Jefferson Renan superou desconfiança da torcida para se tornar ídolo do Brusque
Desde 2017 no quadricolor, ponta começou decolagem no ano seguinte e hoje tem seu nome escrito na história do clube
Desde 2017 no quadricolor, ponta começou decolagem no ano seguinte e hoje tem seu nome escrito na história do clube
Quando ele parte pela ponta direita, a torcida no Augusto Bauer já se agita, esperando algum lance de perigo ao adversário, algum drible, alguma jogada de efeito, mas Jefferson Renan precisou superar diversos obstáculos até chegar ao Brusque e conquistar o status de ídolo em uma equipe inigualável da história do clube.
Revelado no futebol pernambucano, o ponta direita do Marreco enfrentou uma lesão grave e as mortes do pai e do avô na mesma época, além dos tradicionais problemas de salários atrasados. E no Sul do Brasil, conquistar o torcedor não foi tarefa fácil.
O pernambucano Jefferson Renan nasceu em 18 de março de 1993 em São José da Coroa Grande, município com cerca de 20 mil habitantes que está na divisa com Alagoas. Passou a infância na Várzea do Una, um pequeno povoado do município conhecido pela sua praia. Sempre jogando futebol, era reconhecido por sua habilidade, mas foi a separação de seus pais que levaria o garoto de 13 anos a Recife para ter suas primeiras oportunidades a sério como atleta.
“Meu pai foi para Salvador, minha mãe para Recife. Fiquei um tempo ainda morando com meu avô em São José da Coroa Grande e, depois que a minha mãe se acertou em Recife, me chamou para eu morar com ela. Sempre tinha muito contato com meu pai, mesmo ele morando longe. Meu pai foi tudo pra mim, é um guerreiro, batalhador como a minha mãe”, comenta.
Na escolinha de futebol Vasco, em Recife, sem ligações com o clube carioca, seu técnico, que se tornou um de seus grandes amigos, fez uma proposta para que jogasse futebol de campo no Clube das Águias. Três anos depois, quando Jefferson Renan tinha 16, surge a proposta do Porto, de Caruaru, um clube formador com infraestrutura de qualidade. Nestes anos, foi emprestado para o Uberlândia (MG) e para o Náutico.
“Quando recebi a proposta do Porto, falei com a minha mãe, ela ficou feliz, mas com um pé atrás, porque eu era muito novo e iria me mudar novamente [Caruaru fica a cerca de 130 km de Recife]. Ficava me perguntando o tempo todo se era isso que eu queria”. Mas ele estava convicto, e assim começou sua carreira.
Em 2015, quando jogava pelo Náutico, Jefferson Renan rompeu os ligamentos do joelho esquerdo em uma partida contra o Central, de Caruaru. Dois meses depois, o jogador enfrenta a perda de seu pai, vítima de uma doença genética respiratória, e no mês seguinte é seu avô paterno quem falece. Foi o pior momento para a carreira e para a vida do então jogador do Timbu.
“Isto ficou marcado para sempre na minha vida. mas tive minha esposa ao meu lado, para continuar com a cabeça boa e me manter naquele momento, que foi o pior”, completa.
Em 2017, o Náutico afastou 11 jogadores que não aceitavam reduções de seu salário, e entre eles estava Jefferson Renan. Com salários atrasados, o jogador relata que o Náutico não conseguiu cumprir um acordo. A única saída foi acionar a Justiça. A consequência foi ficar afastado do time principal por três meses.
Com uma transferência para o futebol grego que deu errado nos momentos finais das negociações, Jefferson Renan teve a opção do Brusque em 2017, incentivado por João Carlos, então lateral direito do clube.
O ponta chegou em setembro, e lembra que passou por muitas dificuldades de adaptação. “Chegando do Nordeste aqui, em certos jogos havia um momento em que alguns torcedores falavam algumas besteiras, acabava sendo difícil. Eu era muito criticado. Mas eu soube superar essas questões, sou muito feliz aqui. Em dois anos, construí uma história dentro do clube.”
A situação começa a mudar a partir do segundo semestre de 2018, com atuações consistentes e a resposta dentro de campo. Besteiras, cornetas e xingamentos se transformaram em elogios. Na Copa Santa Catarina, foram cinco gols marcados e o título individual de melhor jogador da competição.
Na Série D, Jefferson Renan foi fundamental para o acesso, com quatro gols. Foi dele o gol que abriu o placar sobre o Boavista (RJ) nos acréscimos do primeiro tempo, no Augusto Bauer, abrindo caminho para a vitória por 3 a 0, uma etapa inicial na qual o adversário buscava matar tempo a todo custo. Na cobrança de falta de Aírton para a área, Ianson desviou de cabeça. Jefferson Renan ficou com a sobra, limpou a jogada para cima de Gabriel Cassimiro e mandou com estilo no ângulo direito de Marcelo Pitol.
“Não sei se estou marcado na história do Brusque. Mas sou honrado por jogar nesse clube. Com o grupo que nossa equipe tem, reduzido, todo mundo se juntou e nos unimos em torno do objetivo, que era subir para a Série C. Hoje estamos em uma final de Série D. Eram 68 clubes ali, mas dois permaneceram. Um deles é o Brusque.”
Entre todo o elenco, que possui uma relação de amizade, Jefferson Renan pode ser visto nos treinos quase sempre em uma resenha com o zagueiro Ianson. “É uma amizade muito boa, verdadeira. Conversamos sobre questões do jogo, porque ele joga muito pelo meu lado, pela direita. Temos uma afinidade, sobre família e futebol. E nosso grupo é uma família”, explica.
Com contrato até o fim de 2019, Jefferson Renan não esconde que é assediado por outros clubes, mas ressalta que o pensamento está no quadricolor. Ele chegou a receber uma proposta do CRB, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro, ao fim do Catarinense, mas o acordo não foi fechado.
“Recebo muitas e muitas ligações. Se eu disser que eu não recebo, eu to mentindo pra você. Há ligações, propostas, mas meu foco é aqui, no Brusque. Um título de Série D, por exemplo, seria a maior conquista da minha carreira. Esta Série D e o Brusque certamente vão ficar marcados na minha memória para sempre.”
“Tenho um carinho imenso pelo clube, pela cidade, que é maravilhosa, mas a ideia é sempre crescer, sempre deixei isto claro. Não cheguei aqui sendo o cara. Hoje sou muito feliz, por tudo que o clube vem me proporcionando e que vem mostrando, com intenção de ser uma força grande em Santa Catarina e no futebol brasileiro”, encerra.