João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

A bagagem imigratória dos 55 colonos pioneiros

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

A bagagem imigratória dos 55 colonos pioneiros

João José Leal

Ao deixarem a sua terra natal, a sua nação germânica, para embarcarem numa sacrificante viagem transatlântica e viver em terras da América, os imigrantes alemães que fundaram a Colônia Brusque, aqui aportaram trazendo a sua bagagem. Muita coisa material não trouxeram porque a pobreza tinha sido a causa da dolorosa partida em busca de uma nova vida de esperança e prosperidade.

Se casados fossem, é claro, com eles vinham as mulheres e filhos. No coração de cada um, casado ou solteiro, vinham também a tristeza e a saudade dos familiares e amigos que, na pátria alemã, haviam ficado para sempre. Não eram apenas tristeza e saudade as suas companheiras de viagem. Documento de identidade não pode faltar no bolso do viajante com destino a outras terras além-mar. As nações ainda têm fronteiras, essas cercas invisíveis que nos fazem ser brasileiro ou estrangeiro. E, sem passaporte para se provar quem se é e de onde se vem, todas as portas se fecham.

Na viagem transatlântica, os desbravadores das terras do Itajaí-Mirim, não deixavam de trazer o tradicional baú. Nessa arca de madeira europeia pós-diluviana das travessias marítimas, vinha a escassa e pobre indumentária da família e alguma roupa para enfrentar as sofridas noites de insônia, enjoos e balanço sem fim. Aqueles navegantes de primeira viagem, homens, mulheres e crianças acostumados à vida rural de tranquilo sono, jamais esqueceriam os dias e noites passados a bordo daquela nau chacoalhante, lentamente singrando as águas oceânicas rumo ao continente americano.

Ferramentas e objetos pessoais, poucos, porque transportar custava muito para quem partia fugindo de uma vida de miséria, também integravam a bagagem dos imigrantes que aqui aportaram. Sem dinheiro, ninguém vai longe. E, no bolso, os colonos pioneiros traziam a pequena economia juntada de um trabalho agrícola que já não lhes rendia para a sobrevivência. Alguma ajuda dos parentes que ficaram para trás sempre era bem-vinda.

Carregavam, ainda, o seu patrimônio cultural, seus costumes e suas tradições, que podem ter se transformado ao longo dos tempos, mas continuam preservados pelos eventos artísticos, festivos, recreativos e religiosos que se repetem em nossa comunidade.

Aqui chegavam falando e escrevendo em alemão, a Língua na qual haviam sido criados, alfabetizados e educados. Por muito tempo, a Colônia Brusque seria um pedaço da Alemanha no sul do Brasil. Num país católico, parte dos imigrantes trouxe consigo a sua fé evangélica luterana, contribuindo para o reconhecimento do pluralismo religioso num país onde o catolicismo era religião oficial de Estado.

Finalmente, penso que nas veias de cada um deles corria o sangue da bravura e da vontade ferrenha de ser um vencedor em terras da América. E todos, no recôndito de suas almas desbravadoras, carregavam o sonho de construir uma comunidade de bem-estar para os seus filhos e as gerações posteriores.

Depois de amanhã, Brusque estará completando163 anos de fundação. Mais que um feriado, deve ser um dia para relembrar a saga dos 55 imigrantes pioneiros que fundaram a Colônia Brusque, hoje, a próspera cidade em que vivemos.

 

 

 

 

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