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Café da manhã com telefone celular

  Estava eu no restaurante do hotel para a primeira refeição do dia que nós, brasileiros, chamamos de café-da-manhã, este primeiro encontro com o pão que alimenta a vida. Ali, o apetite parece algo contagiante. Todos chegam ao salão com uma fome de leão. E, quanto mais gente, mesas lotadas, maior é o agito, o […]

 

Estava eu no restaurante do hotel para a primeira refeição do dia que nós, brasileiros, chamamos de café-da-manhã, este primeiro encontro com o pão que alimenta a vida. Ali, o apetite parece algo contagiante. Todos chegam ao salão com uma fome de leão. E, quanto mais gente, mesas lotadas, maior é o agito, o vai-e-vem na busca incessante do alimento. Enchem pratos com frutas, copos com suco, voltam repetidamente para abarrotar outros pratos com pães, omelete, fiambres e queijos. Poucos deixam de retornar para o arremate com bolos e tortas. 

Observei aqueles hóspedes ao meu redor, a mesa tomada por pratos cheios da comida matinal. Neste novo tempo da cibernética, desde os primeiros instantes da manhã ao minuto final de cada dia, a vida humana desfila sem parar na passarela virtual cósmica e infinita das redes sociais. Notei que a maioria dos hospedes, idosos e jovens, gente de todas as idades, tomavam a sua primeira refeição com o olhar fixado na telinha mágica do celular, esse inseparável aparelho sempre nas nossas mãos. 

Imagino que uns, certamente os mais velhos, querem saber das primeiras notícias do dia, o telefone agora transformado em mensageiro das informações antigamente lidas no jornal entregue em nossas portas, comprados na banca da praça da cidade, ouvidas pelas ondas sonoras da rádio ou, então, à noite, assistidas na TV, sentados no sofá da sala. 

Outros, curiosos para saber das últimas mensagens postadas nos seus grupos do Face e do ZapZap. Neste novo tempo pós-moderno de internet, todos nós temos as nossas tribos de amigos, cada um querendo vender o seu peixe, que significa repassar mensagens recebidas, numa cadeia infinita e circular. Outros, ainda, marinheiros de primeira viagem, entre um prato e outro, sacam selfies para mostrar à família e aos amigos a fartura do café-da-manhã do hotel. 

A grande mudança chegou. Agora, celular nas mãos, todos nós temos o conhecimento, a informação, as notícias, as fofocas, os abraços, os parabéns, os pêsames, os beijos dos amigos e dos entes queridos chegando em tempo real, instantaneamente, em nossas mãos. Enfim, temos o mundo literalmente em nossas mãos na fantástica telinha do telefone celular.   

Neste novo tempo de comunicação virtual, internet é produto de primeiríssima necessidade, comanda as nossas emoções e conduz as nossas vidas. E, se comer é preciso, a internet é indispensável. Olhando os hóspedes tomando o seu café-da-manhã, olhares fixados na telinha iluminada, verifiquei que o apetite, pode até continuar sendo influenciado pelo coletivo, mas agora parece transformado numa sensação puramente virtual. 

Vi o alimento sobre a mesa, os hóspedes sem comer e o café esfriando. O importante mesmo é o maná virtual colhido na tela mágica de um celular.