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Conversas Praianas: Robertinho

As amigas já conhecem o jeito franco, descontraído e engraçado de Maria Anunciatta contar suas histórias e anedotas sobre casos ocorridos em Chapecó, numa época em que cidade era pouco conhecida dos catarinenses do litoral e ainda disputava o troféu de Capital do Oeste Catarinense. Os chapecoenses sentiam-se mais ligados econômica e politicamente ao Rio […]

As amigas já conhecem o jeito franco, descontraído e engraçado de Maria Anunciatta contar suas histórias e anedotas sobre casos ocorridos em Chapecó, numa época em que cidade era pouco conhecida dos catarinenses do litoral e ainda disputava o troféu de Capital do Oeste Catarinense. Os chapecoenses sentiam-se mais ligados econômica e politicamente ao Rio Grande do Sul do que com o nosso Estado barriga-verde. Afinal, de lá tinham vindo as famílias colonizadoras.

– Pois, minhas amigas, não lembro bem, mas foi lá pelos anos de 1970. Apareceu em Chapecó, um cronista social, um tal de Robertinho, que tinha uma coluna social num jornal da capital. Passava na avenida rebolando mais que mulher. Logo, todos viram que tinha chegado um bicha, um veado na cidade, como se dizia naquela época de preconceitos mil. Um gay como todos dizem hoje e muitos, com muito orgulho até.

– Foi um escândalo. Chapecó era, então, uma cidade interiorana, atrasada, cheia de poeira e cheiro de porco nos ares. Calçamento, só nas ruas centrais. No trânsito, muito Jeep e Picape Willys, que circulavam trazendo barro da colônia e levantando pó pela cidade inteira. Todo mundo parava para olhar os trejeitos daquela figura vestindo calça jeans bem apertada, uma camisa estampada com flores cor-de-rosa, cabelos dourados, olhos sombreados, desfilando acintosamente pela avenida Getúlio Vargas.

– Depois do meio-dia, com aquele jogo de quadril, balançando a bunda, entrou no Café Santa Terezinha, ponto de encontro dos homens de Chapecó, todos machões, como gostavam de dizer e se vangloriar. Foi um alvoroço, uma zoeira, com piadinhas que, hoje, dariam processo por homofobia.

– Segurando a xícara do cafezinho com as pontas do polegar e do indicador, o dedo minguinho esticado para cima, o Robertinho foi até uma mesa, remexeu as mãos como uma dançarina de flamenco e, com uma voz afetada, disse um sonoro boa tarde. O Café inteiro respondeu em coro. Até o Inspiração, o garçom, parou para cumprimentá-lo. Preconceito, se havia, saiu porta afora. Até tiraram foto com o cronista, que prometeu publicá-la na sua coluna social. Por muito tempo, aquela exótica figura foi assunto preferido da turma do cafezinho.

Duas amigas presentes lembravam daquele cronista social, que chegara à cidade para a escolha da Miss Chapecó, a fim de disputar o título da beleza catarinense daquele ano. Esperto, dizia ele que a integração do Extremo-Oeste catarinense à capital e ao restante do Estado deveria começar pela eleição de uma chapecoense como Miss Santa Catarina.

Mas isso é assunto para a próxima crônica.