Conversas praianas: bazar praiano
Na sua origem persa, bazar significava “lugar dos preços”. Comum nas cidades árabes e países mulçumanos, atualmente a palavra é usada como sinônimo de mercado, de centro comercial. Ou seja, um espaço com tendas, quitandas e lojas para a venda dos mais variados produtos. No Brasil, é comum placa de lojas de bijouterias, roupas e souvenirs com o nome de bazar. Assim, fica explicado por que, ao caminhar pela agora alargada praia de Balneário Camboriú, me veio à lembrança o grande Bazar de Istambul que visitei por duas vezes. Caminhando, vi vendedores dos mais diversos produtos.
Para começar, o sempre presente vendedor de picolés e sorvetes. Antigamente, era o onomatopaico tirolite daquele inconfundível apito de fazer água na boca de quem é ou ainda se sente criança. Agora – picolés e sorvetes fabricados por grandes empresas de gelados – o que ouvi soando entre guarda-sóis, na busca frenética por um freguês, foi o fonfom das cornetas iguais àquela buzina que o Chacrinha usava para mandar embora os candidatos reprovados em seu conhecido programa de TV. Para mim, praia sem vendedor de picolé é futebol sem torcida, é carnaval sem bloco na rua. Enfim, não é praia de verdade.
Uns, carregando pesadas caixas térmicas, caminhavam em zigue-zague entre os veranistas. Outros, passavam retos, próximos à àgua para evitar a areia mole, empurrando pesados carrinhos da multinacional dos gelados. A cada instante da minha caminhada, ouvi os apitos e os gritos “olha o picolééé” de atiçar a gula dos pequenos.
Cruzei também com vendedores de cerveja. Não são muitos, embora o consumo seja alto. Pelo que tenho visto, a grande massa de banhistas que frequenta a concorrida praia central de Balneário Camboriú pertence ao time da classe média, gente acostumada a comparar preços e há uma grande diferença entre o custo de uma cerveja na prateleira de um supermercado e aquele praticado sobre a areia da praia. Além disso, grande parte dos banhistas dos últimos verões são novos ricos do agronegócio brasileiro.
Novo rico ou classe média, é gente acostumada a fazer força, disposta a carregar uma pesada caixa térmica numa cansativa caminhada de suar sem camisa sobre ruas e calçadas, até a chegada para demarcar o seu quintal praiano. Tudo para economizar alguns reais. No espaço de intimidade disputada palmo a palmo com outros veranistas, a enlatada loira estupidamente gelada – consumida da manhã à noite para despistar o calor, refrescar a carne e esquentar a cuca – é ostentada nas mãos desses veranistas e sorvida aos goles, em meio a conversas sobre os preços da arroba do boi, da saca de soja e de milho. E, claro, também sobre mulheres e futebol.
Tudo ao som da música sertaneja que soa alto, acima dos 90 decibéis e que chega a afrontar o marujar das ondas. Afinal, a maioria deles vem da região Centro-Oeste, desse eldorado de riqueza plantado bem no coração do território brasileiro, que tem feito a fortuna de muitos fazendeiros do agronegócio e dos seus ídolos musicais. São eles que fizeram a fama e a fortuna milionária de Chitãozinho e Xororó e continuam engordando as contas bancárias de Michel Teló, Luan Santana e de tantos outros.
Para essa nova geração de veranistas, tudo vale a pena para desfrutar um dia inteiro de completa ociosidade.