Colônia Brusque: frio, enchentes, ratos e a luta para vencer
Ontem esquentou bastante e, hoje, a previsão era de mais calor ainda. Mesmo assim, este ainda pode ser considerado um dos invernos mais rigorosos dos últimos tempos. Desde que a estação começou, o frio foi intenso, daquele de puxar cobertas de lã e até de ligar aquecedor, com fortes geadas e neve na Serra Catarinense. […]
Ontem esquentou bastante e, hoje, a previsão era de mais calor ainda. Mesmo assim, este ainda pode ser considerado um dos invernos mais rigorosos dos últimos tempos. Desde que a estação começou, o frio foi intenso, daquele de puxar cobertas de lã e até de ligar aquecedor, com fortes geadas e neve na Serra Catarinense. A verdade é que, na maior parte da estação, os termômetros marcaram baixas temperaturas, inclusive na nossa cidade.
Se, hoje, com todo o conforto, ainda sofremos com as noites frias, imaginem os leitores o drama e o sofrimento dos colonos fundadores desta cidade nos dias frios e nas noites de geada dos primeiros tempos do projeto colonial, quando ainda viviam em casas rústicas, construídas às pressas e de qualquer modo para o assentamento pioneiro.
Em documento arquivado na Casa de Brusque, conta o Barão de Schneéburg que em no agosto de 1862, a Colônia e seus moradores foram castigados com temperaturas tão baixas que o termômetro chegou a marcar “3 graus centígrados, durante três dias consecutivos”. O frio foi tão forte que, naquelas manhãs, a Colônia teria ficado coberta de geada. As pastagens e as plantações de café e de cana-de-açúcar ficaram completamente queimadas. Congeladas pelo frio, as ramas da mandioca e do aipim ficaram imprestáveis para o plantio da safra seguinte.
Infelizmente não existe vacina contra catástrofes. Três meses depois, durante o mês de outubro, o Barão relatou que “copiosas chuvas causaram 3 grandiosas inundações, uma após a outra” e aniquilaram a vida da Colônia. E as águas da calamidade acabaram com o que havia sido plantado pela segunda vez. Sobreviver era preciso e os colonos não desistiram. Uma terceira plantação foi feita com as sementes que restaram, além da esperança.
Diz o ditado popular que desgraça sempre vem acompanhada. Mal as sementes haviam germinado, uma outra calamidade dizimou a plantação. Escreveu o Diretor que “uma multidão de ratos” cruzou os caminhos e os cursos d’água e, juntamente com uma “nuvem de pássaros pretos”, quase tudo devoraram para o desespero dos pobres colonos.
Penso que imigrante carrega consigo a saga de uma travessia sem volta, de uma viagem sem retorno à terra natal. Enfim, carrega consigo a vontade inquebrantável de lutar e vencer na terra prometida. Talvez, o destino quer que assim seja. Ou, então, é uma questão de pura sobrevivência. E assim, mais uma vez, apesar frio, das águas, dos ratos, das lagartas e dos chopins aqueles lavradores da esperança e da perseverança realizaram uma quarta semeadura.
Em dezembro, relatou o Barão que o tempo era bom e que, então, a plantação já estava vicejando. Enfim, a natureza tinha sido vencida ou saciada. A colheita, embora reduzida, estava assegurada para o alimento dos colonos e suas famílias. Assim, foi a vida a dramática epopeia dos imigrantes nos primeiros tempos do projeto colonial.
Trabalharam duro, lutaram muito e venceram. Tudo, para nos legar a cidade que acaba de completar 161 anos e que, hoje, é orgulho dos brusquenses de coração.