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Brusque do pão assado em forno a Lenha

Cheguei a Brusque para exercer o cargo de Promotor Público, no final de 1971. Encontrei uma cidade ainda pequena, sem o burburinho e a agitação da vida das grandes cidades. Na Brusque daqueles anos, todas as pessoas se conheciam. Ao menos, todos se cumprimentavam, com um sempre amistoso “Bom dia” ou “Boa tarde”. Hoje é […]

Cheguei a Brusque para exercer o cargo de Promotor Público, no final de 1971. Encontrei uma cidade ainda pequena, sem o burburinho e a agitação da vida das grandes cidades. Na Brusque daqueles anos, todas as pessoas se conheciam. Ao menos, todos se cumprimentavam, com um sempre amistoso “Bom dia” ou “Boa tarde”.

Hoje é diferente. Geograficamente, Brusque continua no mesmo lugar, mas sua população cresceu bastante. Além disso, o enorme avanço dos meios de transporte e de comunicação social e agora da internet, derrubou barreiras, reduziu distâncias e espancou qualquer sentimento de isolamento. Neste tempo de comunicação virtual instantânea e sem fronteiras, vivemos numa imensa arca cibernética, todos conectados a navegar num oceano globalizado.

A verdade é que a vida social e os costumes brusquenses mudaram bastante, o que é natural, pois cada época tem as suas práticas vivenciais e o seu código moral.

A comunidade que encontrei quando aqui cheguei, certamente como as demais daquela época, ainda vivia segundo a tradição do pão nosso de cada dia sovado em cima da mesa por donas de casa-mães de muitos filhos, quase sempre mais do que os dedos de uma mão. Eram mulheres dedicadas à faina doméstica, à labuta incessante marcada pelo lema “Lar Doce Lar” bordado num pano pendurado na parede da cozinha.

Um dos muitos afazeres dessas então eufemisticamente chamadas “donas” de casa, era a produção do pão caseiro semanal assado num forno a lenha. Lembro-me bem daquela pequena construção de tijolos nos fundos do quintal de cada casa, com chaminé e uma boca frontal aberta por onde se colocava o combustível vegetal a ser queimado até virar brasa. Então, eram colocadas as formas com o pão sovado à força das mãos dessas bravas e sofridas amélias, as rainhas do lar de uma sociedade patriarcal que acabou engolida pelo tempo.

Muitas vezes, para aproveitar a lenha que já não se produzia com abundância, galinhas criadas no terreiro da propriedade ainda não verticalizada também eram assadas para o ágape dominical, junto com o trigo transformado em pão, este o alimento de cada dia da grande família.

Nos anos 1980, principalmente após a grande enchente de 1984, a cidade enveredou pelo caminho da verticalização. As casas foram sendo demolidas e seus quintais cederam espaço aos prédios de apartamentos. Pouco a pouco, panificadoras e supermercados foram surgindo para extinguir as últimas labaredas daquelas fornalhas caseiras, que desapareceram da paisagem urbana brusquense.

E o pão, esse alimento milenar que nos dá o sustento de cada dia, passou a ser concebido fora do lar abençoado.