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Conversas Praianas: cachorro no elevador

Inverno a começar em 20 dias, algumas ondas de frio outonal já tendo mostrado a cara e o quórum das mulheres nas tertúlias vespertinas do Alvorada do Atlântico ficou reduzido. Umas voltaram para Chapecó, Curitiba e outras cidades, também, porque prédio de condomínio em BCamboriú é uma colmeia de gente vinda de muitos lugares deste […]

Inverno a começar em 20 dias, algumas ondas de frio outonal já tendo mostrado a cara e o quórum das mulheres nas tertúlias vespertinas do Alvorada do Atlântico ficou reduzido. Umas voltaram para Chapecó, Curitiba e outras cidades, também, porque prédio de condomínio em BCamboriú é uma colmeia de gente vinda de muitos lugares deste país.

Mesmo assim, ao redor da mesa estavam umas dez mulheres. Iolanda, mais velha da turma, já nos seus 70 anos avançados e mais ligeira para falar, estava contando sobre o ocorrido com a moradora do 1.806, que tinha vindo morar no prédio há poucos dias.

– Imaginem, chegou há 15 dias e já aprontou confusão. Tem quatro cachorros, dois Goldens enormes e dois Poodles agitados, que passam o dia latindo, aquele ganido agudo que atravessa paredes e portas e reverbera pelos corredores. Os vizinhos estão sofrendo com o barulho infernal. Reclamaram e ela respondeu que é só no começo porque os queridinhos estão estressados por causa da mudança. Ama os seus cães e que ninguém pode proibi-la de ter animal de estimação no apartamento, sua propriedade privada.

– No começo desta semana, ela entrou com os quatro cães no elevador social. Um condômino chamou a atenção dela, dizendo que o lugar de animal é no elevador de serviço. Ela achou ruim, ficou uma fera, desaforou e ameaçou o morador. Berrava que nem louca, dizendo que proibir seus filhinhos de estimação de entrar no elevador social, era discriminação punida pela lei de proteção aos animais.

– Quase se tapearam na porta do elevador. Foi um bafafá tremendo, um bate-boca daquelas de gafieira, uma baixaria de prédio de gente de baderneiros e sem educação nenhuma. Era ela gritando, ameaçando de processo o coitado condômino que apenas mencionou a proibição prevista no Regimento Interno e os quatro cachorros latindo nervosos, fazendo um barulho infernal que ecoava por toda a área do térreo.

– Fala grosso porque deve achar que tem as costas quentes. Parece-me que o marido é ligado à justiça, um juiz, procurador, não sei bem. Neste país, muita gente pensa que tem mais direitos do que os outros. Se antes já não se podia brigar com essa gente da justiça, agora, com o Alexandre Moraes prendendo gente às centenas, é um verdadeiro perigo de se ir pra cadeia.

– O zelador me disse que a encrenca foi parar nas mãos do síndico, que chamou a atenção da encrenqueira e lhe aplicou a multa prevista na convenção. Então, a coisa ficou feia. Ela saiu berrando que queria ver quem tem o topete de lhe cobrar a multa, que tem um irmão advogado especialista em danos morais e vai processar o síndico e o condomínio.

– Não sei, pelo que tenho visto na nossa justiça, essa mulher acaba ganhando a causa e nós é que vamos pagar pelos cachorros e por toda a encrenca criada por essa mulher.