Ao pai e mestre, com muito carinho, feliz aniversário!
Por Cristina Maria Leal, Rodrigo José Leal e Paula Maria Leal
Em 9 de janeiro desse ano, nossos pais comemoraram 50 anos de casamento. Para celebrar esse marcante momento, nossa família participou de uma missa na igreja São Sebastião, em Balneário Camboriú. Nessas ocasiões, é costume o padre socializar, ao microfone, o nome completo dos cônjuges que celebram bodas de ouro.
Terminada a missa, todos os desconhecidos fiéis foram embora, exceto um casal e seus dois filhos que, pacientemente, aguardaram nossos momentos privados de fotografias e de agradecimentos ao padre. Saindo da igreja, o desconhecido casal se aproximou e, o homem, educadamente, perguntou:
“Com licença, o senhor é o professor Leal, de Brusque?”
Surpreso, nosso pai respondeu: “Sim, sou eu”.
Continuou o homem: “Graças ao senhor, me tornei juiz de direito no Paraná, e quero lhe agradecer muito por isso”.
À época seminarista em Brusque, o ex-aluno seguiu falando que as aulas do professor Leal, durante o curso de Filosofia, despertaram seu interesse pelo universo do Direito. Pouco a pouco, segundo o jovem seminarista, as aulas sobre justiça tomaram o espaço dos mistérios da fé.
Foi então que o ex-aluno contou-nos que se viu no dilema: permanecer com os estudos sacerdotais ou caminhar às obras de justiça dos homens? O ex-aluno resolveu recorrer ao mestre.
Foi aí que nosso pai, de modo acolhedor e cativante recebeu, fora do horário de aula, o jovem seminarista, em seu gabinete, na promotoria de justiça, em Brusque. Mostrou-lhe livros, esclareceu-lhe o papel de um juiz, de um promotor, de um advogado. Esse particular momento, segundo nos disse, foi inspirador ao novel seminarista. Os demais detalhes, de uma manhã de conversa ocorrida há mais de trinta e cinco anos, permaneceram nas memórias. Seus éticos e desafiadores efeitos, contudo, permaneceram para toda uma vida. E assim foi. A Igreja deu adeus a um futuro e dedicado sacerdote. A sociedade ganhou um comprometido e preparado mediador de conflitos terrenos.
Esse casual e inesperado reencontro, entre o estimado professor e o seu respeitoso aluno, serviu como um símbolo, a nós, filhos. Ele nos apresentou, com contornos ainda mais nítidos, um dos legados que nosso pai sempre alimentou em nós, o de que o conhecimento transforma a vida das pessoas.
Ele próprio (nosso pai), foi um tijucano que sempre lembrou de suas origens humildes e encontrou no conhecimento, um caminho para uma vida de realizações próprias e em prol de seus semelhantes, sem esquecer dos mais vulneráveis. Ajudou a guiar o caminho de muita gente, a exemplo desse desconhecido seminarista, que mais tarde, tornou-se juiz de direito e exemplar cidadão. Quis a sorte que, mais de 35 anos depois, esse bondoso gesto de nosso pai fosse generosamente revelado em uma das muitas “esquinas” de sua vida pontilhada de virtudes.
Para finalizar, nós, filhos, gostaríamos de dizer, que a sua trajetória de vida é nosso principal exemplo. Sua bonita história trouxe-nos valores e ensinamentos. Sua dedicação e seu incansável estímulo à educação, à justiça, à cultura, aos mais humildes e ao meio ambiente, despertaram em nós, uma sensibilidade maior com esses valores que se constituem de grande importância para a nossa formação. Por isso, sentimo-nos felizes em dedicar esse texto, ao nosso amado e querido Pai, pela passagem, no próximo dia 14, de seus bem vividos oitenta anos de vida!