Chegou o inverno
Para a meteorologia, o inverno começa hoje, pontualmente às 11h58. Para mim, já começou no final do domingo do feriadão de Corpus Christi, com aquela chuva miúda, que depois de um período de estiagem foi recebida como uma bênção dos céus para a agricultura, jardins e até para o nosso companheiro Itajaí-Mirim. A fina chuva, […]
Para a meteorologia, o inverno começa hoje, pontualmente às 11h58. Para mim, já começou no final do domingo do feriadão de Corpus Christi, com aquela chuva miúda, que depois de um período de estiagem foi recebida como uma bênção dos céus para a agricultura, jardins e até para o nosso companheiro Itajaí-Mirim. A fina chuva, em muitos momentos não mais que uma cinzenta e quase imperceptível garoa, acompanhada de um frio úmido de gelar os ossos, continuou durante toda a noite e madrugada e se estendeu pelos dias seguintes.
Nem a manhã ensolarada desta última segunda-feira – a mais a mais gelada do ano – conseguiu espantar o frio. Na avenida Carlos Renaux, vi todos caminhando com aqueles agasalhos de poucas vezes por ano.
Na sexta-feira passada, então, foram anunciadas tempestades e fortes ventanias, que causaram sérios estragos em algumas regiões do nosso Estado. Felizmente, nós, do Vale do Itajaí, escapamos ilesos. Mas, não do ar gélido que nos fez tirar das gavetas casacos, pulôveres, até capotes e outros agasalhos cheirando a mofo. Surpresa não foi. Lembro-me de que, uma semana antes, os homens da meteorologia já haviam tudo previsto, com precisão de verdadeira ciência. Até o governador apareceu nas redes sociais de capa e guarda-chuva alertando sobre o ciclone.
A verdade é que a previsão do tempo, embora confiável, não refresca ou melhor, não esquenta a pele da gente. Senti um frio dolorido, mesmo usando agasalhos de lã e aquecedor para poder ficar em frente ao computador ou assistir ao noticiário da TV. Pouco saí de casa e não era pouca a indumentária sobre o corpo arrepiado.
Acho que a velhice, entre outros males, nos faz sentir mais frio. Tenho a impressão de que fui envelhecendo e ficando cada vez mais friorento. Lembro-me que quando jovem enfrentava o inverno sem sentir tanto frio. Enquanto vivi com os meus pais, aquecedor não tínhamos, então, privilégio de poucos. Nem no trabalho. Frequentava bailes e festas noturnas e o frio hibernal não me impedia de varar madrugadas dos finais de semana.
Ainda jovem fui trabalhar como Promotor Público na comarca de Palmitos. Passava finais de semana em Chapecó que, no inverno, tem noites e madrugadas geladas, com o frio fustigando as pessoas até a metade do dia e só aliviando se a tarde fosse ensolarada. Lembro-me de uma fotografia pendurada na parede de um dos restaurantes da época, retratando a histórica nevasca que cobriu a cidade de branco e que vestiu Chapecó de noiva, como cantou o menestrel da canção nativista. Isso, tenho guardado na memória já esbranquiçada pelo tempo.
Vivi um ano em Bruxelas, onde na maior parte do ano o frio é intenso. Com aquecimento, a temperatura é sempre amena no interior das habitações. Mas, era preciso sair à rua e dar a cara ao frio. Com um bom capote de lã, é claro, era até agradável caminhar pelas ruas da capital belga, pois não me lembro de ter sentido frio como agora.
Talvez, fosse o calor da juventude mesmo!