João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Amazônia: curiosa seca do Rio Negro

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Amazônia: curiosa seca do Rio Negro

João José Leal

Ao longo de minha já longa vida, muita leitura fiz, muitas fotos e vídeos vi da Amazônia e de sua vasta bacia fluvial, a maior deste planeta Terra que está secando, caminhando rápido em direção a uma grave crise de água, segundo afirmam os mais rigorosos ambientalistas. Tudo o que li, todas as imagens que tinha visto, no entanto, não me disseram nem me mostraram, enfim, não me valeram tanto quanto a viagem pelo rio Negro, que fiz na semana passada.

Foram quatro dias navegando rio acima pelo seu largo leito, ancorando em alguns dos seus inúmeros braços que mais parecem enormes baías da costa marítima; cruzando em frente à foz de afluentes tão grandes quanto nossos maiores rios do sul do país; contornando centenas de ilhas, grande parte delas sem viva alma, ali residente.

Só no Arquipélago das Anavilhanas, por onde navegamos, são mais de 400 pequenas e grandes ilhas. Navegar de ponta a ponta em frente das maiores, são muitos minutos e a impressão é de que estávamos em frente à terra firme do continente.

Na Amazônia, tudo é imenso e se revela numa dimensão superlativa. É o caso, infelizmente, do tamanho da seca do rio Negro, cujas águas já haviam baixado mais de 14 metros, causando uma seca jamais vista. Todos sabem que a estiagem é um fenômeno se repete a cada ano, no período de maio a setembro. Mas, este ano as águas baixaram muito além da média histórica.

Realmente, do porto de Manaus até o destino final da nossa navegação, a paisagem escancarava a altura das barrancas antes cobertas pelas águas em abundância. Enormes bancos de areia emergiam do leito ainda caudaloso e largas praias de fina areia branca se estendiam ao longo de todo o percurso.

Os infindos e pequenos ribeirões, os igarapés, que serpenteiam em meio à floresta sem fim e os igapós com suas águas que invadem as ilhas e uma grande faixa das terras ribeirinhas para deixar a mata submersa, há muito haviam secado.

O que impressiona é que, embora seja uma estiagem severa como nunca registrada, é uma seca em meio a uma paisagem verdejante e uma vasta floresta exuberante cortada pelo largo, profundo e caudaloso rio Negro, em cujo leito corre lentamente uma grande abundância de água doce.

Na verdade, é uma curiosa seca, sentida e medida pelo baixo nível das águas, cujas marcas podem ser vistas no muro do longo cais do porto da capital amazonense, nas margens transformadas em extensas praias e nas ilhas livres das águas invasoras dos igapós. Curiosa ou estranha porque água não falta no leito caudaloso do rio Negro!

Vi também que, conformado e resiliente, o amazonense sabe que o tempo da estiagem vai terminar. Em novembro, as chuvas copiosas voltarão para levantar o nível do Negro e dos muitos outros rios da maior bacia fluvial do mundo. Então será o tempo do inverno amazonense, das chuvas de todos os dias e temperaturas mais amenas. É o tempo das moções amazonenses e os manauaras marcarão os seus compromissos antes ou depois da chuva.

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