Elegante pobreza do futebol antigo
Foto publicada nesta página, no começo do mês passado, mostra a equipe do clube Carlos Renaux, na porta de um avião DC-3 da Cruzeiro do Sul, embarcando para uma partida de futebol. Todos em pé, olhar sério e fixo na câmera, posando para a posteridade, parte deles ocupa os cinco ou seis degraus da pequena […]
Foto publicada nesta página, no começo do mês passado, mostra a equipe do clube Carlos Renaux, na porta de um avião DC-3 da Cruzeiro do Sul, embarcando para uma partida de futebol. Todos em pé, olhar sério e fixo na câmera, posando para a posteridade, parte deles ocupa os cinco ou seis degraus da pequena escada da aeronave. Os demais, com seus pés de craque sobre a pista que não parece pavimentada.
Não há informação sobre o aeroporto de embarque. Provavelmente, era o antigo campo de aviação, como se dizia naquela época, de Itajaí, onde a Cruzeiro teve linha regular por alguns anos. Nenhuma legenda também sobre a data do voo nem o destino da delegação. Consultei amigos, tricolores de carteirinha do Vovô do futebol catarinense. Disseram-me que, nos anos de 1950, o time viajou duas ou três vezes de avião para jogar em Joaçaba e em Porto Alegre, quando enfrentou a seleção gaúcha.
Na verdade, o que me impressionou mesmo naquele flagrante fotográfico de mais de sessenta anos passados, foi a elegância da indumentária do grupo de atletas e dos poucos cartolas que integravam a embaixada futebolística, como diziam os jornalistas desportivos de então. Todos de paletó, apenas um deles está sem gravata.
O atacante Valdir Borba, conhecido pelo apelido de Branco, além do terno e gravata, aparece vestido com uma longa e elegante capa de gabardine. Há outro, não identificado, que parece estar usando uma gravata-borboleta.
Comparado com o que se vê nas atuais viagens sem fim dos times do futebol brasileiro, aqueles craques do passado pareciam estar vestidos para ir a um baile a rigor, a uma festa de casamento ou importante solenidade oficial.
Hoje, quando vemos um grupo de jovens com tatuagens ostensivas nos braços e pescoço, barbas tipo lenhador, cabelos cortados à moda sioux, raspados até a metade do couro cabeludo, riscas desenhadas à navalha e aquele topete à la Neymar, cada um do seu jeito vestido de camiseta e bermudas, alguns até de calções, tênis nos pés e boné na cabeça das grifes mais caras, não precisamos perguntar a ninguém. É uma equipe de futebol viajando por esse imenso país.
Assim era o futebol às antigas. A grande maioria dos atletas era nativa e pertencia às famílias conhecidas da cidade. Não foram poucos os Appels que vestiram a camisa alviverde do Paysandu. Já o Renaux era tido como o time dos Schaefer, embora seus atletas viessem de diversas famílias brusquenses. Contratados de outras cidades eram poucos e aqui chegavam para ficar. Jogador de futebol como os do Renaux disputava na divisão ou Liga dos profissionais. Mas, trabalhava e jogava ao mesmo tempo. Do futebol, nada ou quase nada ganhava. Se rico ficasse, coisa rara, era com a renda do trabalho fora de campo.
Profissional de verdade, só nos grandes clubes do país e, mesmo assim, também pouco ganhava, comparado aos milhões de euros e dólares pagos a Neymar, Messi e seus milionários companheiros das chuteiras de ouro.