Cloroquina x vacina
Diz a Constituição da República – essa mãezona de 220 milhões – que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Assim, diante do grave quadro de doença e morte causado pela Covid, que se arrasta por mais de um ano, o poder público tem o dever de adotar as medidas necessárias para […]
Diz a Constituição da República – essa mãezona de 220 milhões – que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Assim, diante do grave quadro de doença e morte causado pela Covid, que se arrasta por mais de um ano, o poder público tem o dever de adotar as medidas necessárias para garantir a melhor assistência médico-hospitalar possível aos seus cidadãos. E cada governante tem o dever de se conduzir de forma séria e exemplar diante desse cenário de milhares de contagiados e mortos a cada dia, por todo o país.
Infelizmente, não é assim que tem se conduzido o presidente Bolsonaro. Desde o começo, minimizou, desdenhou até, da ação devastadora e do sofrimento causado pela Covid. Falou em gripezinha, mesmo quando a doença já lotava hospitais e UTIs. Tem contrariado a recomendação médica de usar de máscara em público e o que se viu foram familiares e auxiliares próximos serem contagiados pelo coronavírus.
Picado pelo vírus da reeleição, tem se recusado a ficar afastado do público, afrontando a orientação dos estudiosos e do próprio Ministério da Saúde, em favor do afastamento social. Fixado em 2022, tem saído às ruas, entrado em bares e promovido desnecessárias festas de inauguração para apertar as mãos de presumidos eleitores.
Faz um ano que a pandemia está maltratando e matando a nossa gente. E o presidente Bolsonaro continua afrontando o bom senso, o sentimento de solidariedade, atuando de forma reprovável diante da doença que precisa de uma ação firme, séria e coordenada do governo federal.
Pessoalmente, não acredita na ação imunizante da vacina e já disse que não irá se vacinar, o que é um péssimo exemplo para os cidadãos. Em vez disso, de forma irresponsável e atropelando a competência do médico para receitar medicamentos, tem recomendado o uso precoce da hidroxocloroquina.
Causou-me surpresa saber que a Secretaria de Saúde e empresários brusquenses pretendem realizar uma campanha para distribuir hidroxocloroquina, de eficácia duvidosa e não reconhecida pela ciência médica, no tratamento precoce da Covid-19. A Anvisa reconhece que o medicamento tem eficácia para outras doenças, mas exige receita médica controlada para a sua venda em farmácias. Não sei o que pensam a Associação Médica e o Ministério Público a respeito dessa anunciada campanha.
Pessoalmente, penso essa parceria público-privada é muito bem-vinda se os recursos fossem empregados na elaboração de um plano que torne o processo de vacinação mais rápido, seguro e acessível a todos os cidadãos. E, até, se legalmente liberada, na compra de vacinas para as pessoas de baixa renda.
O leitor pode achar que estou exagerando na crítica. Mas, o conceituado Instituto Lowy, da Austrália, publicou estudo recente afirmando que “nenhum país lidou de forma tão ruim com a pandemia do novo coronavírus como o Brasil. É possível que a pesquisa, feita à distância, não seja perfeita. Mas, é assim que o nosso país está sendo visto lá fora.