Conversas Praianas: Ceia de Natal
Elas fazem parte do contingente de veranistas de Chapecó que, tempo de férias, deixam o Extremo-Oeste catarinense para curtir alguns dias de brisa marinha na praia de Balneário Camboriú. É um reencontro que acontece a cada ano e a conversa precisa ser colocada em dia. Umas levam bolacha e biscoitos, porque férias na praia é […]
Elas fazem parte do contingente de veranistas de Chapecó que, tempo de férias, deixam o Extremo-Oeste catarinense para curtir alguns dias de brisa marinha na praia de Balneário Camboriú. É um reencontro que acontece a cada ano e a conversa precisa ser colocada em dia. Umas levam bolacha e biscoitos, porque férias na praia é muita comida e conversa o dia todo. No centro da roda de cadeiras aluminizadas, uma pequena mesa com a térmica para abastecer o inseparável chimarrão, esse chá quente que inspira a conversa da gente gaúcha e dos seus oriundos nascidos em terras de Santa Catarina.
Mais velha daquela tribo de veranistas-avós que já cumpriram a missão maternal, algumas delas, até a conjugal, Maria Francesca é a primeira a se servir do mate amargo. E se sente no direito de começar a tertúlia vespertina, repetida a cada tarde embaixo de um frondoso e verdejante sombreiro. Com a voz amargurada, falou para as amigas que a Ceia de Natal, passada no apartamento de Chapecó, foi triste, de chorar, até de ficar doente.
Imaginem vocês! A família estava reunida – eu, meu marido Serafino, minhas duas filhas e genros e os três netos mais novos – para a ceia de Natal. Meu filho, advogado e que está divorciado, agora arrumou uma namorada e foi passar a festa natalina com a família dela, em Maravilha. Nem sei quem é porque os pais sempre são os últimos a saber. Faltava minha neta, médica em Xanxerê, que só chegou lá pelas dez da noite, quando já estávamos cansados de esperar.
Entrou toda apressada e parecendo contrariada. Mal teve tempo e, parece que de vontade, nos desejou um “Feliz Natal”. Foi ao encontro do avô, diabético, que não pode comer doces e lhe deu uma caixa de bombons da Garoto, dessas baratas que os argentinos compram de montão. Não sei como pode ser uma médica. Da mesma forma como chegou, minha neta saiu porta a fora, dizendo que estava de plantão no hospital. Mas, nós sabíamos que era por causa do namorado, que não queria vir na nossa casa.
Quando fui reclamar da ingratidão, da falta de respeito e de amor pela família da parte de uma neta e médica, que fez a Faculdade por nossa conta, meu insuportável genro gritou que não admitia que eu, avó, falasse mal da neta. E também se mandou porta a fora. Minha filha não sabia o que fazer nem onde se meter. Eu acabei na cama, tomando um calmante para dormir. Meu marido anda depressivo e, como estava, ficou sentado num canto da sala, sem nada entender daquela tenebrosa noite natalina.
E, assim, foi a nossa ceia de Natal. Então, me lembrei com tristeza e saudades da minha infância e daqueles natais na colônia. A gente rezava e cantava Noite Feliz em frente ao presépio feito com as coisas mais simples.
Depois, na mesa, toda a família reunida, meus pais, os sete filhos e duas galinhas assadas, mandioca cosida e farofa para satisfazer o apetite da numerosa tribo. Mas, ninguém reclamava, todos respeitavam os pais e também os avós, já velhos e doentes.