João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas – Colmeia Humana

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas – Colmeia Humana

João José Leal

Naquele final de tarde, Maria Antônia estava dizendo para as amigas que sabe da vida de grande parte dos moradores do Mares do Atlântico.

– Eu adoro saber da vida das pessoas que moram neste prédio. Afinal, mesmo que a maioria nem se cumprimente, isto aqui, com os mais de 100 apartamentos, é muito mais que uma grande família. É uma pequena comunidade com gente de todo o tipo e procedência. A verdade é que, com tantos moradores, este nosso condomínio parece uma verdadeira colmeia humana, com gente subindo e descendo a toda hora em direção aos seus casulos chamados de apartamentos.

– Aqui, no Mares do Atlântico, temos um grande grupo de gente nova, com os filhos ainda criança que vivem fazendo barulho e aprontando nos elevadores e corredores do condomínio. Nessa tribo dos condôminos mais novos tem médico, dentista, advogado, engenheiro e outros profissionais liberais. Tem juiz, promotor, auditor, funcionário público federal e municipal. Tem comerciante, industrial, corretor e alguns que não se sabe o que faz para ganhar vida. Todos com cacife financeiro para morar de frente para o mar. E alguns ainda reclamam da vida que levam. Ouvi um deles, do alto funcionalismo público, se queixando que tem muito serviço e faz mais de três anos que não recebe aumento salarial.

– Mas, a tribo mais numerosa mesmo é a dos idosos que, como nós, aqui chegaram já na velhice para descansar. E, é preciso ser sincera, para terminar os últimos dias à beira-mar. Já fui síndica e andei me informando com o atual síndico. Tem muita gente aqui no prédio com mais de 80 anos. Olha, aquele morador do 813 que veio de Chapecó, no ano passado, a mulher me disse que ele está com 96 anos de idade. Nem parece porque ainda caminha sozinho pelos corredores. Não sei se comeu muito frango ou se foi a banha de porco.

– Não adianta esconder. Na nossa turma, algumas já faz tempo que passaram dos 70. As mulheres não gostam de confessar a idade. Temos amigas que mudam de conversa ou se retiram da roda, cada vez que alguém pergunta sobre a idade. Mas, não adianta disfarçar a idade com plásticas que melhoram a cara, porque o resto continua velho. A verdade é que, com ou sem Covid, nós fazemos parte do grupo de risco permanente.

– Poxa, Maria Antônia, sabes da vida de todos neste condomínio! Exclamou uma das amigas.

– Olha, é verdade. Mas, não é para fofocar, não. É que gosto de saber sobre a história de cada um, de onde veio, o que faz, enfim, como é a vida da família. Vocês devem lembrar que já tivemos dois casos de polícia neste prédio de gente de bem, com morador sendo levado de camburão para a delegacia. Para evitar surpresa, sempre é bom saber quem vive ao nosso lado!

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