João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: veranistas do Centro-Oeste

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: veranistas do Centro-Oeste

João José Leal

A grande produção agropecuária do Centro-Oeste, sem dúvida, é fonte de riqueza e prosperidade. Produtores de grãos e criadores de gado daquela região representam uma nova classe de ricos deste país. E novo rico brasileiro, mesmo que não goste de ficar sentado numa cadeira embaixo de um guarda-sol, olhando para o mar e a imensidão atlântica, faz questão de trazer a família para uma temporada no litoral. É preciso acompanhar a moda. Afinal, férias de verão na praia ainda são indicadores de gente rica. Pobre ali, em tempo de veraneio, só vendedor de picolé, bebidas e comidinhas de todo tipo.

Nas minhas caminhadas pelas principais avenidas de Balneário Camboriú, percebo que essa gente brasileira do Centro-Oeste sustentada financeiramente pela força das commodities, com safras de milhões de sacas de soja, algodão e milho e as milhares de cabeças de gado — esses fazendeiros do Brasil Central acostumados ao batente duro da vida no campo das grandes fazendas — são a nova grande força dos veranistas de Balneário Camboriú.

De cor morena, pele brilhante naturalmente bronzeada pela inclemência do astro Sol que não deixa a temperatura baixar dos 30 graus naquela vasta região brasileira do grande agronegócio, chegam em grupo, toda a família para passar alguns dias na badalada Balneário Camboriú. Geralmente, duas ou três famílias, mais de 10 pessoas, pais, filhos, até sogra, porque gente que enriquece na lavoura continua unida, todos juntos para lotar um apartamento de três quartos.

Uns chegam em caminhonetas cabina dupla turbinada, 4 x 4 T, dessas de enfrentar estradas do Pantanal brasileiro, mas difíceis de estacionar nas apertadas garagens do condomínio. Outros esnobam essas ostentosas Range Rover. Afinal, dinheiro da soja faz milagre e os novos ricos deste grande país dos grãos e da carne também se sentem no direito a um tempo de veraneio.

Instalados no apartamento, a palavra de ordem é aproveitar, festar, curtir os encantos da praia e do mar, porque a volta significa trabalho duro durante o resto do ano. São turistas que gostam da arte musical com opção preferencial pelos ídolos sertanejos, desde os clássicos Xitãozinho e Xororó aos modernos Luan Santana, Michel Teló e Gusttavo Lima. No aparelho de som, volume máximo, mais de 100 decibéis, os sucessos musicais dos cantores das festas de peão e dos bailões quebram a monotonia e o silêncio do condomínio.

Para a vizinhança, férias de verão, principalmente, fim de ano e mês de janeiro, é tempo de desassossego, de barulho infernal e de incômodo brabo. O prédio vira um quintal de gente nova, desconhecida, andando pelas áreas comuns com aquele primeiro olhar de surpresa, usando o elevador, que sobe e desce, passando lotado até parar para manutenção. Para o síndico de prédio com apartamentos de aluguel, férias de verão é tempo de falta d’água, de aborrecimento e de muita bronca, tanta que promete entregar o cargo na próxima assembleia.

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