Dia do Motorista, o caminhão é a minha casa
Para a fé cristã, recheada de lendas e mistérios, um certo Réprobo, natural da Canaã, a “terra prometida” do povo judeu, cansado de lutar por reis que não mereciam a sua fé, decidiu servir aos mais necessitados. De elevada estatura, força descomunal, guerreiro imbatível, passou a transportar nas suas costas pessoas para a travessia de um rio. Fazia um trabalho que, hoje, seria considerado filantrópico, próprio dos clubes de serviço e das modernas ONGs, com direito a medalhas e comendas concedidas por governantes, que adoram premiar a virtude dos seus cidadãos.
Conta a história, ainda, que um dia, o incrédulo gigante quase afundou ao conduzir um menino. Reclamou do descomunal peso daquela pequena, mas tão pesada carga. Então, teria dito que parecia estar a “carregar o mundo em suas costas”. E não era para menos. Estava a transportar a Jesus Cristo que, para os fieis, suporta, nada menos, que o peso do pecado da humanidade. Essa é a história do lendário personagem pagão, espécie de homem-ponte móvel do bem, que um dia se converteu e a que a igreja, mais de quinze séculos depois, canonizou como Cristóvão, o santo carregador de Cristo.
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A história real, se um dia existiu, perdeu-se nas curvas e encruzilhadas do tempo, que tudo apaga e transforma. Sobrou a lenda, alimentada pela força da fé, que move montanhas e cruza os tempos sem necessidade de prova material. E assim, São Cristóvão se tornou padroeiro dos viajantes e caminhantes deste vale terreno cheio de alegrias e amarguras.
Como não se viaja mais a pé, o santo virou padroeiro dos motoristas que, amanhã, deveriam comemorar o seu dia. Mas, motorista não é funcionário público e a festa já foi realizada no último domingo, com aquelas tradicionais procissões motorizadas, quilômetros de caminhão serpenteando pelas ruas e avenidas de muitas cidades deste país, nossa Brusque também marcando presença na carreata da fé cristã e do buzinaço de fazer tremer paredes. Tudo vale a pena para saudar o santo padroeiro.
Amanhã, data já comemorada, pé na estrada e trabalho duro, os motoristas, mais de 4 milhões, passarão o seu dia, oficial por decreto presidencial, na boleia de um caminhão ou de um ônibus. Cumprindo seu labor cigano de rasgar estradas e rodar pelos caminhos desse Brasil continental, estarão costurando o chão desse imenso país para transportar nas costas, volante nas mãos, a produção industrial e agrícola desta nação.
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Um dia aqui, o outro, não se pode saber, o motorista é um nômade sobre rodas, sempre em movimento, que seu destino é incerto, longe de casa, para levar consigo a carga alheia de todos nós. Leva, também, como triste companheira, a saudade da família e dos amigos. Pois, como disse um motorista chamado José, “o caminhão é a minha casa. É aqui que eu vivo”.
Num país com tamanha extensão territorial, sem ferrovias e rodovias mal conservadas, congestionadas de veículos, a nação brasileira muito deve ao motorista. A esse profissional, herói do asfalto, meus parabéns pelo seu Dia, que amanhã será comemorado com as mãos firmes no volante, conduzindo a riqueza e o progresso deste país.