João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas de consultório: cirurgia de cataratas

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas de consultório: cirurgia de cataratas

João José Leal

Sentados, celular nas mãos, meia dúzia de pacientes, a maioria mulheres, esperam a chamada para a consulta com o oftalmologista.

Uma paciente ali estava para consultar pela primeira vez sobre a necessidade de uma cirurgia da catarata. Virou-se para a que estava ao seu lado e foi logo perguntando:

– Me desculpe, mas você já é paciente o dr. Roberto? Estou aqui pela primeira vez porque já não enxergo bem de perto nem de longe. Me disseram que deve ser por causa da tal de catarata. Você sabe como é. Com a vista não se deve brincar. Porisso, gostaria de saber se ele é um bom profissional nessa especialidade.

A outra paciente, sexagenária dessas de manter a jovialidade e elegância na base da medicina estética e de caprichosas maquiagens, abriu um sorriso de quem já é da casa.

– Olha, para mim é um médico muito bom. Já operei a catarata das duas vistas e coloquei lentes importadas. Paguei o olho da cara, um dinheirão! Gastei quase todas as minhas economias. Mas, valeu. Depois da cirurgia, voltei a enxergar de perto e de longe como se tivesse 30 anos de idade. Venho aqui duas vezes por ano. O chato é que todas as vezes você só vê o médico depois de uma série de exames com a secretária.

– Você senta diante de um aparelho. Sempre gentil e com aquela voz de amansar paciente, a secretária manda olhar fixo numa bolinha e você recebe um sopro de arrevirar o olho, como se diz na minha terra. Ela te manda sentar noutra banqueta e olhar fixo, sem piscar, para uma tela iluminada, com um fundo que parece um caleidoscópio e anota alguma coisa a tua vista.

– São quatro ou cinco aparelhos, todos limpos com álcool antes e depois dos testes. Esse cuidado com a higienização sempre existiu, mas depois da pandemia ficou mais rigoroso, o que é bom porque você não sabe quem, minutos antes, botou o queixo e a cara no aparelho.

– O que posso dizer é que, se você operar a catarata para colocar lentes importadas, prepara dinheiro porque a conta será salgada. O SUS e a Unimed só pagam lente nacional que melhora a visão, mas não é igual. Disse-me o médico que a lente estrangeira é bem superior.

– Olha, amiga, tenho uma vizinha que operou a primeira vista e botou uma lente alemã. Para a segunda vista, coitada, faltou dinheiro e colocou uma lente brasileira mesmo.

– Então, com o olho da lente estrangeira passou a enxergar tudo colorido e com o outro tudo em preto e branco. Mas, agora, depois da volta de Lula, diz que está enxergando tudo nublado.

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