João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Clube Araújo Brusque: 157 Anos

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Clube Araújo Brusque: 157 Anos

João José Leal

Ainda na infância da sua história que completará 163 anos no próximo dia 4 de agosto, a Colônia Brusque conheceu o seu primeiro clube de caça e tiro. Seguindo as tradições da terra natal que atravessavam o Atlântico sem pagar passagem no espaço da escassa bagagem emigratória, Carl Marschner, Hermann Thieme, Ferdinand Jönck, Heinrich Bettermann, Frederich Schwarten, Theodor Deecke e Wilhelm Wandrey, todos alemães, reuniram-se na casa deste último para fundar um clube de caça e tiro, o Schützen-Verein, que em 1948 passaria a se chamar Araújo Brusque.

Era um sábado, dia 14 de julho de 1866, data histórica que pode ser comprovada pela cópia original do Estatuto em Língua alemã que se encontra guardado na sede da entidade. Antes do nosso, outros clubes de tiro haviam sido fundados em outras colônias alemãs brasileiras. Mas, o nosso tradicional Schützen-Verein da rua das Carreiras – primeira associação civil criada na Colônia Brusque – ostenta hoje o troféu de o clube de Caça e Tiro mais antigo em funcionamento contínuo no nosso país.

Naquele sábado que já via longe na história, os fundadores decidiram que o seu Schützen-Verein teria por finalidade “promover atividades recreativas e sociais e a prática do tiro ao alvo”. O estatuto proibia bebedeiras e discussões sobre política e religião, nas dependências da sede social, regras que não passaram de letras mortas. As competições sempre foram realizadas em clima de festa regada a muita cerveja. Assim, como impedir que os associados discutissem política e que outros bebessem até à embriaguez?

Nem só de competições de tiro tem sido a história do nosso Clube Araújo Brusque. Festas de casamento, primeira comunhão e batizado; eventos artístico-culturais e solenidades oficiais públicas e privadas, além de outras atividades esportivas e recreativas foram e continuam sendo realizadas no seu salão principal e demais dependências, ao longo dos seus 157 anos de existência. No entanto, o ponto alto de seus concorridos eventos esportivos e de lazer sempre foi a sua tradicional Schützenfest, cuja primeira edição aconteceu em 1867.

Realizada a cada ano, a festa dos atiradores sempre foi considerada a grande e “a mais querida festa da cidade”, como escreveu o nosso historiador Ayres Gevaerd. Tudo começava no domingo, segundo dia da Páscoa e se estendia até a terça-feira. Clubes de tiro de outras cidades também participavam das concorridas competições, na disputa pelos troféus e medalhas de Reis do Pássaro e Alvo e de Cavalheiros atiradores. Não eram somente os disparos das armas de fogo. Eram também as barraquinhas com rodas da fortuna, rifas, pescaria, muito marreco, chucrute e, claro, muito chope.

Em 1972, cheguei a Brusque para trabalhar. Durante alguns anos ainda, a segunda-feira de Páscoa foi feriado municipal e a Schützenfest continuava sendo realizada. Mas, os costumes e a própria cidade haviam mudado e a festa dos atiradores já não apresentava a dimensão, a importância e a participação comunitária que teve durante os primeiros cem anos. Mesmo assim, graças aos seus dirigentes, a história esportiva, bem como o seu patrimônio arquitetônico e cultural vêm sendo preservados e o nosso Schützen-Verein continua honrando a antiga e secular tradição trazida da Europa pelos seus antepassados.

 

 

 

 

 

 

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