João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Covid-19, teste falso

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Covid-19, teste falso

João José Leal

Tudo indica que a pandemia está passando mesmo e as pessoas estão saindo da toca. No Mares do Atlântico, as condôminas da terceira idade voltaram às conversas vespertinas, alimentadas pela curiosidade feminina e pelo café com bolos e biscoitos porque fome não tem idade.

Todas fazem questão de traçar o seu lanchezinho vespertino. Uma delas, a Maria do Carmo, sempre a mais gulosa, já confessou para as amigas que, durante a sesteada pós-almoço, chega a sonhar com a fatia de bolo ou de torta, que lhe espera durante as fofocas de cada fim de tarde.

Maria Carolina está retornando aos encontros. Durante esses seis meses de epidemia tinha ficado completamente afastada dos encontros. Medrosa ou cuidadosa, não importa, preferiu falar com as amigas por interfone ou pelo celular. Todas queriam saber dos testes que ela tinha feito por causa da Covid.

– Olha, vocês não imaginam a aflição. Minha filha, que vinha todos os dias me visitar e pegou esse maldito vírus. Passou mal. Foi levada para o hospital e ficou uma semana na UTI. Felizmente, melhorou. Faz uma semana que voltou para casa. Então, foi a vez do meu genro ficar contagiado. Mas, não precisou ir para o hospital. Ficou sendo monitorado pelo pessoal da vigilância, que não dava trégua para o infeliz. Todos os dias, queriam saber da febre, da dor de cabeça e garganta. E, principalmente, se ele estava respirando bem. Só faltaram perguntar, coitado, se ele se dava bem com a sogra.

– Mandaram todas pessoas da família fazer teste. Fiz aquele rápido, de tirar sangue. No dia seguinte, veio o resultado positivo. Logo eu, que vivia me cuidando, que não saía de casa para nada e só tirava a máscara para comer. Entrei em pânico. Parecia um castigo. Imaginem vocês o tormento. Eu, com 72 anos, diabética e asmática, meu marido mais velho, cardiopata e safenado. Já me vi no hospital, na UTI, toda entubada, no caixão, a caminho do cemitério.

– Minha filha não se conformou com o resultado. No dia seguinte, me levou para fazer outro teste, aquele do cotonete, que passam na garganta e no nariz. Só fiz porque estava morrendo de medo. É muito chato. Enfiam um cotonete, que parece com um espeto de churrasquinho de cachorro, daqueles que vendem nas ruas e festa de igreja, no nariz. Dá uma agonia danada. Depois, passam na garganta. Dá vontade de vomitar.

– Então, vem novamente a agonia da espera. Foram dois dias de sufoco, de uma ansiedade desgraçada. À noite, eu sonhava que ardia de febre e que não conseguia respirar. Eu, que já não ia mais à igreja, voltei a rezar que nem condenada. Me agarrei com todos os santos conhecidos. Cheguei a rezar três terços por dia, de joelhos em cima do piso cerâmico.
Veio o resultado. Não sei se foi de tanta reza ou porque esse tal de coronavírus é cheio de mistério mesmo, o teste deu negativo.

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