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Colônia Brusque: primeiro crime de violência corporal

Após três anos de fundação, um clima de paz e tranquilidade reinava na Colônia Brusque, cuja população era apenas de 955 habitantes. E isso facilitava o árduo trabalho do Barão de Schnéeburg que, além do árduo trabalho de implantação do núcleo colonial, tinha que fazer as vezes de prefeito, juiz, delegado de polícia. Na falta, […]

Após três anos de fundação, um clima de paz e tranquilidade reinava na Colônia Brusque, cuja população era apenas de 955 habitantes. E isso facilitava o árduo trabalho do Barão de Schnéeburg que, além do árduo trabalho de implantação do núcleo colonial, tinha que fazer as vezes de prefeito, juiz, delegado de polícia. Na falta, até de ministro religioso.

A tranquilidade colonial, no entanto, foi quebrada no dia 10 de novembro de 1863. Depois dos subsídios para a manutenção das suas famílias, os colonos passavam a receber salários por serviços prestados na abertura de estradas, construção de pontes e outras obras. Aquela longínqua terça-feira, de quase 160 anos já passados, tinha sido dia de pagamento. E, a colonada, em peso, comparecera à sede para receber o dinheiro do seu trabalho.

Germano Boiting era um deles. Com certeza, deve ter comprado alguns alimentos para sustento da família. Mas, feliz pelo dinheiro recebido há muito esperado ou porque gostava mesmo de uma boa cachaça sorvida em sôfregos goles nas conversas de bodega, não deixou de beber algumas doses da irresistível pinga, esse branco líquido que arde a garganta, ferve a cuca e que “mata o guarda”, como diz os camaradas de confraria do alterocopismo.

Muita ou pouca cachaça, o fato é que, ao final da tarde, Boiting voltava para casa já embriagado. Por sorte, acompanhado de outro colono, Anton Dinkelborg. Conta este, em depoimento colhido pelo diretor Schnéeburg, que vinha acompanhando o embriagado quando, nas proximidades de “um precipício de pelo menos 150 palmos de altura”, do rio Guabiruba, os colonos Tobias Rupp e Jozé Bechtold, munidos de porretes, agrediram covardemente o infeliz Germano, causando-lhe graves ferimentos de sangue.

Narra, ainda, que os dois agressores estavam a ponto de empurrar a vítima barranco abaixo e que só não a “precipitaram no abismo” porque, ele depoente, “salvou-a das mãos dos perseguidores, quando a mesma já estava à borda da perdyção”, ou seja, de ser lançada nas águas do rio.

Do depoimento, consta também que durante o dia, na venda do colono Gustavo Rose, entre goles de pinga, os três já tinham discutido de forma acalorada por “motivo de nacionalidades”. Boiting, badense e embriagado, os outros dois, prussianos, entre um gole e outro, trocaram ofensas e insultos sobre as qualidades e defeitos das suas regiões germânicas natais. Assim, tudo indica que os agressores vieram atrás da vítima para vingar-se e fazer justiça com as próprias mãos.

Por falta de delegacia de polícia e de cadeia, é provável que o diretor Schnéeburg tenha se limitado a advertir e censurar os agressores. Quanto à vítima, Schnéeburg já havia registrado em documento anterior que a mesma era dada a bebedeiras e arruaças. Como se vê, por mais calma que seja uma pequena comunidade de menos de mil almas, casos de violência mais ou menos graves acabam ocorrendo. As causas são diversas. Porém, o alcoolismo pode ser apontado como o fator principal desse primeiro caso de lesão corporal e de ameaça de morte, ocorrido na Colônia e relatado em documento oficial.

Lembro-me que um colega de Ministério Público me disse uma vez, em tom de brincadeira e com uma boa dose de verdade, que muitos crimes de violência podem ser explicados pela violenta emoção engarrafada, seja do agressor, da vítima ou geralmente de ambos.