João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Colônia Brusque: o primeiro boticário

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Colônia Brusque: o primeiro boticário

João José Leal

No próximo mês de agosto, Brusque estará comemorando os seus 162 anos de fundação. Lembrei-me, então, de escrever esta crônica sobre a saúde dos colonos e de seus familiares que, certamente, estava entre os mais preocupantes problemas daqueles primeiros tempos coloniais. Tanto que uma família havia adoecido e permanecera em Itajaí sem poder continuar a viagem para fundar a Colônia.

Na verdade, só com muita saúde os colonos poderiam enfrentar o grande desafio de derrubar a mata virgem, construir as suas casas, plantar e colher as suas lavouras. Enfim, de consolidar o projeto colonial de povoamento das terras de Vicente Só. E, como sabemos, saúde depende de assistência médica e de medicamentos que curem as doenças.

A Colônia tinha sido criada pelo governo imperial e isso significava garantir terras e ferramentas, auxílio financeiro temporário e assistência médica a todos os colonos. Graças ao denodo do Barão, menos de um ano após a fundação, Brusque já contava com um médico. É interessante notar que essa maravilhosa assistência governamental era negada aos brasileiros, ricos ou pobres.

Não era só o médico. Os remédios também eram fornecidos gratuitamente pelo governo. Há diversos documentos guardados na Casa de Brusque, assinados pelo Barão e seus sucessores solicitando remédios para tratamento dos seus colonos. Os medicamentos trazidos na bagagem da viagem pioneira logo acabaram, pois dois meses após a fundação da Colônia, Schneéburg apresentou à autoridade provincial “uma lista de medicamentos indispensáveis, rogando que fossem enviados com brevidade”.

Como hoje, o serviço público da época estava longe da perfeição. Assim, frequente era a falta de remédios. Em 1865, o médico Rufener apresentou uma extensa relação dos medicamentos faltantes e Schneéburg não deixou de apoiar a reivindicação, dizendo que confiava na competência e boa-fé do médico e que os remédios eram indispensáveis para “a conservação da saúde e dos necessários socorros aos doentes”.

Até 1868, os colonos receberam “grátis os medicamentos de que precisavam”. Na ausência de uma botica, como assim eram chamadas as farmácias da época, o médico os entregava pessoalmente aos pacientes. Naquele ano, apareceu na Colônia o boticário Carlos Bartels oferecendo os seus serviços profissionais. Mas, a população crescia e não havia verba para mais despesa. Para contratá-lo, o diretor propôs garantir remédio grátis somente para os novos imigrantes, durante o primeiro ano. Após, todos pagariam os medicamentos com os seus próprios recursos.

Não se sabe se a proposta foi colocada em prática na sua íntegra. No entanto, no mês de agosto de 1877, o ministro da agricultura informava sobre a exoneração do “pharmacêutico das Colônias” e nomeação de outro para substituí-lo. Essa política assistencialista, que não contemplava os brasileiros, perdurou até 1880, com a emancipação política e administrativa da Colônia.

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