Campanha da Fraternidade 2023: dar de comer a quem tem fome
Desde 2005, terminadas as férias e silenciados os últimos toques dos tamborins e clarins carnavalescos, tenho aproveitado o tema da Campanha da Fraternidade para escrever minha crônica da quarta-feira de cinzas. Como sempre, será uma simples abordagem política e social sobre o tema deste ano – Fraternidade e Fome – que gera doença e morte, […]
Desde 2005, terminadas as férias e silenciados os últimos toques dos tamborins e clarins carnavalescos, tenho aproveitado o tema da Campanha da Fraternidade para escrever minha crônica da quarta-feira de cinzas. Como sempre, será uma simples abordagem política e social sobre o tema deste ano – Fraternidade e Fome – que gera doença e morte, humilhação e vergonha e que afronta a dignidade das pessoas que não têm o que comer.
Nunca é demais lembrar que a fome tem sido um flagelo a açoitar a saúde física e mental de boa parte da humanidade e de muitos brasileiros. Embora a produção de alimentos tenha aumentado significativamente, não são poucos os que, em todo o mundo, ainda passam fome. Relatório da ONU publicado no ano passado apontou que mais de 800 milhões de pessoas foram afetadas pela fome em 2021, em todo o mundo.
No Brasil, em 2021, foi realizado um inquérito sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19. O estudo levantou a cifra de 33,1 milhões de brasileiros que responderam estar inseguros quanto à garantia de sua alimentação. Mas, isso não quer dizer que todos estavam passando fome, como equivocadamente afirmou a ministra Marina Silva. É evidente que a maior parte dos integrantes desse sinistro contingente não vive com fome permanente porque a consequência seria a morte de grande parte dessas pessoas.
Tanto que o estudo refere-se aos que se sentiam afetados pela fome, àqueles que, de forma frequente ou ocasional, enfrentavam uma situação de “insegurança alimentar”. Trocado em miúdos, isso significa dizer que, no momento da pesquisa, essas pessoas enfrentavam “incertezas sobre sua capacidade de obter alimentos”. Provavelmente, a calamidade sanitária criada pela pandemia da Covid-19 aumentou essa terrível sensação de incerteza alimentar. Seja como for, o fato é que muitos brasileiros sofrem com a fome crônica ou ocasional.
Daí a relevância do tema da Campanha da Fraternidade, que está sendo lançada nesta manhã pela Igreja Católica. O tema, conforme consta do texto oficial, visa despertar o espírito de caridade de todos os cristãos em face dos que passam fome. Num país que está entre os maiores produtores mundiais de alimentos, a fome de muitos brasileiros só pode ser, diz a Igreja, consequência da estrutura injusta da nossa sociedade, o que é uma triste verdade.
No documento base da Campanha da Fraternidade 2023, a Igreja propõe “refletir o tema da fome a partir da perspectiva cristã” e adverte que “qualquer discurso religioso sem uma prática de vida coerente torna-se estéril e vazio”.
O lema da CF foi pinçado de um versículo do evangelho de Mateus – “Dai-lhes vós mesmos de comer”. É, portanto, um chamado pastoral para fazermos parte dessa Campanha em favor dos que, neste país produtor de tantos alimentos, não têm comida na mesa.
Mesmo diante do discurso oficial de que não haverá mais fome nesta nação de tantas promessas políticas não cumpridas, penso que não podemos deixar de atender ao chamado que a Igreja Católica faz a todos brasileiros.