Conversas Praianas: o vestido pela internet
Os meios de comunicação não cansam de noticiar que estamos enfrentando a segunda onda da Covid-19. No entanto, navegando nos mares da terceira idade, algumas já enfrentando as águas tempestuosas da quarta idade, as mulheres do Alvorada do Atlântico, a maioria já vacinada, agora, chegam mais tranquilas para a conversa tribal de final de tarde. Precaução nunca é demais e algumas continuam usando máscara. Outras, dizem que o Bolsonaro é que tem razão.
Até a pandemia, a maioria delas não sabia comprar ou não confiava no tal de comércio virtual e Maria Amélia está falando da sua primeira experiência de comprar um vestido de festa. Tinha visto um anúncio na internet. Pelas fotos coloridas, o modelo impressionava pela beleza. E o mais importante, o preço era ótimo. Mesmo desconfiada desse tipo de negócio à distância, resolveu enfrentar o seu primeiro negócio on-line. Sua filha, a muito custo, porque os filhos nunca tem tempo para os pais, lhe ajudou a preencher o cadastro e realizar a compra virtual.
– Sou uma mulher cheia de esperança. Tenho fé, rezado muito e estou certa de que a pandemia vai passar. Então, disse para o meu marido e meus filhos que, quando esse maldito vírus desaparecer, não vou perder mais nenhuma festa de casamento, batizado ou aniversário. E aquele vestido azul-marinho, matizado com umas ondas num tom cinza que tornavam o modelo elegante e bonito como eu gosto, seria o primeiro a ser usado depois que essa praga da Covid sumir da nossa vida.
– Tive que pagar antecipado com cartão de crédito, 599 reais, coisa que não gosto de fazer. Demorou para chegar e, quando abri a caixa, foi uma decepção, fiquei furiosa. Para começar, a cor não era a mesma mostrada no anúncio. Estava mais para uma tonalidade de azul-piscina que não combinava com os tons de cinza. Imaginem vocês. Eu, já passando dos 70, vestida de azul-piscina. Isso, já me deixou frustrada.
– Mesmo assim, fui provar. Ficou tão comprido que arrastava no chão. Eu tenho os braços curtos e as mangas cobriam até a ponta dos dedos. O pior era o decote peitoral, em V, desses feitos para mulher nova, que gosta de exibir a plataforma siliconada. Fui mostrar para o meu marido e foi o fim. Disse-me que, com aquele vestido, ele não sairia comigo para festa nenhuma. Os maridos são todos iguais, só gostam do decote das outras.
– Minha filha me informou que eu tinha o direito de devolver e pedir o dinheiro de volta. Até hoje, estou sem vestido e sem o dinheiro. A empresa alegou que o vestido voltou manchado. Mandou até fotos com as manchas. Eu tenho certeza que devolvi como tinha recebido. Minha filha falou com um advogado. Para começar a causa, pediu o valor de três vestidos.
Agora, está nas mãos do Procon! Mas, com a essa pandemia, a maior parte dos funcionários está em casa. Dizem que estão trabalhando nesse tal de “home office” que ninguém vê nem sabe onde.