X
X

Buscar

Carnaval da terceira idade: o Bloco Chapecoense

A Covid, já dissemos, acabou com o carnaval da Terceira Idade do Alvorada do Atlântico. O jeito, então, foi falar dos bailes dos anos anteriores. Com a ironia de sempre, Maria Antônia estava contando para algumas amigas novas no condomínio, sobre o desfile da turma de Chapecó que não chegou a acontecer. Disse ela que […]

A Covid, já dissemos, acabou com o carnaval da Terceira Idade do Alvorada do Atlântico. O jeito, então, foi falar dos bailes dos anos anteriores. Com a ironia de sempre, Maria Antônia estava contando para algumas amigas novas no condomínio, sobre o desfile da turma de Chapecó que não chegou a acontecer. Disse ela que os foliões o Oeste queriam relembrar os carnavais pulados nos clubes Chapecoense e Industrial e mostrar para turma de Curitiba que, mesmo com a velhice nas costas, também tinham samba no pé.

– Vocês precisavam ver a confusão que deu. Uma das mulheres lembrou que Chapecó é a cidade do Índio Condá. Então, tiveram a ideia de formar um bloco de uns 10 casais fantasiados de índios e de índias. Chegaram a convidar alguns amigos de prédios vizinhos, veranistas até Passo Fundo e Marau, para completar o bloco carnavalesco.

– A tribo oestina estava animada. Uma semana antes, só falavam daquelas imagens dos bravos indígenas do velho Oeste montados em seus cavalos, cavalgando em meio às belas pradarias, arco e flecha nas mãos, enfrentando os tiros mortais vomitados pelos rifles do exército ianque. Diziam que Chapecó já foi terra de faroeste e que hoje, com orgulho, é a Capital do Oeste catarinense. Já se imaginavam desfilando com aqueles vistosos e imponentes cocares de penas coloridas, com aquelas belas roupas dos índios do Oeste Americano.

– Vocês sabem muito bem. Somos do tempo áureo do cinema a serviço do lazer e aquelas imagens tinham feito a cabeça de toda a nossa geração. Mas, acho que eles esqueceram que aqueles índios altos e bonitos, bem vestidos e penteados só existem na ilusão dos filmes produzidos pela fantástica máquina cinematográfica de Hollywood.

– Seria o Bloco Indio Condá. Queriam homenagear o herói de Chapecó, mas ninguém sabia quem tinha sido esse personagem histórico. Então, começou uma discussão que não acabava mais. Pra piorar, uma veranista de Xanxerê lembrou que o índio brasileiro sempre andou nu. Seria preciso muita criatividade para se fantasiar e desfilar de indígena tupiniquim, porque nudez não fica bem para a gente da terceira idade.

– Olha, a discussão pegou fogo. Só acabou quando um promotor de justiça, aposentado sem perder a mania de autoridade, advertiu o grupo sobre o perigo que estavam correndo. Parecia na tribuna do júri. Falou bem alto para dizer que, neste novo tempo, as minorias das raças e etnias de todas cores, as crenças religiosas de todos os deuses e deusas e todas opções libidinais de gênero com ou sem sexo estão integralmente protegidas pela. Assim, os velhos foliões poderiam ser processados criminalmente por discriminação contra a minoria indígena, que precisa ser protegida e respeitada.

– Amigas, para encurtar a conversa, nada de bloco de índio. As mulheres, então, decidiram desfilar fantasiadas de colombina, melindrosa e odalisca. Mas, essa é outra história.