José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Intimidade esgotada

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Intimidade esgotada

José Francisco dos Santos

A intimidade é uma das coisas mais sagradas num ser humano. Poucas pessoas, e muito bem escolhidas, podem ter acesso a ela. Por isso, a natureza nos dotou de uma espécie de mecanismo, que nos ajuda a protegê-la, e é parte do bom senso de qualquer pessoa equilibrada. Naturalmente nos retraímos diante de pessoas desconhecidas, e só um tolo fica falando de suas intimidades para qualquer um. O pudor é parte desse mecanismo de proteção. Uma criança de seis anos já se incomoda, naturalmente, com sua nudez. Uma menina normalmente fica desconfortável, mesmo diante de seu pai, durante o banho. Isso demonstra que o pudor é nossa proteção natural. Querer expor a intimidade física ou psíquica para qualquer um é um distúrbio, uma doença que precisa ser tratada.
Mas os humanos são os únicos animais que, deliberadamente, podem contrariar a natureza. Alguns filósofos do início do século XX pregaram uma revolução cultural, que passaria pela negação dos valores e da tradição cristãs, como forma de apressar a revolução socialista no ocidente. O sexo deveria ser o carro chefe dessas mudanças, pois a liberdade sexual tiraria dos jovens a força moral, deixando-os à mercê dos ideólogos que pregam o caos.
Na semana passada, conversava com dois colegas sobre educação de adolescentes. Um deles falou sobre um amigo que foi buscar o filho no colégio. O guri pediu que ele esperasse, aproximou-se de uma moça e deu-lhe um beijo na boca. O pai então perguntou se era sua namorada, ao que ele respondeu que não sabia direito quem ela era, mas que o havia desafiado a beijá-la. E meus colegas estavam resignados diante do “fato” de que as coisas são mesmo assim. O único jeito é aumentar o estoque de camisinhas e anticoncepcionais.
Isso comprova o sucesso dos filósofos do relativismo moral. Um beijo na boca é um contato íntimo que, naturalmente, não pode ser banalizado como um simples “bom dia”. E sabemos que o excesso de intimidades indevidas não para por aí. Mas a revolução cultural é tão forte, que já não conseguimos mais reagir, e estamos perdendo até a capacidade de perceber que isso é um erro gravíssimo, de consequências terríveis para a saúde psíquica dos indivíduos, para os relacionamentos, para o futuro da família e da sociedade. Estamos como aqueles sapos da anedota, sendo cozidos aos poucos, sem perceber que a temperatura da água está aumentando. Prevalece aquela filosofiazinha de ensino médio, que diz que não existe verdade, que tudo é relativo, tudo é questão de opinião, e que precisamos nos adaptar aos “novos tempos”. Como não reconhecemos mais a verdade, estamos insensíveis também aos erros. Não à toa tantas pessoas instruídas se deixam levar por sandices como a ideologia de gênero, outro mecanismo da nova cultura para jogar crianças e jovens nesse lamaçal em que nos encontramos.
Mas eu sei que tem muita gente, inclusive adolescentes e jovens, que ainda conseguem perceber que há um equívoco monstruoso nessa oferta gratuita da intimidade. A estes eu me dirijo especialmente para dizer que, se podemos mudar este mundo, é exatamente reafirmando aquela verdade perene, que pode transformar exatamente porque não se deixa “adaptar”, que expressa uma lei natural, e que a Grande Sabedoria condensou no sexto mandamento. Se você é capaz de reconhecer isso no seu íntimo, então entende mais de humanidade que a maioria dos filósofos e “sábios” dos últimos tempos. E não se preocupe! A idiotice pode fazer mais sucesso que a inteligência, mas nunca poderá suplantá-la.

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