Cartas para minha mãe
Este é o título do livro que me foi presenteado, com uma carinhosa dedicatória, pelo médico Germano Hoffmann. O livro conta um pouco da história da tradicional família brusquense e, em especial, da vida de seu pai, Moritz Germano, nascido em 1901, bem no começo do século passado. Como o título está a indicar, a […]
Este é o título do livro que me foi presenteado, com uma carinhosa dedicatória, pelo médico Germano Hoffmann. O livro conta um pouco da história da tradicional família brusquense e, em especial, da vida de seu pai, Moritz Germano, nascido em 1901, bem no começo do século passado. Como o título está a indicar, a parte mais interessante da obra é dedicada à publicação das cartas que o então jovem Moritz Germano escreveu para sua mãe Mathilde ou, como escreve do original, sua Liebe Mutter.
Redigidas em alemão, numa caprichosa e disciplinada caligrafia aprendida na Deutsche Evangeliche Schule, hoje, o nosso Colégio Cônsul, as cartas foram escritas entre 1917 e 1920. Nesse período, o jovem German trabalhou como aprendiz de padeiro, na Padaria e Confeitaria Katz, em Blumenau. As cartas foram traduzidas para o Português pela conhecida tradutora brusquense, Ursula Rombach.
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A primeira carta foi escrita em 21 de janeiro de 1917 e o jovem German fala da saudade da família que lhe atormentava a alma. Principalmente, aos domingos, único dia de folga, pela falta não só da Liebe Mutter e dos irmãos que não eram poucos, mas também dos muitos tios. Era o tempo da família numerosa, autêntica tribo unida por fortes laços sanguíneos e afetivos. Sem se queixar, porque o intenso e duro trabalho o fazia esquecer da saudade da família, Moritz Germano escreve que “à meia-noite, começa a assar pão até o meio-dia”.
Ainda nesta carta, Primeira Guerra no seu auge, seus canhões, fuzis e baionetas sacrificando a vida de milhões de soldados e civis, o bom filho German informa para sua mãe que o Imperador seria homenageado pelo aniversário, com um culto na igreja evangélica. Era uma evidência da ostensiva simpatia e, mesmo, do apoio dos blumenauenses, descendentes de alemães, ao Kaiser Guilherme II, então soberano da nação germânica em guerra contra os aliados.
Dentre as muitas outras cartas, destaco a que foi escrita em 9 de janeiro de 1919 e fala da gripe espanhola, maior epidemia enfrentada pela humanidade. Em Blumenau, muita gente adoecera. Só na Padaria Katz, cinco empregados estavam acamados. Germano também havia contraído vírus. Descreve ele, o seu sofrimento: “Era como se eu tivesse uma pedra sobre o peito”. No entanto, fiel e dedicado empregado, diz ainda que trabalhou até meio-dia, mas “eu já nada mais conseguia fazer de tão fraco, nas mãos e nas pernas”.
Então, vem o apelo filial, de socorro e de saudade: “Querida Mãe! Eu queria ir tanto para casa. A gente não poderá mesmo trabalhar logo. Pega um carro de mola e vem me buscar”.
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Aos 20 anos, depois de tentar trabalhar em confeitarias de uma Porto Alegre em crise, Moritz Germano retornou a Brusque para começar o seu próprio negócio de fazer pães para o alimento das manhãs dos brusquenses. Tinha em mãos o Certificado de Padeiro, conquistado com trabalho duro, muito sacrifício e muita da saudade da sua Liebe Mutter. Estava preparado. Mais do que isso, estava determinado a ser um vencedor. Por décadas, sua casa comercial, situada na avenida Lauro Muller, marcou a história da atividade panificadora e da confeitaria brusquense.
Vale a pena ler as cartas escritas por aquele então jovem aprendiz de padeiro, que nos conta uma extraordinária e bela história de vida. Parabenizo, meu amigo, dr. Germano e a família Hoffmann pela edição do livro “Cartas para minha mãe”.