X
X

Buscar

Conversas Praianas: amor de marinheiro

Na roda de conversas do Alvorada do Atlântico, Maria Antônia está quase sempre com a palavra. Foi das primeiras moradoras e até síndica do condomínio. Conhece bem a maior parte dos condôminos, inclusive os que chegaram nos últimos tempos. Assim, sempre tem assunto para sustentar a conversa com as amigas. Estava perguntando se conheciam a […]

Na roda de conversas do Alvorada do Atlântico, Maria Antônia está quase sempre com a palavra. Foi das primeiras moradoras e até síndica do condomínio. Conhece bem a maior parte dos condôminos, inclusive os que chegaram nos últimos tempos. Assim, sempre tem assunto para sustentar a conversa com as amigas. Estava perguntando se conheciam a Rosângela, a moradora do 511.

– Aquela, casada com o advogado e que chegou no prédio no ano passado?

– Essa mesma. Olha, eu só a conhecia de vista, de bom dia e boa tarde no elevador. Vocês me conhecem. Adoro saber da vida das pessoas que moram neste prédio. Estava curiosa para saber por que ela tinha deixado o Rio de Janeiro. Confesso que fiquei admirada com a história que me contou. Na verdade, a Rosângela nasceu em São Francisco do Sul. Contou-me que a mãe, ainda jovem e bonita, trabalhava no bar do pai, perto do porto e se apaixonou por um marinheiro. O marujo era do Rio, bonito, com aquele sotaque de malandro carioca.

– Isso aconteceu, lá pelo final dos anos de 1970, quando os costumes eram severos, quando as moças ainda só namoravam de mãozinha dada e só iam para a cama com o seu homem, depois do casamento. Mas, pelo que me contou a Rosângela, sua mãe, então uma jovem no calor dos seus 17 anos, o coração ardendo pelo fogo da paixão ainda adolescente, não resistiu ao feitiço da beleza carioca vestida num terno de panamá branco.

– Vocês sabem, cidade portuária, tem romances que navegam ao sabor da rota dos barcos que ali aportam. São histórias que dariam excelentes novelas de tristes amores perdidos, na tela da Globo. Romances fugazes de três ou quatro dias, paixões ardentes que deixam corações partidos e lágrimas a rolar nos rostos de jovens, quando escutam o som grave e triste do apito do barco a deixar o cais do porto.

– Quando o marujo carioca retornou a São Francisco, a sua jovem amada já estava grávida de quatro meses. Fez tudo para agradar a família. Acertou com o pai que haveria casamento. Mas, não poderia marcar data nem largar a profissão. Então, foi um tempo sofrido de espera para a futura mãe, sempre a olhar o cais do porto, na esperança do navio que nunca voltava. E, quando chegou, a Rosângela já estava com dois meses de idade. No segundo retorno, o pai-marujo encontrou sua filha já com mais de um ano.

– Então, a mãe cansada de tanta espera, de tantas lágrimas noturnas a encharcar travesseiros, acertou o direito de visita e encerrou o caso amoroso. Dolorosamente e jovem ainda, havia aprendido que o destino do marinheiro é escrito pela rota do navio. Na verdade, já havia conhecido um outro homem com quem se casou mais tarde. Poucos anos depois, Rosângela conheceu a avó paterna e passou a viver parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde estudou e casou. O marido já trabalhava aqui na região e vieram parar aqui no nosso prédio.

– Depois da história da Rosângela, lembrei do que sempre dizia a minha mãe, que nasceu e viveu aqui em Itajaí: “minha filha, toma cuidado porque amor de marinheiro dura até o apito do barco”.