Gerações na estrada
Família Taboni guarda grandes lembranças de momentos vividos pelas estradas do Brasil
A paixão por caminhões do patriarca começou em 1975, quando o filho mais velho nasceu e, então, José começou a mexer com os veículos grandes, ainda em Nova Trento, cidade natal.
Neste ano, ele comprou o primeiro caminhão, mas por problemas pessoais precisou se desfazer do veículo. Já nos anos 1980, adquiriu um novo veículo junto ao pai, em que fazia fretes e puxava lenha do mato.
Em 1983, José passou a trabalhar como motorista de caminhão para uma empresa e foi quando começou a viajar para fora. Foram fretes para o Brasil inteiro, especialmente o Nordeste.
“Acho que o maior desejo de quem começa na profissão é conhecer as cidades, ir onde nunca havia ido. Mas quando vai, vê que não é bem assim, pois o caminhão não entra nos centros das cidades. Então os pontos turísticos mesmo a gente acaba não conhecendo”, conta.
Mesmo sentindo medo em dirigir pelas estradas Brasil afora, José gostava do que fazia e se realizava em poder dirigir e descobrir novos lugares. A paixão dele foi passando aos filhos, que desde pequenos queriam ter um caminhão, mesmo que fosse de brinquedo.
“Na época não tínhamos condições de dar brinquedos mais caros. Então eu sempre falava que o que eles queriam, um dia teriam de verdade. E foi o que realmente aconteceu”.
Altevir foi o primeiro a ingressar na profissão, aos 21 anos, após trabalhar por cinco anos e meio em metalúrgica com o intuito de guardar dinheiro para comprar seu próprio caminhão. “E consegui. Quando vi que teria o dinheiro suficiente para comprar, sai de lá e fui fazer o que sempre desejei”, diz.
No início, Altevir fazia fretes para transportadoras apenas pela região. Assim que Alcione completou 18 anos, também foi trabalhar como caminhoneiro. Poucos anos antes, ele e o pai já haviam comprado um caminhão juntos, mas como não tinha idade para fazer a Carteira Nacional de Habilitação, precisou esperar mais um pouco. Em 2000, a família já possuía quatro caminhões.
Alguns anos mais tarde, os irmãos, que trabalhavam na região, decidiram fazer viagens para mais longe, como Rio de Janeiro, Goiás, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná e Brasília. Mas no fim de 2010 Altevir e Alcione optaram por não viajar mais para fora e ficar somente pela região, novamente.
“É ruim ficar muito tempo longe da família. Nós ainda ficávamos no máximo uma semana fora, mas o pai, por exemplo, ficava mais de um mês longe e na época não tínhamos o contato fácil por telefone, como é hoje em dia”, lembra Altevir.
Atualmente, os irmãos saem de Brusque e vão para Itajaí, onde carregam os caminhões e distribuem a carga nos municípios da região. Apesar das dificuldades e perigo enfrentado por quem dirige pelas estradas, Altevir garante que só pretende largar a profissão quando se aposentar. “Não tenho intenção em parar tão cedo ou mudar de profissão. É isso que eu gosto e que sei fazer bem”.
Alcione também não tem pretensão de largar a profissão de caminhoneiro, mas ainda carrega consigo um velho sonho: “ganhar na Mega Sena, comprar uma transportadora, comprar um caminhão bom só para ser o primeiro da fila a carregar a carga e poder chegar em casa no dia certo”.
Sonho de criança
O neto mais velho de José, Túlio Henrique, cresceu em meio aos caminhões e desde pequeno desejava seguir os passos da família. Porém, os pais Altevir e Jucinara, sabendo das dificuldades da profissão, conseguiram, aos poucos, tirar da cabeça do menino o grande sonho.
A mãe lembra de quando o filho era pequeno e assim que aprendeu a falar, durante as orações trocava a palavra caminho por caminhões. “Antes de dormir, eu ia falando a oração para ele repetir: anjinho da guarda, meu bom amiguinho, me leve sempre, pelo bom ‘caminhão’, ele dizia e não tinha jeito de mudar. E assim foi até os quatro anos”.
Hoje, aos 15 anos, Túlio já sabe dirigir caminhão e gosta bastante dos veículos, porém não é sua vontade seguir a profissão do avô, pai e tio. “Quero ser oficial de Justiça e me manter na área do Direito”, conta o adolescente.
Lembranças das estradas
Dos 34 anos de estrada, o caminhoneiro José Taboni guarda grandes lembranças, tanto das boas quanto das piores. Entre as memórias positivas que carrega, lembra do dia em que se encontrou com a dupla sertaneja João Paulo e Daniel em um posto de combustíveis. A dupla, ainda no início da carreira, pediu informação a ele de como ir para o Mato Grosso.
“Eles estavam no ônibus da dupla e o Daniel ainda perguntou se eu já tinha jantado, para ir até o restaurante com eles. O João Paulo já era mais na dele, humilde e mais tímido”, lembra.
Dos momentos que prefere esquecer, José se recorda da tragédia ocorrida na família no início de sua carreira. Em 1981, enquanto ainda trabalhava por conta própria, na roça, o caminhão que dirigia tombou e o irmão morreu no acidente. Neste período decidiu desistir da profissão, até ser convencido novamente a voltar como funcionário em uma empresa, três anos mais tarde.
Outro momento marcante de forma negativa em sua profissão foi há oito anos, um ano antes de parar de viajar, quando foi assaltado. José vinha de São Paulo e quando chegou em Curitiba, no Paraná, uma carreta começou a fechá-lo na estrada.
“Eu achei que o motorista havia dormido ou passado mal. Então parei no acostamento, neste momento um assaltante já estava agarrado na porta do caminhão”, conta.
Os criminosos entraram no caminhão e andaram, junto com José, por duas horas, até que o abandonaram em um matagal, há 8 km de distância. “Eles estavam armados e só diziam para eu não falar nada e apenas responder o que perguntavam. Foi um susto muito grande”, comenta.
Depois deste acontecimento, José começou a sofrer com dores na coluna e decidiu se aposentar definitivamente.
Proteção divina
Para dirigir pelas estradas Brasil afora, a família Taboni sempre pediu a proteção divina de dois santos: São Cristóvão e Nossa Senhora de Aparecida. “Quando rezo, é sempre para os dois e acredito que sempre me guiaram”, garante Altevir.
Além das orações, a família sempre participa das festas em homenagem ao santo padroeiro dos motoristas. “É um momento muito bonito e legal. É emocionante ver aquele monte de caminhão reunido em carreata”, diz o patriarca.