Japão combina infraestrutura e educação na prevenção a desastres naturais
O Município esteve no país asiático para compreender o que Santa Catarina pode aprender com os japoneses
Por Evandro de Assis
A evolução do Vale do Itajaí na prevenção de desastres naturais nos últimos 10 anos acompanha um movimento que envolve os governos estadual e federal, com influência do exterior. Depois das chuvas torrenciais de novembro de 2008 e da catástrofe climática de 2011 na serra do Rio de Janeiro, o Brasil passou a dar maior atenção ao tema.
Um processo apoiado de perto por especialistas ligados à Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), que conhecem as bacias dos rios Itajaí-Açu e Itajaí-Mirim desde as enchentes da década de 1980.
Mas por que técnicos de tão longe se interessam pelos desastres de Santa Catarina? A convite da Jica, O Município passou duas semanas no Japão em outubro deste ano para compreender melhor essa aproximação e o que Brusque e região podem aprender.
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Devido à topografia acidentada e à variedade de fenômenos, os japoneses desenvolveram tecnologia e protocolos de ação que são referência no mundo. Há mais de 60 mil barragens de diversos tipos espalhadas pelo país. Ao trafegar por estradas é comum ver barrancos inteiros cobertos por concreto. Os rios são frequentemente canalizados e têm o fluxo controlado.
Em Santa Catarina, a Jica geralmente é relacionada aos projetos de grandes obras, como a futura barragem de Botuverá. Menos conhecido é o esforço japonês para educar a população e preparar o corpo técnico dos órgãos públicos.
“Medidas não estruturais são mais econômicas e geram resultado imediato, primeiramente para mapear o risco e conscientizar as pessoas. Depois, cada pessoa pode tomar sua definição para se proteger”, explicou em Tóquio Chiaki Kobayashi, vice-diretor da Jica para Redução do Risco de Desastres.
Não por acaso, esse tipo de medida foi priorizada no projeto Gides, encerrado em 2017, em que a Jica cooperou com técnicos catarinenses e transferiu tecnologia.
Um museu de desastres
A região Sudoeste do Japão, onde fica a cidade de Fukuoka, é uma das mais atingidas por inundações, enxurradas e deslizamentos de terra. As montanhas cobertas de verde lembram os vales de Santa Catarina.
Na cidade, que tem 1,6 milhão de habitantes, há um Centro de Prevenção de Desastres, um museu público destinado a ensinar sobre tufões, terremotos, chuvas torrenciais e até incêndios. Os visitantes podem experimentar em simuladores a sensação de um terremoto de 7 graus na escala Richter ou ventos de 50 km/h. Profissionais do centro percorrem escolas, empresas, condomínios e hospitais disseminando boas práticas de prevenção.
Outra estratégia japonesa é não parar de falar em desastres em tempos de calmaria. Datas nacionais e locais, que geralmente lembram tragédias do passado, garantem que o assunto permaneça na agenda das comunidades.
Mapas detalhados de risco estão à disposição da população. Tendo conhecimento deles, basta prestar atenção aos alertas meteorológicos e às orientações das autoridades. Em caso de impacto direto, as pessoas são treinadas para, em primeiro lugar, garantir a própria segurança. Depois, ajudar quem está próximo. Só então devem aguardar a ação de órgãos públicos.
Tragédias ainda acontecem
Mas apesar da expertise desenvolvida ao longo de 70 anos, o Japão ainda é palco de grandes tragédias. Em julho de 2018, 225 pessoas morreram nas regiões de Hiroshima e Fukuoka, por exemplo. A maioria vítima de enxurradas e deslizamentos em áreas de risco.
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“Os alertas foram emitidos corretamente, mas houve moradores que não evacuaram as casas. Temos um desafio de como conscientizar os moradores dessas áreas”, avalia o engenheiro Toshiya Takeshi, que atuou no Brasil pela Jica.
“As pessoas acham que um desastre nunca vai acontecer com elas, que sempre vão estar sãs e salvas”, lamenta o funcionário do Centro de Prevenção a Desastres, Tomonori Koga.
O exemplo japonês ensina que os esforços para minimizar os efeitos de grandes tragédias devem ser contínuos, e que a educação dos cidadãos pode ser tão ou mais importante que obras de concreto.