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Dia do comerciante de portas abertas

A história do comércio começou com o escambo, um troca-troca de mercadorias, nem sempre fácil de se concretizar, uns querendo trocar trigo por carne, por uma pele de animal ou por uma ferramenta rudimentar. O tempo milenar passou e o desenvolvimento da humanidade muito deve à figura do comerciante. No Brasil, desde os tempos coloniais, […]

A história do comércio começou com o escambo, um troca-troca de mercadorias, nem sempre fácil de se concretizar, uns querendo trocar trigo por carne, por uma pele de animal ou por uma ferramenta rudimentar. O tempo milenar passou e o desenvolvimento da humanidade muito deve à figura do comerciante.

No Brasil, desde os tempos coloniais, popular foi a figura do mascate, comerciante ambulante que percorreu os inóspitos caminhos deste país continental. Da imensidão amazônica, passando pela secura do sertão nordestino, subindo às alturas das minas gerais, rodando pelas coxilhas de perder de vista dos pampas gaúchos, para vender suas mercadorias à grande parte da nossa população, isolada de qualquer aglomerado com cara de cidade, onde, acreditava-se estar a civilização humana. Muitos desses intrépidos vendedores dos caminhos e picadas do interior brasileiro eram de origem árabe e todos apelidados de turcos.

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Marcaram a história brasileira do pequeno comércio, percorrendo rincões perdidos no mapa da geografia política e econômica, ignorados pelos habitantes da cidade. Numa época sem rádio, TV, muito menos internet, além da venda de seus produtos, os mascates foram também os mensageiros das notícias da cidade e do mundo, levadas a uma gente que só escutava a voz dos seus familiares e de poucos vizinhos, além do canto dos pássaros e do berro dos animais.

Diferentemente, meu avô paterno foi comerciante, establecido em Tijucas. Meu pai seguiu-lhe a profissão e eu com ele trabalhei na nossa venda, em Florianópolis, até completar meus 20 anos. Assim, posso dizer que também fui comerciante, dos tempos do armazém de secos e molhados, da venda e das bodegas; o balcão separando dono e freguesia; as tulhas de madeira cheias de arroz, feijão, milho e farinha; o tonel da banha de porco e a gamela de toucinho, num canto junto à parede; o armário-vitrine dos queijos e embutidos; linguiças penduradas num gancho pendente do teto; as prateleiras ostentando latas de conservas e garrafas de bebida; um canto, junto ao balcão, para os pinguços da casa beberem a sua malvada cachaça de todos os dias.

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Atrás do balcão, em frente à balança de dois pratos, o dono da venda pesando meio quilo de banha e carne seca, um quilo de açúcar, outro de arroz, dois de feijão; o polegar e dois dedos da mão a tecendo o embrulho da mercadoria no rústico papel cinzento; o freguês, caderno do fiado na mão para pagar no fim do mês.

Pois é. Ontem, foi comemorado o Dia do Comerciante. Como sempre, lojas e mercados estiveram de portas abertas, à espera dos seus fregueses. Na CDL, me disseram que, neste tempo de crise, trabalhar e ganhar o pão de cada dia é preciso.

Então, escrevi esta crônica para não esquecer que um dia já esfreguei a barriga no balcão de uma venda e homenagear os comerciantes de Brusque, pela sua data.