João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Copa do Mundo de 2014: fiasco no futebol e maravilhas do açaí

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Copa do Mundo de 2014: fiasco no futebol e maravilhas do açaí

João José Leal

A Copa do Mundo de 2014, todos sabem, aconteceu neste país das maravilhas sempre prometidas, mas nunca realizadas, em meio a uma série de atos falhos e de dribles para disfarçar as ações generalizadas de corrupção. Para começar, a escolha dos locais para sediar os jogos da fase classificatória foi usada pelo governo Lula fazendo politicagem com a pelota futebolística.

A partir daí, a população assistiu a uma competição de gastos públicos e despesas desnecessárias, descritas em contratos para construção de estádios, alguns deles autênticas arenas do desperdício de recursos públicos e da ociosidade desportiva, cuja licitude ainda é discutida na justiça, por causa do sobrepreço ou péssima qualidade da obra.

Sem dúvida, foi uma história de 10 anos marcada por gastos públicos desnecessários e obras de infraestrutura sobrefaturadas – trens, metrôs e aeroportos – algumas delas construídas pela metade, com boa parte dos recursos desviados para os bolsos de gente sem compromisso com a ética nem com a honestidade. Como vivemos no país das maravilhas alibabescas, ninguém foi responsabilizado. Nessa triste e corrompida nação, não é só ex-presidente, todo mundo é inocente.

Ironia do destino ou cumprimento do ditado popular, “aqui se faz, aqui se paga”, com medo de ser hostilizado e vaiado, o ex-presidente Lula que se vangloriava de ser o Pai da Copa, não teve coragem de comparecer à cerimônia de abertura. Seu poste no poder, a então presidente Dilma, procurou se esconder o quanto pôde. Mas, não evitou as muitas vaias e xingamentos por um público enojado com a corrupção e o custo astronômico do grande espetáculo do futebol mundial. A verdade é que a idiossincrasia popular nem sempre está a fim de aplaudir o “pão e circo” oferecido.

Não bastasse tudo isso, no futebol jogado em campo, aconteceu o grande fiasco dos 7 a 1, na derrota da seleção brasileira para a Alemanha. Foi uma tristeza nacional, uma frustração dolorida que, transferida para o Ibope político, iniciou o processo de insatisfação popular que iria culminar com o impeachment da presidente Dilma um ano depois.

Pouco tempo depois, desembarquei em Salvador, num dos aeroportos construídos para aquela Copa perdida. Como sempre, fui tomar um café. Num quadro, li a propaganda de bar sobre as maravilhas, neste país do futebol, das muitas propriedades do açaí, esse fruto negro de uma palmeira amazônica. Sistema imunológico, colesterol, intestino, circulação sanguínea, infecções, Alzheimer e até câncer, tudo pode melhorar com o açaí no pote. A mensagem ainda dizia: “tome açaí, prolonga a vida e deixa a gente feliz”.

Então pensei comigo: se a seleção canarinho tinha levado uma surra para nunca esquecer e se a crise econômica e política tomava conta da nação, só restava mesmo o açaí para fazer o brasileiro feliz.

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