João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Ano Novo: Feliz 2022

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Ano Novo: Feliz 2022

João José Leal

Como sempre, em matéria de estatística oficial, as autoridades de Balneário Camboriú erraram feio ao anunciar dois milhões de veranistas, vindos de longe ou de perto para a espetacular virada 2021/2022. O número de 600 mil veranistas, segundo a PM, ficou longe da exagerada previsão oficial. Mesmo assim, como em outros verões, não se pode negar que uma multidão ocupou parte da agora alargada praia central da Dubai brasileira.

O último dia do ano de 2021 amanheceu como a querer estragar a festa. Embrumado e chuvoso, assim permaneceu até as cinco da tarde. Então, o tempo atendeu às profanas preces dos veranistas. Para a alegria dessa gente disposta ao prazer lúdico e à ociosidade sem hora para acabar, o sol amigo brilhou em meio a um céu azulado. E uma procissão, que só terminaria nos últimos minutos do ano, rumou para ocupar parte praia, do Pontal Norte à Barra Sul.

Vista de cima, a praia semelhava a um acampamento de refugiados. Não de gente sofrida fugindo de uma guerra ou de uma calamidade da natureza, mas de milhares de nativos e turistas, essas aves de arribação vindas dos cantos mais distantes deste festivo país. Ali estavam a curtir suas férias e, certamente, a fugir por alguns dias das suas labutas e dos seus problemas cotidianos.

Era uma selva de barracas, ombrelones, cadeiras e de caixas térmicas abarrotadas de cerveja, a bebida preferida porque na praia cachaça não fica bem. Espumante, cada vez mais popular, também não poderia faltar para o brinde ao último suspiro do ano a terminar e aos primeiros momentos da euforia por um novo tempo a ser vivenciado. Afinal, festa de final de ano é euforia movida a bebida alcóolica até o ano seguinte.

Finalmente, o tão esperado momento da virada, esse átimo temporal que marca o final de um ano acabado e que, no mesmo instante, anuncia o começo de um novo tempo a ser vivido. Em coro, milhares de vozes ecoaram pela praia inteira para a contagem regressiva do Novo Ano. Abraços e votos de paz, felicidade e saúde, ficaram para depois. Os tradicionais votos de um Feliz 2022 ficaram por conta da Grande Roda. Afinal, publicidade é a alma do negócio.

Então, os milhares de olhos se voltaram para o show pirotécnico que logo se desenhou, a fogo e a cores, acima das ondas que lentamente deslizavam em direção à areia da praia. Houve falha na sincronização. No Pontal Norte, o show atrasou mais de 10 minutos. Mas, ninguém notou e todos aplaudiram. E, nesse momento mágico, as cucas já inebriadas pelo efeito euforizante do álcool se encheram de ilusão e fantasia, diante do pipocar do foguetório que projetou uma multicolorida e luminosa chuva a flutuar por breves instantes na infinita escuridão do grande e infinito ciclorama oceânico que contorna a orla da praia.

Por 20 minutos, a esperança de dias de paz, a utopia de uma vida de felicidade e sonhos infinitos povoaram as milhares de mentes daquela gente, veranistas pé-na-areia. Enquanto isso, do alto das sacadas e janelas envidraçadas, a elite praiana certamente só desejou continuar sua boa vida de conforto e bem-estar social.

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