CPI da Covid: Agora, os investigados investigam
Nossos governantes politizaram a ação de combate à Covid-19. Prefeitos e governadores passaram a usar a imprensa para se promover diante da pandemia. Alguns têm sido acusados por uso criminoso de verbas federais destinadas ao enfrentamento da pandemia. Por sua vez, desde o começo dessa tragédia sanitária, o presidente Bolsonaro tem se comportado com descaso […]
Nossos governantes politizaram a ação de combate à Covid-19. Prefeitos e governadores passaram a usar a imprensa para se promover diante da pandemia. Alguns têm sido acusados por uso criminoso de verbas federais destinadas ao enfrentamento da pandemia. Por sua vez, desde o começo dessa tragédia sanitária, o presidente Bolsonaro tem se comportado com descaso e de forma leviana diante da ação contagiosa da “gripezinha” causada pelo coronavírus.
Penso que esse fato justifica, uma ampla e imparcial investigação pelo Senado Federal, a fim de apurar a responsabilidade política e criminal dos maus governantes. No entanto, a história das CPIs tem sido um repeteco de finais sem resultados convincentes sobre a responsabilidade dos investigados por crimes contra o patrimônio público. Além disso, em meio a uma intensa guerra de versões e acusações, fica difícil acreditar que a CPI da Covid, instalada no Senado na última semana, seja capaz de investigar qualquer fato com o mínimo grau de isenção.
Pela importância da CPI deveria ser integrada por senadores com o mínimo de idoneidade e decência para investigar outros políticos. Mas, preferiram caprichar na escolha de colegas sem autoridade moral para investigar possíveis malfeitos cometidos. Para começo de conversa, colocaram na presidência da CPI um senador que, em 2019, quando governador do grande Estado do Amazonas, teve que abrir a porta da sua residência para a polícia federal prender sua mulher Nejmi Aziz e dois seus irmãos, por apropriação criminosa de recursos da área da saúde.
Por sua vez, o representante do PT na CPI é o senador Humberto Costa conhecido na lista de propinas da Odebrecht pelo codinome de “Drácula”, por causa de envolvimento com a tenebrosa máfia do roubo de sangue da rede pública de hospitais, quando foi ministro da Saúde. Fica difícil aceitar a sua isenção para investigar eventual ato de corrupção cometido por outro político. Outro membro da CPI conhecido do noticiário policial é o senador Jader Barbalho, que também marcou presença na lista de propinas da Odebrecht, com o codinome de “Whiskey”.
Finalmente, a estrela da CPI, o conhecido senador Renan Calheiros, que responde a 9 (fora os já arquivados ou que estão em outros tribunais) inquéritos perante o Supremo Oráculo dos arquivamentos e engavetamentos, das anulações e das decretações de prescrição contra seus privilegiados acusados. Como escreveu J. R. Guzzo, o relator é um dos membros da CPI, dando expediente no nosso Senado Federal, mais enrolados com o Código Penal. Para o jornalista, a nomeação de Renan Calheiros, insulta a dignidade da população brasileira.
Que nação é esta, em que senadores processados por crimes corrupção, são escolhidos para investigar políticos supostamente envolvidos em crimes contra a saúde e o patrimônio público? Para mim, a escolha senatorial representou uma vergonhosa afronta ao mínimo de respeito que o cidadão ainda merece. Mas, se um ministro do STF, declaradamente inimigo e suspeito da Lava-Jato, sentenciou que a suspeição é do seu ex-colega magistrado Sérgio Moro, então, o Senado também pode nomear investigados para investigar possíveis crimes.