

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável é responsável pela construção dos centros de inovação e a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) proporciona a efetivação do funcionamento, auxiliando todas as cidades.

“Independente de não termos o marco que é a estrutura física, a gente vem se estruturando, a Fapesc nos auxilia muito no momento. O mais importante é que já temos a certeza de como vamos atuar, que é no sentido de impulsionar a economia da região e fazer com que as pessoas envolvidas no ecossistema sejam estimuladas e beneficiadas mesmo sem um local físico até esse momento”.

Primeira edição do Projeto Nascer iniciou em março de 2020 | Foto: Unifebe/Divulgação

Pertschy destaca que um trabalho forte já está sendo realizado para que a comunidade em geral compreenda o que é e como atua um CI e também para a criação de uma cultura para esclarecer o que é inovação e como ela traz benefícios.

“Brusque vai fazer parte de uma grande rede catarinense, vamos estar integrados com todas as cidades. Vamos poder usufruir e trocar ideias com todos os outros polos. Essa integração é o mais importante. O estado como um todo vai poder avançar, é um potencial muito grande construtivo e de grande criatividade que vai ser criado ao longo do tempo”.

Olhar para a prática

Por meio de ações que se dividem e se complementam, o 408lab preconiza um olhar abrangente sobre inovação regional. Leonardo Anésio explica que o foco é criar soluções práticas para que empresas consigam resolver seus problemas e melhorar seu funcionamento.

“Queremos desenvolver inovações incrementais e de serviços para empresas, que significa basicamente resolver um problema. Temos um olhar bem prático. Resolver um pequeno problema já é uma grande inovação. Não pensamos em criar o novo Facebook”.

No processo de implantação, o 408lab fez o caminho contrário da maioria dos CITs. Entre os três atores principais para a inovação, o caminho mais comum é iniciar nas universidades, passar para startups e, por último, tentar uma integração com empresas. Pela realidade local, o 408lab decidiu abordar de forma diferente.

“Nosso olhar no projeto de implantação foi o oposto, das empresas para dentro. Alguns centros nem conseguem chegar às empresas, existem barreiras enormes. Mas, aqui, temos bastante experiência com consultoria às empresas privadas”.

Um mundo de possibilidades

Há algumas décadas, a maioria das empresas escolhia trabalhar com a inovação internamente. Os administradores encaravam isso como um diferencial, que deveria ser guardado a sete chaves. Ao longo do tempo, porém, o mundo evoluiu e o panorama se alterou.

As organizações passaram a entender que é impossível deter todos os talentos e que é necessário abrir as portas para troca de experiências. Neste cenário, surge o conceito de inovação aberta.

“Há alguns anos essa ideia surgiu: utilizar de caminhos internos e externos para resultados internos e externos. Pode-se utilizar de fontes de aprendizado de dentro da empresa e de fora. Na academia, por exemplo, existem várias ideias, que podem ser utilizadas tanto para resultados internos, inovando em coisas que as empresas já desenvolvem, quanto para novos processos. Essa abordagem entende que pesquisa e desenvolvimento não são só mais dentro da empresa, é aberto para toda a região”, explica Leonardo Anésio.

O passo inicial neste modelo de relacionamento entre o CIT e as companhias é fazer um diagnóstico da empresa, para entender sua cultura, e também como é o processo de inovação em cada uma. “Nada adianta eu entregar algo extremamente tecnológico, se a empresa não consegue utilizar”, resume.

De maneira geral, as organizações que adotam o modelo de inovação aberta buscam se diferenciar por meio do conhecimento colaborativo, valorização da criatividade e uso de ideias provenientes de fontes internas e externas.

“Isto não significa que elas devam abandonar o velho modelo de competição em detrimento de uma atuação exclusiva por meio da inovação aberta, mas sim que se deve pensar aberto, a fim de criar inteligência competitiva capaz de identificar as oportunidades, independentemente de onde elas vêm, e fazer fluir as oportunidades já existentes”, ressalta.

Pela grande estrutura que possuem, muitas organizações não têm um sistema social tão inovador e uma restrição neste sentido. Neste contexto, o 408lab atua levando a ideia até a empresa, sendo um cupido nesse processo, ou também pode receber a demanda das companhias e planejar um evento para resolver por meio da comunidade.

“Se eu melhorar a qualidade do produto, a lucratividade e a racionalização das organizações que hoje já estão atuando, isso reflete em mais empregos, mais tributação, mais qualidade e fortalecimento da economia”, destaca Pertschy.

A primeira experiência

Empresa do segmento automotivo em Brusque, a ZEN já está há mais de 60 anos no mercado e é parceira do 408lab na aplicação dos conceitos de inovação aberta.

Gerente de Engenharia de Produto e P&D, Paulo Mortari conta que a empresa já havia buscado introduzir ações baseadas na metodologia. Esta experiência anterior foi essencial para que a ZEN amadurecesse a ideia e compreendesse de que maneira poderia extrair o máximo resultado deste tipo de projeto.

“Percebemos também que agora este conceito está mais consolidado, facilitando os trabalhos entre universidade, empresa e sociedade”, ressalta.

A ZEN está trabalhando com a equipe da 408lab na resolução de uma problemática voltada para melhoria da experiência do aplicador final dos produtos. 

A equipe do CIT é responsável pela metodologia utilizada no projeto e pela condução das atividades realizadas com a equipe multidisciplinar da ZEN, que foi estruturada para dar todo o suporte técnico.

Mortari ressalta que, mesmo possuindo uma área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) própria, a ZEN enxerga que o modelo de inovação aberta é o caminho mais efetivo para expandir as atividade junto à comunidade, ao meio acadêmico e aos ecossistemas de startups que começam a se formar na região.

“Este tipo de iniciativa pode ser ainda mais alavancado quando contamos com fomento governamental, em modelos que os subsídios para o projeto não são somente da iniciativa privada”.

A expectativa da ZEN é que este primeiro projeto possa servir de laboratório para próximas iniciativas. “Caso o desafio proposto atinja os resultados esperados, buscaremos novas oportunidades fortalecendo a parceria entre a empresa e o 408lab”, diz.

Robótica como ferramenta de mudança

Uma das ferramentas que o 408lab pretende levar às empresas por meio do conceito de inovação aberta é a robótica colaborativa, com a utilização de robôs autônomos.

O professor Júlio Franz, que tem mestrado e doutorado na área, leciona nos cursos de Engenharia Mecânica e de Produção na Unifebe, e é pesquisador da Indústria 4.0, explica que a intenção é disponibilizar às empresas a infraestrutura para diminuição de desperdício e aumento da produtividade.

“O que a gente quer é que os profissionais das empresas sejam capacitados para esta quarta revolução industrial e que as empresas possam usar as estruturas como se fosse um laboratório de simulação. Testar operações com robôs, verificar novas formas de realizar o que eles já fazem e também fazer treinamentos para operadores. Muitas vezes as indústrias não conseguem parar suas máquinas para fazer esse tipo de coisa. Queremos disponibilizar a infraestrutura do CIT para isso”.

Intenção é utilizar robôs em empresas da região para aumentar produtividade e reduzir trabalho repetitivo | Foto: Divulgação

Neste momento, o 408lab está costurando os projetos e procurando parceiros, também junto com a Fapesc, para que consiga trazer essa revolução de dentro da academia, com a formação de profissionais capacitados, para as indústrias locais.

Franz explica que os robôs não seriam substitutos do trabalho humano, e sim uma ferramenta que as pessoas operariam para evitar a realização de atividades desgastantes e super repetitivas.

“A robótica vai trazer padronização e vai também aumentar a qualidade de vida das pessoas que estão envolvidas no processo, diminuindo a carga de trabalho. Vai permitir que o colaborador tenha mais autonomia para realizar seu trabalho, com menos perdas, mais padrão e redução de custos”.

O professor destaca que o CIT tem um viés focado em facilitar a conexão com a indústria e que vem para conectar as empresas com a academia.

“Tem pessoas que vão estar dedicadas no 408lab para fazer que isso aconteça. Esses modelos já funcionam em outros países. Já existem conexões com algumas empresas e estamos abertos para outras que quiserem conhecer o projeto. Vamos estar à disposição da comunidade e da indústria, pesquisadores muito qualificados vão estar disponíveis para melhorar o contexto da indústria e da sociedade como todo. A inovação aberta é para o ambiente como um todo se beneficiar”.

Construindo cultura de inovação

A proximidade dos profissionais do 408lab com o Colégio Unifebe resultou na criação de um projeto interdisciplinar para desenvolvimento de competências empreendedoras e de inovação já no Ensino Médio. O professor Odair José Groh, conhecido como Grega, é o coordenador da iniciativa, que está sendo realizada com alunos do 1º ano.

Grega explica que, além da proximidade com o 408lab, a flexibilização do currículo em âmbito nacional permitiu que novos projetos e ideias fossem aplicadas no Ensino Médio, um desejo da Unifebe há pelo menos três anos. O projeto visa provocar os alunos a pensar na lógica do empreendedorismo e inovação.

“Precisamos atender as demandas dos alunos, para a vida em sociedade e o mercado de trabalho. Nossa região é muito empreendedora, de muita inovação, e fomos provocados a pensar em um projeto nesta lógica.

Lucas Hang, da Havan Liberty, participou da “Conversa com Empreendedor” com alunos do Colégio Unifebe | Foto: Unifebe/Divulgação

O projeto utiliza a estrutura da Unifebe para desenvolver habilidades para fomentar e despertar um novo olhar para os jovens durante todo o ano. Para Grega, a iniciativa de estimular os alunos a pensarem fora da caixa desde jovens é valioso para o futuro deles e da comunidade em geral.

“Durante três horas por semana, eles fazem oficinas, debates, mini-cursos e conversas com empreendedores de diversas áreas para trocarem experiências, falar sobre suas histórias, contar o que deu e não deu certo. Os alunos estão recebendo noções de educação financeira, criatividade, fotografia, oratória, tudo que um empreendedor precisa saber. Eu costumo dizer que eles precisam ser inovadores em todos os momentos da vida. O mundo se transforma muito rapidamente e temos que acompanhar sendo empreendedores e inovadores”.

O Colégio Unifebe, cita Grega, foi implantado com uma lógica diferencial, para ir além do currículo tradicional e fomentar diferentes competências.

“Essa cultura da inovação e do empreendedorismo precisa ser motivada e despertada. Por isso, resolvemos aplicar já no 1º ano, mas, daqui a dois anos, queremos realizar com todos os alunos do Ensino Médio para estimular e criar cultura. Se soubermos aproveitar o histórico de empreendedorismo da região, e estimular essa moçada a pensar ainda mais em inovações, vamos chegar ainda mais longe”.

Planos definidos

Presidente do comitê de implantação, Pertschy destaca que o 408lab já tem definido os setores que vai atuar fortemente, alinhado com os atuais setores econômicos da região. Isto, porém, não impede que novos segmentos sejam incluídos para serem estimulados e melhorados. 

“Nosso Centro de Inovação não será um condomínio de CNPJs. Nosso intuito é gerar várias empresas de tecnologia, não será o local para elas estarem. Queremos jogar inovação para as áreas prioritárias para a nossa região”.

Pertschy acredita que, independente do segmento, a inovação traz bons frutos. É nisso que o 408lab espera contribuir: na criação de, cada vez mais, novas riquezas para a região.

“Queremos fazer do centro um grande local de subsídios de informações”, diz o presidente do comitê de implantação | Foto: Divulgação

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