Jesus moralista?
Não são poucos os que leem o Evangelho com olhar de moralista. Mas, será que Jesus veio pregar, prioritariamente, uma nova moral? Creio que não. Jesus não é moralista. Nós é que moralizamos o Evangelho. Pelo contrário, Jesus veio trazer uma Proposta de vida, Proposta de libertação que gera nova vida, um novo estilo de vida. Ele é essa Proposta de vida.
Então, é a aceitação, a adesão e a entrega à sua Pessoa que precede toda e qualquer outra atitude. É crer na sua Pessoa. Portanto, a primeira atitude é de fé. E porque creio na Pessoa de Jesus também creio em sua palavra e testemunho. Por isso aceito segui-lo e aceito seu modo de viver, seus valores e os valores de sua proposta de vida. Daí, nasce uma nova Ética e uma nova Moral. Moral é, portanto, decorrência de uma fé, do seguimento de Cristo.
O olhar de Jesus é muito diferente do nosso, quase sempre. O olhar de Jesus não é inquisidor, olhar de julgamento, de juiz implacável que aplica friamente a lei, a norma estabelecida. Ao contrário, Jesus, por toda a sua existência ensinará o olhar que não julga, inclusivo, o olhar misericordioso. Basta lembrar o olhar de Jesus para o cobrador de impostos Zaqueu, o olhar para Samaritana no poço de Jacó, o olhar de Jesus para as mulheres que o acompanhavam na “via crucis” para o Calvário, o olhar de Jesus para o bom ladrão crucificado com ele, e tantos outros olhares presentes no Evangelho.
Muitas vezes, nós colocamos no centro da relação entre o ser humano e Deus o pecado, fazendo quase sempre a coluna vertebral da nossa vida religiosa. Certamente, é um erro moralista do mesmo tamanho daquele dos fariseus do tempo de Jesus. Jesus não é moralista porque coloca no centro a pessoa inteira com suas misérias sim, mas também com sua bondade íntima, com sua carne, mas também com suas sofridas lágrimas, não a lei. O olhar de Jesus é um olhar libertador, jamais de condenação pura e simples. É um olhar inclusivo e compassivo que incita a renovação, a mudança de vida.
Jesus é alguém que sempre olha o ser humano, sabendo de sua fraqueza e limitações, antes de vê-lo como culpado e com o intuito de libertá-lo. Sabe que não é um ser perfeito, passível de quedas. Mas também capaz de se soerguer e mudar de vida. Por isso não olha o passado do ser humano, mas o amor de hoje e de amanhã que alguém arrependido demonstra e a vontade firme de renovar a vida. De desfazer-se da “vida velha” do passado e assumir a “vida nova” que nasce do encontro com ele, com seu perdão que liberta e que impulsiona para um amanhã diferente e mais rico de vida.
Jesus veio não para condenar, mas para salvar a todos. Por isso sua proposta de vida não de condenação, mas de libertação, de salvação. Não é a lei que rege a vida do seguidor (a) de Jesus, mas o amor. Para a mulher que Jesus encontrou na casa de Simão que o havia convidado para um jantar, aquela mesma que lavou os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos, Jesus lhe disse: “porque muito amou, muito lhe foi perdoado”.
É tão fácil para nós, quando olhamos os outros ver as falhas das pessoas, não ver as pessoas inteiras, com as suas necessidades e a suas lágrimas, mas ver a norma aplicada ou violada. Generalizar, empurrar as pessoas dentro de uma categoria, classificar. E assim alimentamos a dureza do coração, a doença mais temida por Jesus. Transformamos-nos em burocratas das regras e analfabetos do coração; não encontramos a vida, mas só nosso preconceito.