Instituição centenária encerra as atividades para ampliar espaço do hospital
Espaço abrigava 14 asiladas que foram transferidas para outras instituições
Espaço abrigava 14 asiladas que foram transferidas para outras instituições
O centenário Asilo Nossa Senhora do Caravaggio está oficialmente de portas fechadas. O abrigo funcionava anexo ao Hospital Azambuja, em cima do prédio da emergência, e há cerca de dez dias foi totalmente desativado.
As 14 asiladas que viviam no local ou voltaram para suas famílias, ou foram transferidas para outras instituições de Brusque e região. “Apenas quatro voltaram para a família, as outras foram para outras casas”, diz a irmã Isaura Carlessi, responsável pelo local há 21 anos.
O anúncio do fechamento do asilo aconteceu no fim do mês de setembro do ano passado. Na época, o diretor administrativo do Hospital Azambuja, Fabiano Amorim, afirmou que a instituição funcionaria até março deste ano. Segundo ele, a necessidade de expansão do hospital e a falta de recursos para manter o asilo foram fatores determinantes para a decisão de fechar o local. “Desde 2011 não estávamos recebendo nenhuma asilada. Fechamos porque precisamos ampliar a área hospitalar. Consultamos o Ministério Público, assinamos um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), e nos informaram que para criar um asilo oficialmente, precisaríamos criar um CNPJ novo e o custo dessa legalização é muito alto. Tem asilada que não contribui com nada e tem outras que dão o salário mínimo, se os custos hoje já não fecham, se montássemos um asilo oficial também não fecharia”, justifica.
Amorim afirma que nesta semana já entregou toda a documentação referente ao fechamento da casa ao Ministério Público, e a transição para o fechamento foi tranquila. “Conversamos com antecedência com os familiares, tentamos conciliar da melhor maneira possível para que a pessoa que estava aqui junto do nosso convívio, tivesse sua situação resolvida da melhor maneira possível”, diz.
Das 14 asiladas, apenas uma permanece nas dependências do Hospital Azambuja. “Ela está um pouco debilitada, e está internada na enfermaria. Acredito que ela deve ser transferida para outra instituição assim que se recuperar”, destaca irmã Isaura.
O espaço que hoje já está vazio deve abrigar novos leitos da unidade hospitalar. “Com o fechamento do asilo, vamos conversar sobre o que poderemos fazer naquele espaço. Provavelmente será uma nova ala de quartos, mas para isso precisaremos adaptar toda aquela estrutura para a realidade hospitalar. Vamos precisar de um projeto arquitetônico completo, por isso, a reforma ainda não tem prazo para iniciar”, informa Amorim.
Na lembrança
Por 21 anos, a irmã Isaura Carlessi foi uma das responsáveis por cuidar do asilo. As lembranças que ela guardará do local são de muito trabalho e carinho. “Ainda é estranho. Sempre tinha aquela movimentação lá, e agora está fechado. De vez em quando ainda me pego indo em direção ao asilo, aí lembro que não tem mais nada lá”, diz.
Apesar de sentir falta do trabalho, ela considera que o fechamento do espaço foi a melhor decisão. “Não tínhamos recursos. Tudo era feito pelo hospital. Os medicamentos que elas precisavam, os médicos, a nutricionista, tudo o hospital que bancava. Algumas contribuíam com o salário, outras não tinham nada, então era difícil”, afirma.
Irmã Isaura destaca que nos últimos anos a rotina no asilo era tranquilo. “Quando tinha bastante gente era mais agitado. Ultimamente estava bem calmo. O asilo tinha capacidade para 35, 40 pessoas, o espaço é bem grande. Agora, vamos esperar para ver o que será feito do espaço”.
Segundo ela, as visitas no local eram constantes, mas não dos familiares. “Recebíamos visitas de muitos grupos que vinham para ajudar e distrair as asiladas, mas os familiares eram poucos os que vinham. A maioria deixava a idosa e abandonava. Uma situação triste”.
Mais de 100 anos de história
O asilo faz parte do centenário complexo de Azambuja. Segundo informações do livro Azambuja, 100 anos, do padre José Artulino Besen, a história do asilo começou quando o padre Antônio Eising e o Padre José Sundrup decidiram fazer uma obra social em Azambuja para abrigar os necessitados, entre eles, os idosos.
Em 1901 foi construída uma casa de madeira, de 15 metros de comprimento, com o objetivo de atender aos necessitados. Em seguida, chegaram ao local as Irmãs da Congregação da Divina Providência, e com isso, a ideia inicial dos padres teve êxito. Em 1904, o asilo recebeu um acréscimo de 20 metros de cumprimento, e em 1911, uma instituição independente do hospital e do hospício de alienados.
Nesta época, o asilo localizava-se atrás do atual Museu de Azambuja, e era mantido com a ajuda da população, já que as pessoas abrigadas no local eram muito pobres. Em 1937, uma nova casa foi construída para abrigar os idosos, desta vez, no outro lado da rua. Foi aí que o asilo recebeu o nome de Nossa Senhora do Caravaggio, e passou a receber somente asiladas do sexo feminino.
No entanto, 40 anos depois, o asilo começava a passar por dificuldades e a ser considerado obsoleto, e teve que ser substituído. Foi construído um prédio novo, em 1977, sob a administração do padre Albano Koehler, com 40 apartamentos, anexo ao hospital. A nova ala foi inaugurada em 1978.
Em 1986, as Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus assumiram o setor de enfermagem do hospital, e aos poucos, assumiram também a supervisão e o atendimento das asiladas até o consequente fechamento da instituição.