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Covid-19 e o agronegócio brasileiro

“Em se plantando, tudo dá”. Pero Vaz de Caminha não escreveu bem assim. Mas, na sua Carta, disse ao rei Dom Manuel que esta “terra em si é de muito bons ares e, de tal maneira, graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem aqui”. Naquele momento da nossa história, […]

“Em se plantando, tudo dá”. Pero Vaz de Caminha não escreveu bem assim. Mas, na sua Carta, disse ao rei Dom Manuel que esta “terra em si é de muito bons ares e, de tal maneira, graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem aqui”. Naquele momento da nossa história, Caminha não tinha ideia da imensidão e da riqueza natural da terra conquistada. Mas, parece que o escrivão da esquadra de Cabral carregava consigo uma bola de cristal. Foi mesmo um verdadeiro profeta. Tanto, que a história econômica brasileira tem confirmado a sua profecia.

Primeiro, foi o Ciclo do Pau-Brasil, até esgotar a nossa reserva florestal dessa árvore que deu nome à nação brasileira. Depois, veio a cana-de-açucar, então preciosa especiaria, cultivada pelas mãos calejadas e sangradas de um exército de escravos negros de dorso lanhado, nas fazendas dos coronéis nordestinos. Mais tarde, já no século 19, porque açúcar e café se completam, foi a vez das imensas plantações que transformaram o Brasil no maior produtor mundial desse grão, também chamado de “ouro verde”.

Agora, é a hora e vez da grande riqueza produzida pelo agronegócio do CentroOeste brasileiro. Quando vemos aquelas modernas e sofisticadas máquinas agrícolas trabalhando em meio a extensas plantações de perder de vista, colhendo milhões de toneladas de grãos, parece que Caminha tinha razão. Realmente, somos um país vocacionado para a agricultura e a produção alimentos.

A nossa Brusque também foi criada para ser uma colônia agrícola. E assim foi até as primeiras décadas do século passado. Tanto que, na sua edição de 19 de dezembro de 1917, a Gazeta Brusquense publicou uma Circular do Joaquim Domingues de Oliveira determinando que os padres da sua Diocese dessem ampla divulgação à Proclamação do presidente República e do ministro da agricultura, pelo “Augmento da Produção Nacional”.

Dizia o bispo que “a vida terrestre dos homens” é um dos fins da Igreja e que os agricultores brasileiros tinham o dever de trabalhar mais para aumentar a produção de alimentos, a fim de evitar ou minimizar os horrores da fome causada pela tragédia da primeira guerra mundial. Não era só uma questão de solidariedade humana. Dom Joaquim também dizia que a demanda por alimentos tinha aumentado muito e os preços eram “altamente compensadores”.

O Brasil, não é mais um país essencialmente agrícola como no passado. A indústria e o setor de serviços são, também, importantes fatores da riqueza econômica brasileira. E Brusque encontrou o caminho da industrialização, com predomínio do setor têxtil e, agora, da confecção.

Hoje, o mundo não está em guerra. Não houve proclamação presidencial nem pedido do bispo para o aumento da produção agrícola nacional, como aconteceu em 1917. No entanto, a Covid-19 é como se fosse uma tragédia mundial. Está causando um enorme estrago nas economias nacionais. Há escassez de alimentos e a fome, que sempre atingiu os povos mais pobres, vai certamente aumentar.

Novamente, como há cem anos, a produção de grãos e carnes, parece despontar como a salvação da economia brasileira.