Corrupção na administração pública, ontem e hoje
Apesar dos ataques de advogados diretamente envolvidos na defesa dos maiores assaltantes do dinheiro público e dos golpes desferidos por alguns ministros do STF, a Operação Lava-Jato consolidou-se como um símbolo da luta pela moralidade, no âmbito da administração pública desta corrompida nação brasileira. Pela primeira vez, os donos do poder político e econômico foram […]
Apesar dos ataques de advogados diretamente envolvidos na defesa dos maiores assaltantes do dinheiro público e dos golpes desferidos por alguns ministros do STF, a Operação Lava-Jato consolidou-se como um símbolo da luta pela moralidade, no âmbito da administração pública desta corrompida nação brasileira. Pela primeira vez, os donos do poder político e econômico foram transformados em réus e condenados por terem se apropriado, criminosamente, de bilionária fortuna dos cofres da República.
A verdade é que a corrupção na área da administração pública é prática que vem de longe, desde os tempos coloniais. O Padre Vieira, em seus célebres sermões já advertia os fiéis sobre os atos de corrupção praticados pelos altos servidores do reino português. Dizia ele que os verdadeiros ladrões são aqueles nomeados pelo rei para administrar e para servir ao povo, mas “roubam os reinos e as cidades”. Com ironia, o Padre Vieira denuncia a perversa contradição e a hipocrisia da sociedade de sua época, não muito diferente de hoje, que aboliu a forca: “os pequenos ladrões, se furtam, são enforcados, os grandes furtam e enforcam”.
Veio a Independência, chegou a República, a velha e a nova. A corrupção continuou infectando o ambiente da administração pública brasileira. Já nos primeiros anos desta nação republicana, Rui Barbosa proclamou sua indignação e tristeza diante de tanta injustiça, de tanto poder nas mãos dos maus administradores e se confessou “desanimado da virtude, de ter vergonha de ser honesto”.
Talvez, naquele primeiro tempo republicano, a corrupção não tivesse ainda alcançado a dimensão dos dias atuais. Mas, já se manifestava com frequência para ser manchete de primeira página, há mais de 100 anos: “Funcionários Prevaricadores”. Assim, em 3 de julho de 1915, a nossa Gazeta Brusquense publicou notícia vinda do Rio de Janeiro, então capital da República, denunciando o pagamento de salários em duplicata ou triplicata pelo Tesouro Federal, por mais de três anos, ao funcionário Pereira Nunes.
Para o jornal, o caso era uma amostra evidente da desídia que imperava no âmbito da administração pública brasileira. A denúncia jornalística continuava assinalando o “vergonhoso desleixo da directoria da despesa pública que não se preocupa com as finanças da nação, pagando indevidamente a um funcionário desonesto que não teve o mínimo de escrúpulo em receber indevidamente salários em duplicidade”.
E, assim chegamos aos tempos atuais com a administração pública sempre conduzida para atender a interesses antirrepublicanos, numa sinistra e nociva parceria público-privada. Sim, porque se, corrupção existe nos bastidores da administração pública, do outro lado do balcão há sempre o particular ou a empresa a estender a mão da improbidade.